terça-feira, 23 de junho de 2009

Opções Estratégicas de Portugal (I)


Como já aqui anteriormente escrevemos, Portugal está numa encruzilhada histórica, marcada por uma crise estrutural com uma década consecutiva de não crescimento económico e de empobrecimento correspondente em termos reais. Esta encruzilhada implica que as decisões estratégicas que vierem a ser tomadas para os próximos anos podem ser decisivas para a subsistência de condições de vida dignas das actuais e futuras gerações.

Dados os profundos contornos da crise portuguesa, a partir de Outubro de 2009, depois de conhecidos os resultados das eleições legislativas, os líderes políticos eleitos e que assumirão a governação do país terão sob sua responsabilidade muitas das possibilidades de garantir a própria sustentabilidade e afirmação internacional de Portugal, pelo que a qualidade e a consequência das opções estratégicas que farão serão decisivas.

Vejamos então alguns dos elementos que deverão caracterizar as opções políticas e estratégicas de Portugal para os anos do próximo ciclo de governação que terá o seu início em 2010.

Face à gravidade da situação económica e social que Portugal está a viver estará portanto chegado um momento em que os líderes governamentais e políticos não poderão fazer escolhas que sejam susceptíveis de ainda acelerar os factores da sua crise estrutural e que tornem insustentável o futuro. O país tem indiscutivelmente de progredir, criando mais riqueza para poder distribuir melhor os frutos desse crescimento económico.

Portugal terá de usar todos os seus recursos económico-financeiros, que são escassos e cada vez mais custosos se obtidos nos mercados internacionais, em projectos que sejam inquestionavelmente produtivos e competitivos à escala internacional. Não podem deixar de alocar-se todos os recursos financeiros e mesmo humanos, cada vez potencialmente mais caros, em projectos de investimento que tenham repercussões líquidas significativas no PIB ou acresçam o seu potencial futuro.

Os projectos de investimento públicos têm de ter, por isso, taxas de rentabilidade bem acima do custo intertemporal dos respectivos capitais a eles afectados. Têm de criar mais riqueza do que aquela que neles foi e será gasta ao longo da respectiva vida útil. E contribuírem para a balança comercial com saldos líquidos de exportações, dinamizando novos negócios empresariais na competição global internacional em que Portugal estará imerso indiscutivelmente.

Nos projectos de investimento privados devem ser privilegiados e devidamente estimulados os projectos que apostem na produção de bens e serviços exportáveis ou naqueles que possibilitem reduzir a factura energética ou importações que tenham significado na respectiva balança comercial. Os projectos industriais devem ser especialmente acarinhados, procurando dar-lhes condições e apoios que aumentem o respectivo nível de qualificação dos recursos humanos e a inovação dos produtos e processos.

O capital humano, as pessoas com as respectivas qualificações e conhecimentos, portanto a educação a todos os seus níveis, a investigação científica e o investimento na inovação de produtos, processos e de métodos de gestão empresarial, têm de estar na primeira linha das prioridades de afectação dos recursos nacionais. Porque a batalha do crescimento económico e da riqueza nacional que será enorme ganha-se com as pessoas, com todos os portugueses, e com as suas capacidades, motivações e projectos individuais de vida.

Não havendo dúvidas de que são as empresas que competem na cena internacional, que vendem bens e serviços e que conseguem transferir riqueza externa para a nossa economia e o nosso país, para se crescer economicamente tem de se pensar e apostar sobretudo nas empresas nacionais, em todas elas e principalmente nas que exportam bens e serviços para mercados externos em qualquer parte do mundo.

Uma economia mais capaz de criar riqueza e empregos qualificados e bem retribuídos implica um Estado amigo dos negócios, que favoreça o respectivo ambiente e a criação de novas empresas e use a diplomacia económica em favor da captação de mercados externos para essas mesmas empresas.

Portugal necessitará sobretudo de um Estado que facilite a criação de riqueza e de novas actividades económicas, que esteja ao lado das empresas, que se reinvente na forma e modo de actuar e que tenha uma estratégia económica para o país nesta era de globalização competitiva.

E ao mesmo tempo de um Estado que saiba reinventar-se, mudando as suas formas de organização e gestão, planeando e fixando objectivos de desempenho, abandonando espaços de intervenção que não criam valor para a sociedade, colocando os cidadãos no centro das suas actividades e objectivos e avaliando continuamente os seus resultados.

Portugal tem também de conceber uma estratégia global no concerto das nações e dos espaços geoeconómicos e geoestratégicos em que se movimentam as suas actividades e interesses, que seja devidamente corporizada pelo Estado e pelas organizações empresariais e da sociedade civil. Esta grande estratégia deve estar orientada para e ser capaz de fazer uso da situação geoeconómica do país, que é simultaneamente europeia e atlântica.

Portugal como país atlântico pode e deve ser uma eficaz plataforma de relação entre continentes – Europa, África e América. Tal como o foi no momento mais brilhante da sua longa história, na época áurea dos descobrimentos, e a que no futuro tem indubitavelmente de saber regressar. Porque o projecto nacional, como a sua história sempre demonstrou, não se esgota nem pode circunscrever-se apenas à Europa.
José Pinto Correia, Mestre em Gestão do Desporto

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