Pequim foi já lá no Verão anterior em 2008, com os resultados conhecidos abaixo das metas previamente fixadas pelos responsáveis e a categórica assunção das responsabilidades para ninguém.
Vicente Moura, o eterno homem do barco no Comité Olímpico de Portugal (COP), desbocou primeiro a quente sobre os atletas e a imprensa, retemperou forças depois e lá ficou de novo, como se impunha, para mais um mandato. Pelo meio apareceram alguns comentários de Sua Excelência o Secretário de Estado, Laurentino Dias, puxando dos seus galões de governante, de que muito haveria para mudar para o novo ciclo olímpico de Londres 2012. Mas sempre afirmava desde logo o Senhor Secretário de Estado que isso de fixar objectivos ou compromissos com resultados nas competições de 2012, objectivos e resultados que não se podem assegurar tranquilamente pois dependem dos desempenhos dos atletas nas provas, que não que fixar os objectivos isso era demais para o nosso Olimpismo.
E assim o desporto português, que só existe porque é competição, ficará sem objectivos e tudo e qualquer coisa servirá para justificar o trabalho de atletas, treinadores, dirigentes e governantes – e também o uso dos recursos financeiros que os contribuintes disponibilizarão para os Jogos de Londres.
Uma pérola magnífica esta iluminada ideia governamental de Laurentino Dias para uma actividade humana, o desporto de alto rendimento, que tem nas competições, nos resultados, na superação dos atletas, no trabalho aturado dos treinadores com eles diariamente durante meses e anos, a sua razão de ser.
Os nossos atletas em Londres 2012 competirão então para quê? Para fazer correr as camisolas e calções, simples e singelamente?
Mais de um ano passado sobre Pequim 2008 é assinado finalmente o novo contrato para preparação olímpica com mais dinheiro que o anterior – cerca de 16 milhões de euros.
E quem já viu esse contrato e o que nele consta que foi assinado há mais de um mês? Não ainda não é do domínio público, obviamente, nem os respectivos anexos/protocolos. Apenas se conhecem as verbas em causa, que subiram.
Isto é, quando parece terem deixado de existir compromissos desportivos, e provavelmente também não se estabelecem resultados para alcançar, sobem simultaneamente os recursos. E isto quando se sabe que os resultados anteriores, em Pequim, ficaram bastante aquém do estabelecido pelos dirigentes do COP, cujo máximo responsável agora se mantém para o ciclo de 2012.
Mas, pasme-se, vai-se aos sites da Secretaria de Estado, do Instituto do Desporto de Portugal e do Comité Olímpico de Portugal e nada, não se encontra sequer o rasto do novo contrato para Londres 2012. No site do COP nem um documento existe ainda, passado mais de um ano sobre Pequim, sobre o novo ciclo de Londres 2012. Nem o currículo do nosso campeão olímpico de Pequim, Nelson Évora, está actualizado no site do COP, dele nem consta o seu enorme feito de 2008 na China onde foi a única medalha de ouro. Comentários para quê?
Estamos portanto falados sobre transparência, prestação de contas, rigor, pensamento estratégico e competência nos nossos máximos governantes do desporto.
O COP e Vicente Moura esses andam agora ainda à procura de um técnico para tratar da gestão do Programa, cuja selecção carece segundo consta do edital do concurso de recrutamento de aprovação tutelar imagine-se do Presidente do IDP na escolha do novo colaborador. Francamente não era necessária esta condescendência e pressurosa dedicação do Professor Luís Sardinha (o Presidente do IDP), que em mais de quatro anos não conseguiu dar à estampa como dirigente máximo um único documento de orientação e estratégia da intervenção do Instituto do Desporto de Portugal.
Mas na Secretaria de Estado foi o mesmo, quem visitar o respectivo site institucional não encontra um único documento de orientação da política desportiva ou das escolhas e projectos seguidos durante todo o mandato.
Este foi o mundo do desporto ao nível das mais influentes instâncias portuguesas entre 2004 e 2009. Por isso é risível como vêm agora em últimos dias deste mandato, a Secretaria de Estado e o IDP, apresentar-nos as estatísticas dos atletas federados, que comparam não os anos de 2004 com o de 2008/9, que são os da responsabilidade daqueles dirigentes tutelares, mas com o de 1996. E chegam, por tal obra de prestidigitação, à radiosa conclusão de que já temos não 266.000 atletas mas mais de 490.000, sendo que lamentavelmente (dizemos nós) apenas 23% deles são mulheres.
Haverá, soube-se há dias, finalmente, um livrinho desta governação ainda que só de teor estatístico e sobre uma pequena parte do desporto, o federado, para o qual o governo em exclusivo trabalhou durante toda a legislatura, lá para Setembro – foi tudo o que a prata da casa conseguiu produzir (para além da vasta legislação, com destaque actual para o Regime das Federações que agora se impõe fazer cumprir pela destinatária recalcitrante FPF, pelo menos).
Porque para os restantes níveis e sectores do desporto o Secretário de Estado, o Presidente do IDP e o Comité Olímpico nem pensaram nem fizeram por eles nada que se visse. A demonstração óbvia é a de que Laurentino Dias veio agora dizer que é preciso trabalhar com as escolas e as autarquias, o Presidente do IDP ainda lançou um Programa minúsculo de desporto para todos que apelidou lamentavelmente de “Mexa-se”. Mas mesmo este “Programa Mexa-se” já nem no site do IDP está acessível, tal era a confusão que nele se fazia entre desporto, actividade física, saúde e exercício. No site do COP então nem vale a pena tentar encontrar um texto articulado e estruturado sobre desporto para todos, desporto escolar, ou desporto nas autarquias e comunitário.
Portanto, estamos falados, esta “Santíssima Aliança” entre Secretário de Estado do Desporto, Presidente do IDP e Presidente do COP, que governou o desporto português entre 2004 e 2009 fez muito pouco pelo desporto, são os digníssimos fautores de um “Portugal desportivo dos pequeninos” e demonstraram ser incapazes de produzir uma visão e uma estratégia devidamente articulada de desenvolvimento do desporto nacional. Porque o desporto é muito mais do que simplesmente tratar do desporto federado de alto rendimento e as tais estatísticas que agora foram resumidamente conhecidas aí estão para na comparação com muitos outros países europeus o demonstrarem cabal e inequivocamente.
P. S.: Acabo de ler na imprensa que o Comandante Vicente Moura, Presidente do COP, vai ser o mandatário da candidata do Partido Socialista à Câmara Municipal de Oeiras. Está tudo bem, magnificamente bem, por conseguinte…!
José Pinto Correia, Mestre em Gestão do Desporto
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