“O Homem é por natureza um animal político” (Aristóteles, Política)
Temos vindo a assistir com alguma frequência nos últimos meses a argumentos que procuram separar o desporto, melhor os Jogos Olímpicos, que são tão-somente o maior e mais globalizado evento humano e desportivo por excelência, da política, do mundo da política e dos políticos e das suas racionalidades, interesses particulares e modos de pensar a natureza humana.
Estes argumentos procuram isolar o desporto enquanto actividade humana, dando-lhe características especiais que o eximem à sua imersão no espaço público e o separam das lógicas da política e dos seus intérpretes por missão que são os políticos.
O desporto seria, assim, neste argumentário pretensamente não ideológico, uma actividade ímpar de uma nobreza altiva, assente num pedestal Olímpico onde pululam os respectivos “deuses” e inacessível aos interesses e opções mesquinhas e terreais do denominado submundo político.
Na linha deste “ideário”, do submundo político, porque imerso em intenções malsãs, só pode esperar-se que transmita ao desporto perturbações, conflitualidade desprezível, maniqueísmos valorativos disfarçados de “direitos humanos” que serão actualmente relativos e contextual e culturalmente dissemelhantes. Enfim, a política prostituiria o inefável e incorruptível “mundo desportivo” e os Jogos Olímpicos que deixariam por essa má influência e intromissão de ser um mundo maravilhoso de superação e exaltação da gesta humana do “citius, altius e fortius”.
Os argumentos que fundamentam ou procuram sustentar esta forma de ver o desporto e a política têm cultores nomeadamente entre alguns dos dirigentes das próprias estruturas representativas do “Movimento Olímpico”.
E em Portugal os mais entusiásticos propaladores dessa despolitização e amoralidade desportiva têm sido os dirigentes do Comité Olímpico de Portugal com o seu Presidente longevo à cabeça. Não passa praticamente semana em que não sejam renovados argumentos de que o desporto e a política são inconciliáveis ou devem estar separados seguindo cada um o seu caminho.
Mas são esses mesmos dirigentes que em cada oportunidade exploram a transitoriedade dos políticos e sua fragilidade gestionária e estratégica para recolherem os apoios do Estado e governo respectivos, sempre tão necessários à sua tendência e projectos de perpetuação no topo das estruturas do poder desportivo.
O mesmo se diga das recentes afirmações dos dirigentes políticos chineses que procuram despolitizar os seus Jogos Olímpicos e assim evitarem as referências e as críticas internacionais à natureza do respectivo regime político.
Por um lado, ao organizar o evento global que são os Jogos a China pretende dar de si-mesma uma imagem poderosa e geoestratégica de afirmação mundial, posicionando-se bem no topo do concerto das nações e procurando retirar as respectivas vantagens e poder efectivo, por outro lado ao “higienizar os Jogos” tenta disfarçar e evitar exposição internacional para as características anti-democráticas e atentatórias dos direitos humanos universais do seu “status quo” político.
Nestas condições algumas questões fundamentais devem colocar-se para discorrer sobre a sustentabilidade e legitimidade deste ideário – que em nosso entender podemos apelidar de “revisionista” ao procurar iludir o estatuto antropológico e cultural do desporto humanos e a matriz internacional/universal dos direitos humanos inscrita desde 1950 na respectiva “Declaração Universal”.
Podem o desporto e os Jogos Olímpicos estar assim colocados acima e além do “governo da cidade”, da “maquinaria da governação”, das escolhas e opções que conduzem as comunidades nacionais e a denominada comunidade internacional? Há um mundo higienizado do desporto onde não penetram ou devem penetrar os conflitos, as alternativas de destino humano, os projectos de construção social, os valores que constroem a civilização e que podem ter dimensão ética universal?
Se a resposta a estas questões for positiva, isto é, no sentido de que ao desporto são estranhos a substância e dimensões que caracterizam os processos políticos, então para o desporto será relativamente indiferente o grau de liberdade individual, os direitos de expressão e opinião, a democracia e a possibilidade de escolha dos governantes pelos cidadãos, e acima do mais o respeito pela esfera de dignidade pessoal.
Neste “ideário revisionista”, que tem evidentes conotações ideológicas e, por conseguinte, exprime categoricamente um relativismo moral e ético que convive facilmente com os processos totalitários, o desporto perde evidentemente uma parcela substancial do seu valor humano. Pode, assim, o desporto estar ao serviço de ou conviver tranquilamente com projectos políticos e de ideologias em que a vida humana seja facilmente aniquilada e perca muita da sua margem de expressão e singularidade.
E os próprios desportistas, os atletas e outros intervenientes na actividade desportiva, como se colocam perante tais ideários? Compactuam com a desvalorização do papel humano e ético do desporto ou exprimem divergência clara e defendem os valores humanos tendencialmente universais que têm expressão conforme na “Declaração Universal dos Direitos Humanos”? Será possível aos desportistas, aos homens do desporto, que dependem de si e das suas motivações, dos seus empenhos e vontade, da excelência das suas acções e práticas, conviver comodamente com a negação sistemática desses espaços de afirmação da dignidade humana?
Claro está que os desportistas podem conviver com essas negações, mas se o fizerem estão eles mesmos a limitar a sua esfera de liberdade individual, a sua singularidade como pessoas, o que tornará possível ao exercício autoritário de um qualquer “regime político” o cerceamento da própria liberdade e dignidade dos desportistas/cidadãos a prazo mais ou menos curto.
A mesma “ratio” lógica se aplica também aos dirigentes desportivos para os quais a compactuação ou mero oportunismo e conveniência (políticos) com tais “ideários” não apenas ridicularizam como também ferem moral e eticamente. Lembre-se aqui que no que respeita aos dirigentes do movimento olímpico eles estão obrigados pela respectiva Carta Olímpica a respeitarem e fazerem respeitar “os valores éticos universais” (sic).
Por isso, os desportistas e todos os que estão envolvidos ainda que não praticantes no desporto para fazerem desta actividade humana um projecto de afirmação da excelência humana só podem querer a liberdade plena dos indivíduos – isto é um desporto envolvido com os direitos humanos, com projectos políticos e a política que exprima categoricamente essa liberdade plena.
Temos vindo a assistir com alguma frequência nos últimos meses a argumentos que procuram separar o desporto, melhor os Jogos Olímpicos, que são tão-somente o maior e mais globalizado evento humano e desportivo por excelência, da política, do mundo da política e dos políticos e das suas racionalidades, interesses particulares e modos de pensar a natureza humana.
Estes argumentos procuram isolar o desporto enquanto actividade humana, dando-lhe características especiais que o eximem à sua imersão no espaço público e o separam das lógicas da política e dos seus intérpretes por missão que são os políticos.
O desporto seria, assim, neste argumentário pretensamente não ideológico, uma actividade ímpar de uma nobreza altiva, assente num pedestal Olímpico onde pululam os respectivos “deuses” e inacessível aos interesses e opções mesquinhas e terreais do denominado submundo político.
Na linha deste “ideário”, do submundo político, porque imerso em intenções malsãs, só pode esperar-se que transmita ao desporto perturbações, conflitualidade desprezível, maniqueísmos valorativos disfarçados de “direitos humanos” que serão actualmente relativos e contextual e culturalmente dissemelhantes. Enfim, a política prostituiria o inefável e incorruptível “mundo desportivo” e os Jogos Olímpicos que deixariam por essa má influência e intromissão de ser um mundo maravilhoso de superação e exaltação da gesta humana do “citius, altius e fortius”.
Os argumentos que fundamentam ou procuram sustentar esta forma de ver o desporto e a política têm cultores nomeadamente entre alguns dos dirigentes das próprias estruturas representativas do “Movimento Olímpico”.
E em Portugal os mais entusiásticos propaladores dessa despolitização e amoralidade desportiva têm sido os dirigentes do Comité Olímpico de Portugal com o seu Presidente longevo à cabeça. Não passa praticamente semana em que não sejam renovados argumentos de que o desporto e a política são inconciliáveis ou devem estar separados seguindo cada um o seu caminho.
Mas são esses mesmos dirigentes que em cada oportunidade exploram a transitoriedade dos políticos e sua fragilidade gestionária e estratégica para recolherem os apoios do Estado e governo respectivos, sempre tão necessários à sua tendência e projectos de perpetuação no topo das estruturas do poder desportivo.
O mesmo se diga das recentes afirmações dos dirigentes políticos chineses que procuram despolitizar os seus Jogos Olímpicos e assim evitarem as referências e as críticas internacionais à natureza do respectivo regime político.
Por um lado, ao organizar o evento global que são os Jogos a China pretende dar de si-mesma uma imagem poderosa e geoestratégica de afirmação mundial, posicionando-se bem no topo do concerto das nações e procurando retirar as respectivas vantagens e poder efectivo, por outro lado ao “higienizar os Jogos” tenta disfarçar e evitar exposição internacional para as características anti-democráticas e atentatórias dos direitos humanos universais do seu “status quo” político.
Nestas condições algumas questões fundamentais devem colocar-se para discorrer sobre a sustentabilidade e legitimidade deste ideário – que em nosso entender podemos apelidar de “revisionista” ao procurar iludir o estatuto antropológico e cultural do desporto humanos e a matriz internacional/universal dos direitos humanos inscrita desde 1950 na respectiva “Declaração Universal”.
Podem o desporto e os Jogos Olímpicos estar assim colocados acima e além do “governo da cidade”, da “maquinaria da governação”, das escolhas e opções que conduzem as comunidades nacionais e a denominada comunidade internacional? Há um mundo higienizado do desporto onde não penetram ou devem penetrar os conflitos, as alternativas de destino humano, os projectos de construção social, os valores que constroem a civilização e que podem ter dimensão ética universal?
Se a resposta a estas questões for positiva, isto é, no sentido de que ao desporto são estranhos a substância e dimensões que caracterizam os processos políticos, então para o desporto será relativamente indiferente o grau de liberdade individual, os direitos de expressão e opinião, a democracia e a possibilidade de escolha dos governantes pelos cidadãos, e acima do mais o respeito pela esfera de dignidade pessoal.
Neste “ideário revisionista”, que tem evidentes conotações ideológicas e, por conseguinte, exprime categoricamente um relativismo moral e ético que convive facilmente com os processos totalitários, o desporto perde evidentemente uma parcela substancial do seu valor humano. Pode, assim, o desporto estar ao serviço de ou conviver tranquilamente com projectos políticos e de ideologias em que a vida humana seja facilmente aniquilada e perca muita da sua margem de expressão e singularidade.
E os próprios desportistas, os atletas e outros intervenientes na actividade desportiva, como se colocam perante tais ideários? Compactuam com a desvalorização do papel humano e ético do desporto ou exprimem divergência clara e defendem os valores humanos tendencialmente universais que têm expressão conforme na “Declaração Universal dos Direitos Humanos”? Será possível aos desportistas, aos homens do desporto, que dependem de si e das suas motivações, dos seus empenhos e vontade, da excelência das suas acções e práticas, conviver comodamente com a negação sistemática desses espaços de afirmação da dignidade humana?
Claro está que os desportistas podem conviver com essas negações, mas se o fizerem estão eles mesmos a limitar a sua esfera de liberdade individual, a sua singularidade como pessoas, o que tornará possível ao exercício autoritário de um qualquer “regime político” o cerceamento da própria liberdade e dignidade dos desportistas/cidadãos a prazo mais ou menos curto.
A mesma “ratio” lógica se aplica também aos dirigentes desportivos para os quais a compactuação ou mero oportunismo e conveniência (políticos) com tais “ideários” não apenas ridicularizam como também ferem moral e eticamente. Lembre-se aqui que no que respeita aos dirigentes do movimento olímpico eles estão obrigados pela respectiva Carta Olímpica a respeitarem e fazerem respeitar “os valores éticos universais” (sic).
Por isso, os desportistas e todos os que estão envolvidos ainda que não praticantes no desporto para fazerem desta actividade humana um projecto de afirmação da excelência humana só podem querer a liberdade plena dos indivíduos – isto é um desporto envolvido com os direitos humanos, com projectos políticos e a política que exprima categoricamente essa liberdade plena.
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