quinta-feira, 31 de julho de 2008

O nosso Desportolinho futebolístico

Dizem os trabalhos académicos de economia do desporto que têm sido publicados em outras paragens – que cá isso de ciência económica no desporto é perigoso e pecado –, portanto fora do nosso pequeno burgo, que os interesses financeiros e de competição dos diferentes clubes de futebol inscritos nas competições das respectivas ligas profissionais ficam melhor acautelados quando as negociações da cedência dos direitos de transmissão são negociados colectivamente entre a respectiva liga representante e as empresas de media neles interessadas.

Nesta negociação colectiva, que é mesmo imposta em vários países, ficam não apenas bem os interesses dos grandes clubes como também, e ao mesmo tempo, os de todos os restantes clubes que na maioria dos casos não podem almejar ganhar as respectivas competições ou mesmo qualificarem-se para as competições internacionais, designadamente as europeias da UEFA.

Ainda há pouco mais de uma semana a autoridade da concorrência na Alemanha acabou por se pronunciar, e esse pronunciamento era exigido e imperou na solução final, sobre as negociações que decorriam para a negociação pela respectiva liga profissional dos direitos de transmissão. E a autoridade impôs na negociação regras que conformassem o acordo e o negócio respectivo com as regras de concorrência, evitando a configuração de abuso de posição ou monopólio.

Em Portugal, outros ares portanto, nem a autoridade se pronuncia ou pronunciou, nem muito menos a negociação segue aquela via colectiva em que as partes sejam efectivamente os clubes agregados pela respectiva liga, de um lado, e as empresas de media interessadas, de outro.

Aqui existe um monopólio intermédio, e intermediário, a Olivedesportos, que é simultaneamente detentora do negócio de “pay-TV” da “Sportv”, que detém os direitos adquiridos à liga e os renegoceia, com elevada margem de intermediação certamente, em leilão a que concorrem as empresas de media interessadas. E os clubes neste negócio terceiro não são tidos nem achados e recebem qualquer cêntimo dessa mais-valia negocial.

Acresce a tudo isto que a empresa que acaba por ganhar a negociação com a Olivedesportos é nem mais nem menos a empresa pública de televisão que é paga em grande parte pelos impostos dos portugueses. Sendo ainda que ao que parece o valor de aquisição destes direitos é de mais de 8 milhões de euros ao ano e são ainda dados ao monopólio vendedor pela RTP direitos de retransmissão de um outro pacote adquirido pela mesma televisão, uma vez mais como o dinheiro dos portugueses.

Convenhamos que assim o monopólio privado da Olivedesportos tem de agradecer o seu potencial ao nosso Estado e à sua televisão – os quais mostram a respectiva prontidão, à vontade e extremosa generosidade indo aos bolsos de todos os pagadores de impostos do burgo.

Caramba, puxa que é obra! E ainda se fala ministerialmente em cada aparição televisiva do magnânime “interesse público” e do não menos prevalecente “serviço público” (de televisão, entenda-se no caso presente).

Algo vai mal, mesmo muito mal, neste pequeno “reino”…!

Sem comentários :