quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Desporto no Reino Unido e em Portugal (I)

O “DCMS – Department for Culture, Media and Sport” é no âmbito do governo inglês a entidade responsável pela política respeitante ao desporto. Podemos, assim, estabelecer uma equivalência com este departamento em Inglaterra e a “Secretaria de Estado da Juventude e Desporto” em Portugal.

Tem sido frequente que aquele departamento inglês publique documentos orientadores do desenvolvimento e estratégia do desporto do país. Ora, acabou de ser publicado em Junho de 2008 um novo documento daquele tipo que pretende estabelecer as linhas de evolução e desenvolvimento do desporto num horizonte que vai até 2017, mas com particular enfoque no ano de 2012 que é, como se sabe, o da realização dos Jogos Olímpicos de Londres.

Vamos aqui apresentar a introdução aquele documento, o qual é intitulado sugestivamente de “Playing to win: A New Era for Sport”, subscrita pelo respectivo Secretário de Estado do DCMS, Andy Burnham.

Proximamente faremos, então com a devida argumentação, os comentários devidos aos fundamentos de política desportiva presentes nesta introdução governamental, para daí podermos retirar elementos comparativos com as respectivas políticas que vão sendo, ao mesmo tempo, definidas e implementadas em Portugal.


“Playing to win: A New Era for Sport”

Introdução por Andy Burnham, Secretário de Estado da Cultura, Media e Desporto

“O nosso propósito (do DCMS) é melhorar a qualidade de vida para todos através de actividades culturais e desportivas, apoiar a senda da excelência, e liderar as indústrias do turismo, criativas e do lazer”.

Quando se pratica desporto é para ganhar. Essa é a minha filosofia. Ela está também no centro deste plano que, ao longo do tempo, procura mudar a cultura do desporto na Inglaterra.

É um plano para envolver mais gente na prática do desporto simplesmente pelo amor ao desporto; para expandir o grupo de desportistas ingleses talentosos homens e mulheres, e para fazer cair recordes, ganhar medalhas e vencer os torneios para este país.

Como nação hospedeira Olímpica, nós temos um momento no tempo para definir um novo nível de ambição para o desporto e mudar permanentemente o seu lugar na nossa sociedade. É uma era de oportunidade sem precedente. Mas apenas o concretizaremos se pudermos unir as pessoas a todos os níveis no desporto num novo espírito de parceria e de empenhamento comum.

Necessitamos de uma ética (“ethos”) de “Jogar para ganhar” em tudo o que fizermos – os mais elevados padrões dentro e fora do campo de jogo. Isso, mais do que outra coisa, é o que este plano procura alcançar. Metas partilhadas, responsabilidades claras, todos concretizando o seu respectivo papel. E isso significa em primeiro lugar colocar questões honestas acerca do que fazemos e do como poderíamos fazê-lo melhor.

Como conseguimos o melhor dos 250 milhões de libras para o desporto comunitário em Inglaterra? Temos a adequada estrutura organizacional e focagem para dar aos jovens a melhor introdução ao desporto e ajudá-los a desenvolverem-se? São os esforços do Governo suficientemente alinhados com os das Federações Desportivas (“Governing Bodies”)? Mais fundamentalmente, temos a cultura certa no desporto Inglês?

Este plano é a resposta do Governo a estas questões. Ele define uma visão para o desporto em 2012 e para além dessa data. Ele sugere uma meta partilhada para nos unirmos à sua volta – maximizar o sucesso desportivo Inglês através da expansão do conjunto de talentos em todos os desportos. Em resumo, mais treino e mais desporto de competição para todos os jovens.

Construir um sistema de desenvolvimento do desporto Inglês líder mundial requer mais disciplina e focagem. Por exemplo, ele significa uma clara separação ente o desenvolvimento do desporto, por um lado, e a promoção da actividade física por outro. Isso por sua vez significa um novo caminho de trabalho para um mais “magro”, mais “saudável” Sport England. No futuro o Sport England actuará mais estrategicamente, concessionando o desenvolvimento do desporto através das federações desportivas e outros agentes. Ele trabalhará com a “Fundação do Desporto Jovem” (“Youth Sport Trust”) para fornecer treino de alta qualidade e oportunidades de competição para todos os jovens – cinco horas em cada semana – e ajudá-los a transitarem para o sistema de clubes. Ele trabalhará também em parceria com o UK Sport para criar sistemas de apoio e percursos claros para o sucesso dos nossos mais promissores e talentosos praticantes. Mais importante, o Sport England estabelecerá uma parceria com cada uma das Federações Desportivas Nacionais. Em retribuição por uma maior liberdade e controle sobre os fundos públicos, as federações desportivas serão desafiadas para expandirem a participação e fornecerem melhor qualidade de treino a mais pessoas.

Eu quero ser claro sobre o que penso que isto significa. Eu esperarei que as federações desportivas alcancem os jovens em todos os caminhos da vida e lhes dêem uma base de sustentação no que é essencial; que desenvolvam estruturas competitivas para pessoas jovens em todas as partes do país; e que construam uma estrutura de clubes moderna receptiva e acessível a todos.

Dos desportos mais ricos será esperado que reúnam alguns dos seus recursos em conjunto com fundos públicos em apoio do mesmo plano de desenvolvimento quadrienal.

Esta abordagem de um “mealheiro” único de financiamento substituirá o leque de fluxos financeiros a nível nacional e regional. Um sistema mais alinhado libertará até 20 milhões de libras para investimento na primeira linha do desenvolvimento desportivo.

O desporto é em último caso acerca de pessoas, e de pessoas desempenhado no melhor das suas capacidades. Nós confiamos nas pessoas que dedicam as suas vidas ao desporto com o poder de mudar o desporto. Nós queremos libertar os peritos desportivos e os praticantes de elite para inspirarem mais pessoas a saírem dos sofás e voltarem ao desporto, para sustentarem esse entusiasmo e fornecerem uma experiência de qualidade que permitirá aos indivíduos superarem-se.

Mas com esse novo poder chega a responsabilidade – acabar com as distinções fora-de-moda entre desporto de “raparigas” e desporto de “rapazes”. Todos os jovens devem ter um leque de oportunidades. desenvolver o jogo das raparigas e mulheres – e o desporto para deficientes – não é uma opção extra, mas uma parte vital do que as federações desportivas serão instadas a fazer. Se qualquer desporto não quiser aceitar este desafio, o financiamento será desviado para aquelas que o aceitarem.

Eu acredito no desporto para próprio bem do desporto. Nós devemos investir no desporto para maximizar o benefício desportivo.

O poder do desporto para cativar está inscrito na excitação e drama da competição. Eu quero que as pessoas de todos os meios e níveis de capacidade experimentem a alegria e amizade que o desporto de competição comporta.

O meu propósito é claro e simples – criar uma cultura salutar de “jogar para ganhar” (“playing to win”) no desporto Inglês construindo oportunidades competitivas para todos.


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