terça-feira, 31 de agosto de 2010

Governo Zero ou “Milesimal”

Quem quiser ter um entendimento do nível da governação actual e do que o país e os portugueses podem esperar nas suas vidas do impasse em que se vive deve fazer o seguinte conjunto de perguntas e tentar dar as respostas que a presente situação pode dar-lhes. Vamos então a algumas dessas perguntas.

Que Governo tem Portugal e qual a sua capacidade de governar? Como governa o Senhor Engenheiro Sócrates? Qual a sua estratégia, objectivos e metas e o destino que tem para o país? Como avalia os resultados das suas acções e políticas? Como enfrenta a crise do desemprego e da falta de crescimento económico? Que anúncio faz das suas opções orçamentais para 2011? O que quer dos agentes económicos empresariais privados e dos investidores estrangeiros? Como incentiva a criação de novas empresas e o aparecimento de novas iniciativas que criem empregos e actividades produtivas para mercados? O que quer fazer do Estado? Na educação, na saúde, na justiça, nas forças armadas, na política externa? Como vai reinventar a administração pública e diminuir o seu peso económico e orçamental? Para que vai servir o controle do défice orçamental e como vai ser feito? Apenas com novos aumentos de impostos ou com efectiva e racional redução das despesas? Com eventuais reduções de organismos, com fusões de entidades públicas administrativas, com reorganizações profundas das estruturas e quadros de pessoal? Com novos modelos de gestão, com planeamento estratégico, com orçamentação de base zero ou por objectivos, com orçamentos-programa? Com um verdadeiro exercício de prazo longo, dirigido ao mais alto nível governamental? Com estudos sérios envolvendo os próprios destinatários, definindo etapas e metas concretas?

Isto tudo, e as respostas sustentadas para estas questões, seria provavelmente parte integrante e fundamental de um caderno de encargos de um Governo sério que pensasse nos graves problemas nacionais e não apenas em propaganda bacoca e inverosímil que alardeia qualquer estatística por miserável que seja como um grande apanágio da sua obra.

Mas bem ao contrário disso, o Governo do Senhor Engenheiro, e ele mesmo assiduamente como cabeça falante desse Governo tanto na opinião publica como até mesmo no Parlamento, chama por qualquer décima ou mesmo milésima de um qualquer dado estatístico para dar ilusões aos portugueses de que o rectângulo é um mar de rosas. Manobra baixo o governante, com desfaçatez e despudor, tentando continuar a iludir e a negar a realidade que é tristemente difícil e com esta negação superior praticamente insuperável.

Politicamente e no que respeita à concepção de uma verdadeira estratégia que defina um caminho consequente de saída desta enorme crise de sobrevivência para Portugal, que é indiscutivelmente real, o Governo Rosa, do “Zero ou Milesimal” que trata com tanto primor as décimas e as milésimas mesmo, nada tem já para nos apresentar. O Governo do Engenheiro “destemido e omnipresente” apenas sobrevive ligado a uma máquina de ventilação que infelizmente vai empurrar o país para uma maior proximidade do abismo. E esta modorra política e de regime é fruto de um sistema de forças políticas partidárias que se anulam à esquerda e à direita e de um Presidente da República em exercício que tacticamente optou por ser reeleito em vez de promover uma atempada e indispensável clarificação, tanto do sistema político quanto, porventura, até do degradado regime.
Portugal vai, deste modo, apodrecer durante mais seis a sete meses, até meio de 2011 pelo menos, sem um Governo com vontade e estratégia política para enfrentar categoricamente a crise gravíssima e sem que se formem as coligações de forças políticas e partidárias que tenham essa vontade e estratégia. E também para que pudessem enfrentar ou mesmo por em causa muitos dos bloqueios de regime que vêm fazendo com que o país não tenha capacidade de promover o crescimento económico criador de riqueza e os empregos que possam dar esperança às centenas de milhares de desempregados e de jovens que vão chegar ao mercado de emprego.

Sem um novo Governo, sem outra vontade e estratégia política, sem reformas de muitos dos sistemas que constituem o Estado omnipotente e omnipresente, sem novos protagonistas e ideias políticas sérias e que mudem os alicerces do regime que já se condenou a si-mesmo, Portugal e os portugueses não podem ter fundamentadas esperanças de que o seu futuro e o dos seus filhos e netos será melhor e mais digno do que este presente decadente em que o país se vem tão profundamente afundando.

Nota de Interpretação: “Compreende-se que a centralização governamental adquire uma força imensa quando se associa à centralização administrativa. Por este processo, ela habitua os homens a abdicarem da vontade por completo e continuadamente, a obedecerem, não uma vez e sobre um ponto determinado, mas para sempre e em todos os pontos. Não somente os domina pela força mas paralisa-os pelo hábito; isola-os e agarra-os em seguida um a um, no meio de massa comum” (em Alexis de Tocqueville, “A Democracia na América”, Livro I, 1835).

José Pinto Correia, Economista

terça-feira, 24 de agosto de 2010

“Roma” a Arder, “Reizinhos” a Banhos!


O quadrado/rectângulo ocidental desta Europa, a “Roma” onde estamos, arde vergonhosamente de ponta a ponta, de fio a pavio. As chamas do caos e da loucura irromperam de lés a lés.

Não se entendem já de qualquer modo as diferentes forças em presença no terreno de operações do fazer e promover justiça.

Bradam uns, lamentam-se outros. Estendem-se mangueiras de um lado, acendem-se fósforos em tufos de algodão de outro. Uns parecem polícias, outros ladrões. Falam, ditam, transcrevem, enunciam, emendam, desmentem, confirmam, infirmam, juram, perjuram, indagam, escondem, silenciam, troam – entram e saem de cena grandes figuras, figurões mesmo.

Hoje as notícias dizem algo desconhecido, amanhã aumentam, depois e depois deslindam mais e mais. Novidades há-as todos dias aos montes, e novas parangonas e outros ditos e desditos, confirmações, reconfirmações, juras e mais juras.

Alvíssaras dar-se-iam para quem entenda o mínimo desta transa, deste imenso mar de rosas murchas, de uma vidinha democrática cheia e radiosa, trinta e seis verões passados do último sobressalto cívico no quadradinho.

Quem quer desejar voltar a ver novamente o boneco lá pelas entranhas? Quanto tarda para que a malta se agigante num qualquer renovar de tamanho reencantamento? Talvez que os carneirinhos já nem se cuidem de tal estado de coisinhas em que a sorte se tresleu, mas isso em qualquer caso é sinal grotesco para estes tempos do regime.

E a boa sociedade, que é feito dela? A da afamada justiça, aquela que daria tratamento devido às impurezas e vilanias, às mentiras e aviltamentos, à cobiça e soberba, à corrupção dos corpos, dos bolsos e das almas? Aquela senhora que faria o justo com os fracos de fraqueza imprópria e imposta, com os pobres que o são sem o quererem, com os válidos que são grandes por seu carácter e méritos, com os ricos que são beneméritos e impolutos? Onde está então essa boa sociedade, e essa sua noção ímpar e sensata de justiça? Morreu, fugiu para parte incerta, desapareceu ou inexistiu de facto?

Quem quer que olhe aos magistrados do topo do regime desta “Roma” que arde sem dó nem piedade não encontra essa razão maior de um regime político: a justiça.

Ela não está nem na Presidência da República, nem no chefe do Governo, nem na Procuradoria-geral da República!

“Roma” está a arder por todos estes dias despudoradamente, e os “Reizinhos” do regime estão, convivialmente, a banhos lá para o Sul. E voam baixinho, muito baixinho, ninguém os ouve, não vá algum mal vir-lhes do mundo para as suas excelentíssimas vidas.

Estamos pois nós todos, do povo que os elegeu com base no seu poder soberano que assim se esvaiu, a contas com o inferno das chamas desta “Acrópole” e os plenipotenciários em fuga e negação, entre as boas águas do Algarve e quejandas.

A terrinha onde nós vivemos já nada lhes suscita, excelsas criaturas que nos mandam encarneirar. Contar, contar mesmo, para tamanhas magnificências, só a sobrevivência das potestades nos seus lugares, enquanto os registos da táctica da reeleição de um, da manutenção no “poleirinho” de outro, e a sobrevivência na guerra sem trincheiras na Procuradoria para o último, ditarem as inacções, os silêncios, e as falsas partidas.

Quem não quiser esta lindeza de registos e estes avatares do regime que faça o favor ou de se desligar ou de partir à procura de mares de antes por ancestrais navegados. Boa sorte nessa proeza de viver, pois então…!

Nota de Interpretação: “Vontade nacional é uma das expressões de que mais têm abusado os intrigantes de todos os tempos e os déspotas de todas as épocas. (…) Há até quem a tenha identificado com o silêncio dos povos tirando como conclusão que o direito de comandar se justifica pelo facto de ser obedecido” (“A Democracia na América”, Alexis de Tocqueville, Capítulo III: Um Povo Soberano).

José Pinto Correia, Economista

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Santa Aliança: Madail e Laurentino (M&L)

Laurentino e Madail são os maiores do nosso futebol. Mandam, comandam e desmandam. Eles são estrategas, guerreiros, generais, samurais, semi-deuses, talvez mesmo deuses. Vencem e convencem. Pensam e repensam, definem caminhos, edificam soluções, tudo o que engrandece o nosso futebol nacional. Eles repousam no Além, onde tudo é eterno e incomensurável. São dignos de adoração estes nossos deuses do desporto-rei.

Somos pois todos nós grandes neste desporto, dos maiores de todo o mundo, invencíveis e invulneráveis em qualquer campo e batalha. Temos aqueles dois líderes de um calibre inigualável: no Governo e na FPF. Laurentino e Madail: “A Díade Luminosa”!

Por isso, se alguma coisa corre menos bem no nosso futebol nada lhes pode ser atribuído. Eles têm de sarar, de sanar, de sanear as feridas abertas. O que importa mesmo é que não restem quaisquer dúvidas, por mínimas que sejam, de que aqueles prestimosos dirigentes repuseram ou vão repor o futebol luso de novo no bom caminho. Nem que para tal seja eventualmente necessário produzir uma qualquer “inventona” ou intentona contra um qualquer senhor treinador, sem qualquer lustro e magnificência, temeroso e racionalista em demasia, que barre essa caminhada luminosa rumo ao futuro da vitória. Nike é, tem de voltar a ser, a deusa-mãe destes novos tempos, por consequência.

O povo, o grande e sábio povo do futebol nacional, aquela mole humana que enfrenta todos os desafios e dissabores em honra da ditosa selecção de todos nós, comprará provavelmente mais uma narrativa grandiosa de um novo alvorecer. Ganharemos tudo à partida como sempre, uma vez mais, só há que lavar a casa e extirpar o incómodo. No caso vertente esse “tumor pestilento” chama-se Carlos Queirós, e não percebe nada de futebol, não tem perfil de treinador, não teve passado e não terá futuro, não sabe liderar, é malcriado e desbocado, um “canalha”, portanto, que não tem a menor estatura para continuar ao leme de tão grandioso barco luso. Será apeado obviamente em nome dos mais elevados interesses da Nação e da Santa Aliança que ainda em tempo se deu à forja.

Madail e Laurentino, esses insignes, esses virtuosos e decentes em extremo, continuarão na proa da Nau por mais uns bons anos. Prometendo e gastando e gastando o que for preciso para darem ao nosso “povão futebolístico e futeboleiro” novos desígnios, alvitrando sonhos e ilusões que nem cabem no nosso jardim do éden. E até se enlaçarão num providencialíssimo qualquer Campeonato do Mundo de Futebol organizado sob a égide protectora dos nossos vizinhos, que à nossa gentalha será servido em denodadíssima bandeja dourada.

O resto, aquilo pequeníssimo: as estruturas, a seriedade das competições nacionais, a preparação e formação de novos jogadores de selecção, o profissionalismo federativo, ou as políticas desportivas efectivas – isso serão contas de outros rosários que não influenciam o caminho dos nossos deuses do futebol, nem vêm ao talhe de uma qualquer foice.

Madail e Laurentino são o melhor que temos e teremos, uma Santíssima Aliança de “Grandes Almas” que salvarão o nosso futebol nacional…! Eles são os sumos e óptimos deuses, potentíssimos, omnipotentíssimos, misericordiosíssimos e justíssimos, secretíssimos e presentíssimos, belíssimos e fortíssimos, estáveis e inapreensíveis, imutáveis e mudando todas as coisas, nunca novos, nunca velhos, renovando todas as coisas, sempre em acção e sempre quietos, sustentando, e enchendo, e protegendo, criando, e alimentando, e completando, procurando (obrigado a Santo Agostinho que assim via o “Mais do Mais” há muitos séculos).

Deus seja louvado por nos dar semelhante benesse, sapiência e prudência com estes Madail e Laurentino (M&L, o nosso “Mel e Leite” como na Bíblia Sagrada)!

J. Pinto Correia, Economista