quinta-feira, 21 de agosto de 2008

“O Comandante e o Desporto Olímpico de Portugal (I)”

O "nosso Comandante do COP – Comité Olímpico de Portugal” é uma figura insubstituível, digna de uma eventual estátua Olímpica, tantos e tão longos foram os serviços e anos em que nos liderou denodada, briosa e profissionalmente no “Desporto Olímpico” (só em mandatos quadrienais consecutivos vão completar-se em breve três).

Primava aquele nosso ilustre dirigente ainda há poucos meses por reafirmar o potencial de realizar em Portugal os Jogos Olímpicos, porque como referia repetidamente tal empreitada faria resplandecer desmesuradamente o nosso desporto ainda que fosse cada vez mais difícil “vender tão grandioso projecto”.

Depois, logo em seguida, continuando a sua gesta grandiosa do nosso devir desportivo, lançou a realização em Lisboa em 2009 da edição dos “Jogos da Lusofonia” orçados apenas nuns poucos 11 milhões de euros – projecto que o actual Governo, através do seu prestimoso Secretário de Estado do Desporto, se prontificou a financiar.

Entretanto, o nosso “Comandante do COP” alimentava pressurosamente o “Projecto Pequim 2008” e estabelecia objectivos de medalhas e pontos que lhe permitiam gerir os cerca de 15 milhões de euros contratualizados com o Governo da época. Pelo meio, anualmente, ia dando à estampa uns “Relatórios” cheios de números, quadros e critérios, mas em que avaliação organizacional, de métodos de preparação, padrões fixados e/ou atingíveis estavam sempre minuciosamente ausentes.

Agora, em 19 de Agosto de 2008, já com os “Jogos de Pequim” em fase adiantada de realização e perante o muito provável incumprimento das metas que estabeleceu para o “Desporto Olímpico” nos Jogos, o imérito “Comandante”, depois de criticar alguns dos atletas que competem nas pistas e lhes exigir “brio e profissionalismo”, tão prontamente quanto destemperadamente e fora de tempo se proclamou fora da recondução do barco Olímpico para os anos futuros.

É este inusitado volte face um abandono ou uma fuga ao fim de tantos e tantos anos de comando? Ou uma mais singela admissão e queda na realidade desportiva que ajudou a criar com tão longo consulado?
E de que servem, que contribuições dão ao desporto nacional, as suas inopinadas afirmações de que é agora indispensável, não o foi nunca antes no seu longo consulado, reorganizar e repensar o desporto em Portugal?
Então com que base de seriedade foi possível assumir os compromissos de tantas medalhas e pontos para um desporto tão carente de organização e repensar? Foi tudo isto, melhor dito o grandiloquente “Projecto de Pequim, o quê afinal?
Que andou o “Comandante” a fazer todos estes longos anos ao leme de um barco que foi incapaz de protagonizar uma nova organização e um indispensável repensar do nosso desporto?

E perderam-se tantas oportunidades, como por exemplificação mais recente: no Congresso do Desporto, com o Livro Branco do Desporto da União Europeia, ou no interior do Conselho do Desporto e agora Conselho Nacional do Desporto.

Não se conhecem contribuições decisivas do COP e do “nosso Comandante” em todos estes últimos anos de governo para essa tão decisiva reorganização do desporto – tirando a ocasional reafirmação de um “plano integrado de desenvolvimento do desporto” que estava há uns meses atrás a ser cuidadosamente preparado e do qual se não conhece nada até hoje.

Pelo contrário ainda há apenas dois meses ou mesmo menos, à saída de uma reunião do Conselho Nacional do Desporto, o “Comandante” se comprazia com as obras e projectos do actual Governo e do seu “visionário Secretário de Estado” para o futuro do desenvolvimento do desporto de competição em Portugal (um pequeno parêntesis serve para lembrar que das discussões e tomadas de posição ou documentos preparados pelo Conselho Nacional do Desporto nada é conhecido publicamente, e no site da Secretaria de Estado permanece o vácuo sobre qualquer destes aspectos do trabalho daquele Conselho).

De repente, do dia para a noite ou da noite para o dia atendendo à diferença horária entre Pequim e Lisboa, tudo mudou, o “jogo de sombras” desvanece-se e aparece uma realidade que se desconhecia ou olvidava. Afinal para o “nosso Comandante” todo o desporto nacional tem de ser sujeito a mudanças profundas.

Porquê? Porque o desporto magnificamente preparado e conduzido pelo “Comandante” não vai ser capaz de alcançar os resultados por ele contratados quatro anos antes quando quis obter um determinado envelope financeiro do Governo (melhor dos contribuintes).

Não, o “nosso longevo Comandante” não se pode ir assim embora. Ele tem de dizer aprofundadamente ao País e aos contribuintes, a quem intermediariamente através do Governo da época solicitou recursos, o que realmente mudou na organização do Comité Olímpico e das federações, na respectiva gestão, métodos e processos de planeamento, de treino e de apoio e acompanhamento dos respectivos atletas com o seu “Projecto de Pequim 2008” que permitiriam augurar tanto sucesso Olímpico e afirmar tão categoricamente que nunca antes se tinha feito tanto e tão bem.

Tanto se disse, tanto propalou o “nosso Comandante” sobre os méritos de “Projecto de Pequim”, que até o Governo por várias das suas vozes ministeriais, incluída a do nosso primeiro-ministro, repetiram o discurso da grandiosidade da preparação e das perspectivas atléticas nos “Jogos de Pequim” – aliás a passividade governamental relativamente à condução ou monitoria do “Projecto Pequim 2008” foi tanta e tamanha que o Governo só mesmo poderia colocar-se atrás ou ao lado do discurso do “Comandante”.

Um Comandante tão imorredoiro (como se vozeia nos “mentideros” do poder desportivo e mediático) não pode despedir-se assim, com tão “insustentável leveza”.

Tem de deixar devidamente avaliada a prestação do seu “Projecto Olímpico”, descrever o que falhou, o que faltou, quer nas estruturas quer nos métodos e processos. Mas também na sua visão e liderança do desporto nacional.

E nesta análise da liderança é ponto primordial avaliar quais foram os progressos e as capacidades de melhorar o funcionamento das estruturas desportivas e de todos os diferentes níveis da organização do desporto nacional que dela emergiram ou não.

Porque se não se conseguirem encontrar estas respostas então, obviamente, esteve a “vender-se gato por lebre” e a criar um verdadeiro ilusionismo desportivo.

E muito mais porque ainda no dia 2 de Agosto, uma semana antes de começarem os Jogos de Pequim, o Comité Olímpico e o “nosso Comandante” anunciavam oficialmente terem entregue ao Governo e ao Instituto do Desporto de Portugal o “Projecto de Preparação Olímpica Londres 2012 e Jogos de 2016”.

Com que visão, bases e estratégia desportivas, com que critérios, com que objectivos e metas e com que envelope financeiro foram elaborados esses “Projectos” para os futuros ciclos olímpicos, impõe-se perguntar perante a agora anunciada pressa em abandonar o barco perante uma maré adversa em "Pequim 2008"?
Ou tratou-se de uma manobra de avanço para criar espaço negocial e consumar o facto oportunista de o Governo uns dias antes se ter disponibilizado para renovar o apoio ao “Projecto Olímpico de 2012” nos moldes do de "Pequim 2008"?

Os portugueses, os atletas, os desportistas, o “Desporto Olímpico” exigem respostas para tanta pressa e falta de “brio e profissionalismo” do nosso ilustre e sempiterno “Comandante”, que tão depressa apresenta ao Governo novos projectos para mais dois ciclos olímpicos como anuncia a sua saída do Comité Olímpico de Portugal onde já desempenha funções há praticamente trinta anos!

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