quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sócrates: de Tio Patinhas a Xerife do Inferno!


Sócrates, o nosso Engenheiro das promessas imensas e eternas, do Estado social total, da economia vibrante das décimas e centésimas, da distribuição impagável de Magalhães pelas criancinhas, das grandes e incomensuráveis obras de regime, o homem que tudo fingiu que deu e prometeu aos portugueses, muitas vezes em dobro e triplo, trouxe Portugal até às portas da falência do Estado e do próprio regime.

Sócrates foi neste seu longo consulado o Tio Patinhas, que parecia estar sempre inundado em tanques cheios de dinheiro e podia dar tudo a todos ou fazer tudo quanto quisesse. Nada estava fora do seu alcance e do património que dizia gerir em nome dos portugueses. E se não tinha inventava, mudava de tons a realidade, emendava a mão, torcia números e estatísticas, fazia anúncios de vendedor de ilusões, propagandeava e inventava novas obras de engenharia ou reengenharia financeira pagável bem lá mais para a frente nas próximas décadas e gerações. O homem exauria-se em tantas e tamanhas façanhas majestosas, qual “Rei Sol” desta terceira República socialista e laica para quem o Estado era ele, somente ele e as suas imagens espelhadas de um magnânimo redentor e moderníssimo dinamizador.

Décadas lá bem à frente chegariam as contas de tanta Engenharia e Reengenharia Socrática, o que convinha a tanta dinâmica, tanta vontade de “fazer fazer”, tanta energia inesgotável e tanto voluntarismo obstinado. Do homem que só quer fazer e fazer o que nunca foi feito, mas que não estará lá quando chegarem as facturas imensas de tanta obstinação e “volúpia obreirista”, todos temos agora a nefasta historieta às nossas portas e bolsos.

Só que agora o mesmo Sócrates, o tal indómito corajoso do “faça agora e pague depois, bem depois mesmo”, veio anunciar que o Mundo vai cair em cima de Portugal e dos portugueses que ele governa há seis longos anos se não se refizer a tal história voluntariosa que ele vinha vendendo e se apertarem duramente os cintos dos portugueses obrigados e agradecidos da obra fantástica do Engenheiro. Agora o momento passou do fantástico ao funesto e ao miserável, de muitas vidas de portugueses concidadãos, porque Sócrates tornou-se num Tio Patinhas entrementes morto ou desaparecido.

E vai daí, num dia destes passados, mais propriamente à hora de jantar, entrando pelas casas dos seus queridos e estimados eleitores e outros mais portugueses, o mesmo Sócrates anunciava que se tornara do anterior Tio Patinhas que tinha sido até aí mas, agora, por imposição externa como ele gosta de novamente repetir, no “Xerife do Inferno em Portugal” de 2010 até sabe-se lá quando.

Do Inferno em que ele vai ter de comandar como seu Xerife, muito semelhante ao de Nottingham que tudo tirava aos necessitados para encher cofres do xerifado, tendo como disse com uma estranhíssima fácies uma grande dor de alma, imagine-se, que era a de ir criar aos portugueses, para salvar não se sabe bem o quê, o tal Inferno dos impostos a eito e dos congelamentos e reduções de rendimentos do trabalho. Que dor que temos que ter todos nós da dor de alma do nosso novo inexcedível “Xerife do Inferno”!

Ele até já deve estar provavelmente convertido e a ir à missa da tarde rezar diariamente em defesa dos portugueses a quem vai tirar o coiro e o cabelo e a preparar-se para ir ao confessionário, a fim de poder expiar esses pecados que lhe invadem a sua alma pura e excelsa, e tomar também uma hóstia sagrada que lhe permita aliviar as penas que carrega. Será que o Engenheiro se converteu neste finalmente da nossa vida que ele nos trouxe e também vai pedir a expiação através do confessionário ao Padre Melícias?

Sócrates era o mesmo de sempre ainda quando há poucos dias lá nas terras do Tio Sam dizia que nem quereria o poder porque ele o queimaria agora, e se pudesse zarpava para algum posto dourado numa qualquer empresa das do seu prestimoso regime de favores ou para um qualquer cargo internacional que o seu Estado pudesse fazer o grato favor de lhe facultar, se o PSD fizesse o favor de lhe reprovar o Orçamento de Estado que ainda nem tinha apresentado ao País.

Sócrates diz também que tudo isto, este infernizar da vida dos portugueses que trabalham e lutam para criar os seus filhos e viverem com dignidade sem qualquer destino radioso visível neste horizonte da pequena engenharia orçamental socialista, é a sua última escolha e que só nos fez estas coisitas porque não tinha alternativa. Mas então que andava ele a fazer ainda há poucas semanas quando displicentemente se alimentava de inaugurações de tudo quanto mexia e se aprestava a debitar optimismo e carradas de anti-depressivos do tipo Prozac sobre Portugal e os portugueses mais crédulos?

Quem via o agora “Xerife do Inferno”, da morte do mundo que vendia e que acaba de anunciar nesta altura sem quaisquer vislumbres de futuro e de visão para Portugal, podia assistir ainda há semanas a uma autêntica “empresa” de venda de banha da cobra em pequenas inaugurações de tudo e mais qualquer obra, numa negação visível daquilo que agora o mesmo “Senhor do Fim dos Tempos” veio anunciar que tem necessariamente de
acontecer desde 2010 em diante e sem termo à vista.

Sócrates conduziu Portugal à falência e ao Inferno, e agora quer, ou finge que quer, ser o Xerife desta catástrofe anunciada. Só que esquece que nestes seis anos gastou os recursos dos contribuintes e os muitos e muitos milhões de endividamento externo em obras que ficam para pagar no futuro, que nestas obras favoreceu com contratos de parcerias os vários amigos empresários e banqueiros do seu regime, que colocou milhares de correligionários e apaniguados socialistas em toda a administração e empresas públicas, e que alimentou a rodos de dinheiro público um autêntico fartote de despesismo no Estado, a começar pela sua mais próxima entourage.

Sócrates viveu numa verdadeira bebedeira de poder, paga a peso de milhares de milhões de euros de dívidas que ficarão para as próximas gerações. E trouxe-nos a todos nós, com a sua irresponsável negação da realidade e a sua estranha e mentirosa irrealidade, até às portas do descalabro e do Inferno.

Vamos ver se ele tem agora a tão apregoada coragem de ser o que anunciou que seria: o Xerife do Inferno! E se morre queimado na própria fogueira que trouxe com a sua irresponsável governação e liderança. Que morra pois nessas chamas e liberte Portugal para outras formas de entender o futuro e a esperança dos portugueses!

Os portugueses e Portugal não vão esquecer como o mesmo homem, fautor de grandes operações teatrais de engenharia eleitoral, com promessas aluadas e alucinadas que nunca cumpriu, se tornou de Tio Patinhas em Xerife do Inferno. Do mesmo Inferno a que conduziu as presentes gerações de portugueses, de pais, a filhos e netos, que agora aqui vivem e que desejarão libertar-se rapidamente de tamanho fardo e incorrigível incompetência.

José Pinto Correia, Economista

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Fim do Regime e os Capitães Donatários

Como aqui vim a escrever durante estes mais de dois últimos anos, Portugal esteve a ser conduzido para a tragédia económica, financeira e social. Aqui escrevi já há mais de um ano um artigo que intitulei de “PREC 2009 – Podridão Reaccionária em Curso”, onde defendia que o País estava a caminhar a passos largos para uma situação económica e financeira que seria tragicamente de podridão e de empobrecimento das actuais e futuras gerações.

Chegámos agora em Setembro de 2010 ao ponto final, o da ruptura, em que não há para onde olhar e fugir da triste condição em que todos nós que ficarmos nestas fronteiras nacionais vamos viver.

No topo desta condução política miserável está um homem pequeno, muito pequeno, arrogante, ilusionista, facilmente prestidigitador da realidade, versátil a prometer e a trair a sua palavra. Agora, no limite desta usura das capacidades de confiar dos portugueses que esta indigente governação criou, fruto das copiosas mentiras e encenações, das falsas vitimizações, dos enredos pessoais mal contados e atirados para debaixo dos tapetes do regime, tudo apanágios indesmentíveis do actual Primeiro-Ministro, Portugal está no fim da linha da sobrevivência financeira, económica, e mesmo soberana.

E de mais uma manobra inqualificável, o timoneiro desta obra desgraçada tenta passar as suas responsabilidades para outros, para aqueles que ainda há poucos meses lhe confiaram um plano de salvaguarda desta desdita e do já então previsível toque de finados deste regime.

Agora, em meios de Outubro de 2010, o que está na ordem dos termos desta conjuntura é não apenas um qualquer Orçamento de Estado mas, isso sim, a salvaguarda da natureza e da vigência do actual regime político. Mas porquê?

Porque agora não é mais sustentável aguentar uma comunidade de políticos de esquerda que, tendo governado Portugal durante mais de uma década, desfiguraram os valores e os comportamentos morais que a Nação considera aceitáveis, que se instituíram regalias e direitos injustificáveis, que desbarataram despudoradamente os dinheiros dos contribuintes, que aumentaram enormemente os impostos para fazerem deles o que entenderam, que viveram pendurados no Estado de que se tornaram seus absolutos capitães donatários.

O regime destes senhores da esquerda nacional, socialistas como se qualificam, criou uma cornucópia de imoralidades e de desbaratamento dos recursos nacionais, com uma enorme corte de correligionários e apaniguados montados na coisa e dinheiros públicos, e decidindo obras majestosas que transportam encargos incomportáveis para as próximas décadas e gerações de portugueses. E que condenam, numa despreocupada indiferença de justiça para com os mais fracos, ao empobrecimento as novas camadas de pensionistas e reformados aos quais o Estado não poderá futuramente garantir os níveis anteriores de rendimentos que atribuiu a outras gerações.

Perante este absoluto descalabro do regime, servido pela constante narrativa dos direitos inalienáveis e pela raiz utópica que a actual Constituição contém, que fazem ou dizem muitos dos principais dignitários ou donatários desse regime?

Mário Soares, que até há poucos meses estava indiferente e defensor da governação actual do seu camarada Sócrates, vem agora dizer repentinamente que a situação é muito séria. E que é necessário haver um entendimento para o tal Orçamento salvador.

E os tais paradigmas que ele defendia como necessários para um novo socialismo democrático na Europa e em Portugal e as responsabilidades desta condução mentirosa e para a tragédia ficam com quem?

Será que o Dr. Soares pensa agora de uma penada e viravolta que tudo isso fica apenas com o PSD e o Dr. Passos Coelho que deverá aceitar os ditames do Engenheiro Sócrates que até está a fazer o que é necessário imagine-se?

Mas também o antigo Presidente Jorge Sampaio, outro socialista bem à esquerda e que agora patrocina a candidatura do poeta Alegre a Belém, vem agora dizer bem alto e a plenos pulmões que estamos sobre uma linha ténue e que agora “já não existe mais vida para além do défice”. E que tudo está bem mais do lado do PSD e do Dr. Passos Coelho.

É este em inícios de Outubro, e deste Outono na nossa vida nacional e do seu regime, o coro diário e agora mediaticamente bem audível dos principais capitães donatários do regime, que agora acordaram da sua sonolência para os entendimentos indispensáveis de salvação da Pátria. Para a tal “Hora da Verdade” da Dra. Manuela Ferreira Leite de Setembro de 2009, lembrar-se-ão?

Mas estes são os mesmos donatários do regime, a que se juntam outros e outros mais menores na sua doação ao sistema que governa, que nada dizem agora como não disseram ao longo de todos estes últimos anos de governação socrática, sobre a respectiva volúpia dos gastos do estado socialista do Engenheiro Sócrates, das suas tendências megalómanas que deixarão o país entregue nas próximas décadas ao pagamento de dívidas colossais e ao de uma divida pública que terá encargos de juros anuais superiores ao que serão nessas datas as despesas de educação (5 ou mais mil milhões de juros ao ano em mais de uma década provavelmente), que certamente impedirão muita despesa iminentemente social, como o aumento aceitável e justo das pensões e reformas mais frágeis, ou tornarão improváveis muitos pequenos investimentos públicos reprodutivos e de proximidade nas nossas cidades e vilas de norte a sul, ou colocarão em causa certamente o sustento dos aumentos das despesas com o Serviço Nacional de Saúde ou com o Sistema Público da Educação.

Estas “boas almas salvadoras da Pátria”, os tais capitães donatários do regime e os seus adjuntos menores nesta salvação de vigésima quinta hora, que agora acordaram para o toque de finados da prestação socrática e socialista, e que assim vêem ameaçado o seu regime de um Estado superpotente e assistencialista que sempre defenderam em nome das utopias constitucionais e ideológicas que professaram e professam, querem agora “levantar-se de novo no seu esplendor” dos direitos inesgotáveis e graciosos – pagos pela falta de iniciativa, de economia e competitividade, de trabalho, de deveres e responsabilidades.
Chegaram tarde estes arautos do compromisso e da coesão, da ética da responsabilidade, da táctica de salvação temporária da República Portuguesa!

Portugal exige, tem de exigir, muito mais ao Governo e ao seu Engenheiro líder. A hora é a de cumprir Portugal e a de obrigar o Primeiro-Ministro a governar o País em nome dos interesses dos portugueses e não dos seus e da sua sobrevivência agora ou amanhã nos corredores do poder. Porque o Engenheiro socialista conduziu Portugal, com a sua teimosia, o seu ilusionismo, a sua inveracidade, a sua obstinação, e a sua falta completa de estratégia e de sentido de Estado e do futuro dos portugueses, a uma situação de tragédia anunciada.

Aos ditos capitães donatários do regime que agora se perfilam nos meios de comunicação, como os antigos Presidentes Mário Soares ou Jorge Sampaio, que são e sempre serão socialistas e correligionários políticos do actual Primeiro-Ministro, o que deveriam fazer agora, se ainda pensam poder salvar o seu regime, é toda a pressão sobre o seu camarada Engenheiro Sócrates para que negoceie com todos os que querem apresentar caminhos de futuro para Portugal, e sobretudo com aqueles que têm uma estratégia que permita inverter o caminho suicidário em que o País foi colocado. Está na hora, isso sim, de Sócrates assumir aquilo que deve e de respeitar escrupulosamente os deveres e os compromissos que vai ter de assumir não apenas com a oposição política parlamentar mas com o País e os portugueses. Por uma vez terá de ser assim estrita e obrigatoriamente!

José Pinto Correia, Economista

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

República, Orçamento e Ética da Responsabilidade

Comemoraram-se ontem os cem anos da implantação da 1ª República, com cerimónias oficiais que habitualmente servem para os principais líderes políticos se dirigirem ao País. Foi o que ali fizeram uma vez mais o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, nomeadamente.

O momento que atravessa hoje a República Portuguesa não é bom como agora todos ficámos recentemente a saber pelas palavras e anúncios do Governo, palavras e notícias que foram sendo sempre adiadas e negadas ao longo do último ano, pelo menos.

Aconteceu que as palavras mais ouvidas e proclamadas naqueles discursos oficiais de ontem foram as da coesão nacional, a do compromisso, a da convergência, e ainda também as do bom senso e responsabilidade.

Ao que agora se diz nos diversos cantos políticos sem excepção o momento desta nova República é bem inquietante, muito sério e, porventura, mesmo dilemático.

A ética da responsabilidade é então o conceito da ordem do dia, sem que os que a pronunciam e proclamam tenham o cuidado e o rigor de definirem com propriedade o que significam os termos do mesmo: ética e responsabilidade.

Desde logo, porque a ética tem como substância um conjunto inabalável de princípios, códigos de valorização do bem e do mal, do certo e do errado, da verdade e da mentira, da justiça e da injustiça, da equidade e da iniquidade, da honorabilidade e da desonra, da lealdade e da traição. E porque, depois, a responsabilidade que lhe vem associada significa, desde início, a capacidade de dar respostas, mas também de assumir resultados e a sua falta, os sucessos ou os insucessos, de prestar contas e fazer balanços, de agir em tempo útil, do rigor e da eficiência, e ainda o dar transparência das respectivas acções e inacções.

Acontece, contudo, que pela prática política, pelos resultados alcançados e a sua assunção, pela ocultação sucessiva de muitos dos dados da realidade nacional, em que o actual Primeiro-Ministro e o seu Ministro das Finanças, nomeadamente, têm sido pródigos, muita desta ética da responsabilidade cai que nem uma luva enorme e pesada sobre as mãos e as faces desses principais responsáveis do Governo em funções.

Desde logo e à cabeça a tal ética da responsabilidade deveria ser exigida ao actual Primeiro-Ministro e ao Ministro das Finanças, o primeiro como máximo responsável, e o segundo como o principal intérprete e actor das contas públicas nacionais e da respectiva situação financeira insustentável que o País ficou a saber agora que vive em 2010.

É pois sobre o Governo que deve recair em primeiro lugar a ética da responsabilidade, que tenha tradução efectiva na vontade de chegar a compromissos, na apologia da verdade das contas apresentadas, na transparência na prestação das acções e mandatos anteriores, e ainda também na demonstração do tal bom senso, seja lá em bom rigor e objectividade o que isso queira significar.

Agora em Outubro de 2010, mais de um ano depois das eleições legislativas que permitiram ao Engenheiro Sócrates continuar a governar como quis, quando se ouvem murmúrios troantes e vozes várias empenhadas em procurar transferir o ónus da tal ética da responsabilidade para a oposição à direita do PS, porque a da esquerda nem parece contar para esses arautos da estabilidade a todo o preço, isso parece simplesmente demais e configura uma inversão dos termos de um contrato negocial como é aquele que vai estar proximamente perante os portugueses na nossa Assembleia da República.

Não podem haver bloqueios antecipados à negociação política, que deverá ser feita democraticamente perante todos os portugueses que são os seus destinatários e alvos principais, e devem poder vir à liça as naturais diferenças de entendimento e de propostas políticas e orçamentais sobre as opções e os caminhos possíveis para Portugal nesta hora dificílima em que o Governo colocou o País. Só que para esta negociação difícil é necessário não esquecer e também ter bem presentes as características pessoais do líder do Governo que têm ficado bem visíveis nos vários anos de mandato governativo que ele já tem.

Negociação não é nem pode ser para os portugueses a imposição de um modelo único, de uma única solução, de certas medidas e não outras alternativas. Portugal merece agora nesta hora dilemática que os seus protagonistas políticos mandatados discutam as diversas soluções e caminhos que o País terá de trilhar e aceitar para ter um novo rumo de esperança no seu futuro colectivo.

O que se percebe em muitas vozes que ecoam já na praça pública, antes mesmo de ser conhecido o projecto de Orçamento de Estado que o Governo está obrigado a apresentar à Assembleia da República, é a tentativa de impor subliminarmente que este princípio de gestão da coisa nacional que de denomina como ética da responsabilidade deve vir a desaguar numa formal aprovação desse Orçamento, qualquer que seja o seu conteúdo efectivo. O qual ainda se desconhece até agora no seu essencial, pois que apenas foram anunciadas pelo Governo, no final de um Conselho de Ministros, algumas das medidas e propostas que aumentam impostos, reduzem salários e prestações sociais, ou congelam pensões. O que convenhamos, ainda que sendo tudo quanto o Governo desmentia até há bem pouco como sendo necessidades face ao PEC II aprovado em Maio passado, é mesmo assim ainda apenas uma parte do que aquele instrumento de governação do Estado tem realmente de ser.

Por isso, não podemos esquecer-nos, nesta apressada tentativa de aprovar um Orçamento para 2011, dos elementos que definem o perfil da liderança do Governo que nos tem vindo a ser apresentado pelo seu responsável máximo, o Engenheiro José Sócrates. Poucas dúvidas haverá hoje em muitos de nós de que o actual Primeiro-Ministro sofre de amplas limitações no domínio da confiabilidade, da veracidade, e até mesmo da própria legitimidade com que tem vindo a conduzir os negócios de Estado e os destinos dos portugueses.

Quem poderá hoje associar o Primeiro-Ministro aos bons e sãos princípios de uma liderança política que seriam os da lealdade, da equidade, da justiça, da integridade, da honestidade e da confiança?

Estes são os princípios que definem e orientam uma liderança política eticamente responsável e que tanto a podem fazer oscilar para o lado da estabilidade, se mantidos escrupulosamente ao longo do tempo de mandato, como para o lado da desintegração e da destruição se forem continuadamente desprezados nesse mesmo período de condução da vida política. Uma liderança eficaz a prazo implica, por conseguinte, que os líderes principais sejam portadores de princípios reconhecidos, sendo que esses princípios devem constituir os pontos cardeais da acção política desses líderes. O que se deve esperar destes líderes políticos é que se movam segundo os princípios que enunciem publicamente, que estes tenham uma base moral maioritariamente aceite, que conduzam as suas escolhas e acções segundo essas bases morais, e estejam sempre disponíveis para se sujeitarem ao escrutínio público responsabilizando-se perante os seus eleitores pelas suas escolhas e as consequências gerais que delas decorrem.

Ora, José Sócrates mostrou ser tudo menos um líder confiável, que honra os seus compromissos e propósitos, que não muda ao sabor das circunstâncias que se abatem sobre a sua intransigência e obstinação, que é capaz de lidar com a realidade quando ela desfaz dia a dia a sua ilusória vontade de agir, razões estas que são mais que suficientes para que agora o País e os portugueses lhe imponham um mandato orçamental muito exigente. E que este mandato contenha medidas e acções que estimulem e salvaguardem a economia, o nível de vida das famílias, e as condições de dignidade dos mais pobres, ao mesmo tempo que tenha elementos consequentes com a indispensável redução das despesas públicas, tão obrigatórias para que as finanças nacionais resgatem a credibilidade perdida nestes dois últimos anos de Governo e se enderecem para uma trajectória de efectiva consolidação pela redução dos encargos.

O Governo deve vir a ter aprovado um orçamento para 2011, mas um bom orçamento, que faça o que é imprescindível fazer face à situação a que se chegou, mas com a devida e rigorosa salvaguarda dos equilíbrios económicos e sociais que tentem defender as condições de vida das famílias e das empresas portuguesas – porque é da saúde e do vigor destas que dependerá a esperança de vir a ter um Portugal melhor no futuro.

Nota Explicativa: Alexis de Tocqueville, diplomata francês, analisou há mais de 150 anos a realidade democrática americana num livro que ficou como sendo um dos textos básicos da ciência política dos dias de hoje (“A Democracia na América”). Dizia ele a certa altura o seguinte: “Muita gente, na Europa, pensa sem o dizer ou diz sem o pensar, que uma das grandes vantagens do sufrágio universal é a de colocar homens dignos da confiança do povo na direcção dos assuntos públicos. O povo não seria capaz de governar-se a si próprio, dizem, mas deseja sinceramente o bem do Estado, e o seu instinto nunca falha quando se trata de designar para exercer o poder aqueles que estão animados do mesmo desejo e são mais capazes.
Quanto a mim, o que vi na América não me leva de modo algum a pensar que assim seja. Quando cheguei aos Estados-Unidos, fiquei surpreendido ao ver quanto mérito havia entre os governados, e quão pouco se encontrava nos governantes. É um facto notório que hoje, nos Estados-Unidos, os homens mais notáveis raramente são chamados a exercer funções públicas e é forçoso reconhecer que isto se foi acentuando à medida que a democracia ultrapassava todas as suas antigas limitações. É evidente que, nos últimos cinquenta anos, a raça dos homens de Estado americanos escasseia notavelmente” (A Democracia na América, Alexis de Tocqueville, Livro I, 1835).

José Pinto Correia, Economista