Como já aqui anteriormente escrevemos, Portugal está numa encruzilhada histórica, marcada por uma crise estrutural com uma década consecutiva de não crescimento económico e de empobrecimento correspondente em termos reais. Esta encruzilhada implica que as decisões estratégicas que vierem a ser tomadas para os próximos anos podem ser decisivas para a subsistência de condições de vida dignas das actuais e futuras gerações.
Dados os profundos contornos da crise portuguesa, a partir de Outubro de 2009, depois de conhecidos os resultados das eleições legislativas, os líderes políticos eleitos e que assumirão a governação do país terão sob sua responsabilidade muitas das possibilidades de garantir a própria sustentabilidade e afirmação internacional de Portugal, pelo que a qualidade e a consequência das opções estratégicas que farão serão decisivas.
Vejamos então alguns dos elementos que deverão caracterizar as opções políticas e estratégicas de Portugal para os anos do próximo ciclo de governação que terá o seu início em 2010.
Face à gravidade da situação económica e social que Portugal está a viver estará portanto chegado um momento em que os líderes governamentais e políticos não poderão fazer escolhas que sejam susceptíveis de ainda acelerar os factores da sua crise estrutural e que tornem insustentável o futuro. O país tem indiscutivelmente de progredir, criando mais riqueza para poder distribuir melhor os frutos desse crescimento económico.
Portugal terá de usar todos os seus recursos económico-financeiros, que são escassos e cada vez mais custosos se obtidos nos mercados internacionais, em projectos que sejam inquestionavelmente produtivos e competitivos à escala internacional. Não podem deixar de alocar-se todos os recursos financeiros e mesmo humanos, cada vez potencialmente mais caros, em projectos de investimento que tenham repercussões líquidas significativas no PIB ou acresçam o seu potencial futuro.
Os projectos de investimento públicos têm de ter, por isso, taxas de rentabilidade bem acima do custo intertemporal dos respectivos capitais a eles afectados. Têm de criar mais riqueza do que aquela que neles foi e será gasta ao longo da respectiva vida útil. E contribuírem para a balança comercial com saldos líquidos de exportações, dinamizando novos negócios empresariais na competição global internacional em que Portugal estará imerso indiscutivelmente.
Nos projectos de investimento privados devem ser privilegiados e devidamente estimulados os projectos que apostem na produção de bens e serviços exportáveis ou naqueles que possibilitem reduzir a factura energética ou importações que tenham significado na respectiva balança comercial. Os projectos industriais devem ser especialmente acarinhados, procurando dar-lhes condições e apoios que aumentem o respectivo nível de qualificação dos recursos humanos e a inovação dos produtos e processos.
O capital humano, as pessoas com as respectivas qualificações e conhecimentos, portanto a educação a todos os seus níveis, a investigação científica e o investimento na inovação de produtos, processos e de métodos de gestão empresarial, têm de estar na primeira linha das prioridades de afectação dos recursos nacionais. Porque a batalha do crescimento económico e da riqueza nacional que será enorme ganha-se com as pessoas, com todos os portugueses, e com as suas capacidades, motivações e projectos individuais de vida.
Não havendo dúvidas de que são as empresas que competem na cena internacional, que vendem bens e serviços e que conseguem transferir riqueza externa para a nossa economia e o nosso país, para se crescer economicamente tem de se pensar e apostar sobretudo nas empresas nacionais, em todas elas e principalmente nas que exportam bens e serviços para mercados externos em qualquer parte do mundo.
Uma economia mais capaz de criar riqueza e empregos qualificados e bem retribuídos implica um Estado amigo dos negócios, que favoreça o respectivo ambiente e a criação de novas empresas e use a diplomacia económica em favor da captação de mercados externos para essas mesmas empresas.
Portugal necessitará sobretudo de um Estado que facilite a criação de riqueza e de novas actividades económicas, que esteja ao lado das empresas, que se reinvente na forma e modo de actuar e que tenha uma estratégia económica para o país nesta era de globalização competitiva.
E ao mesmo tempo de um Estado que saiba reinventar-se, mudando as suas formas de organização e gestão, planeando e fixando objectivos de desempenho, abandonando espaços de intervenção que não criam valor para a sociedade, colocando os cidadãos no centro das suas actividades e objectivos e avaliando continuamente os seus resultados.
Portugal tem também de conceber uma estratégia global no concerto das nações e dos espaços geoeconómicos e geoestratégicos em que se movimentam as suas actividades e interesses, que seja devidamente corporizada pelo Estado e pelas organizações empresariais e da sociedade civil. Esta grande estratégia deve estar orientada para e ser capaz de fazer uso da situação geoeconómica do país, que é simultaneamente europeia e atlântica.
Portugal como país atlântico pode e deve ser uma eficaz plataforma de relação entre continentes – Europa, África e América. Tal como o foi no momento mais brilhante da sua longa história, na época áurea dos descobrimentos, e a que no futuro tem indubitavelmente de saber regressar. Porque o projecto nacional, como a sua história sempre demonstrou, não se esgota nem pode circunscrever-se apenas à Europa.
José Pinto Correia, Mestre em Gestão do Desporto
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