quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Futuro de Portugal (É a Hora)!

“Quem não tem a consciência certa das raízes profundas do seu ser, isto é, do povo a que pertence, de que coisa pode ter certeza ou noção?”, Fernando Pessoa, Obra em Prosa (A propósito da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, por Sacadura Cabral e Gago Coutinho)

Portugal está neste momento preciso colocado perante uma encruzilhada da sua história como país e como nação. Os horizontes do país não são nada animadores, estão muito enegrecidos, e os portugueses descrêem dos partidos políticos e afastam-se progressivamente da política.

Perante este quadro de referência que fazem as nossa elites políticas, económicas e académicas? Pensam o país, o seu futuro a médio e longo prazo como interessaria às actuais e novas gerações?

Não, não fazem nada disso ou algo que se lhe possa aproximar! Entretêm-se em discussões de proximidade temporal, em receitas de cosmética rápida, ou em pretensas agendas fracturantes.

Por isso, Portugal é incapaz de se pensar estrategicamente. Ninguém se atreve a fazer o exercício de pensar o país no médio e longo prazo, digamos num horizonte temporal de dez ou mesmo vinte anos. Os representantes políticos e as elites económicas, empresariais ou mesmo académicas são incapazes de fazerem um qualquer tipo daqueles exercícios.

A continuar o caminho de decadência e de definhamento económico, social e de valores que tem vindo a ser trilhado, o país estará certamente ameaçado a prazo na sua existência soberana e na sua coesão como ente histórico-cultural de tradição judaico-cristã.

Está formado desde há praticamente uma década um caldo cultural e governativo de profunda mistificação e ilusão da realidade nacional e global que envolve o país, bem como de uma continua falta de vontade de mudança nas elites políticas, que comprometem seriamente o futuro de Portugal. A tradução económica destes erros e incapacidades tem agora vindo à luz do dia com maior insistência e o desastre económico-financeiro está aí ao virar da próxima esquina.

É por isso, agora absolutamente vital, mais do que ontem o foi também, encontrar novos caminhos de afirmação do país, pensar e repensar o seu papel na Europa e no Mundo, definir novas estratégias económicas, políticas e sociais. E enfrentar com coragem ao longo de vários anos os verdadeiros problemas nacionais e em primeiro lugar o massivo desemprego que foi criado entretanto.

Portugal não discute estas questões, reduz-se permanentemente ao imediato ou ao acessório, e os portugueses estarão condenados a um futuro que os ultrapassa e lhes cairá em cima inevitavelmente. E esse futuro, nos seus contornos fundamentais, escapará, desse modo, a quadros mentais e de acções desenhados e escolhidas por vontade e interesses próprios.

Portugal como projecto não existe, está aí nessa Europa sem saber ou cuidar do seu destino nacional. Sem estratégia, sem reconhecimento das grandes linhas de evolução mundiais, sem diagnósticos e cenários de evolução autónomos, Portugal estará entregue ao mesmo nível de desempenho dos últimos dez anos, num cenário mundial mais incerto, complexo e competitivamente globalizado, onde emergem novos centros de poder excêntricos à Europa (vide China, Índia e Brasil).

Mas Portugal tem de discutir o seu futuro a médio prazo, ir às verdadeiras raízes do seu definhamento económico, da sua desestruturação cultural, e encontrar as estratégias políticas, económicas e sociais que lhe dêem esperança de se construir como uma nação valiosa e com indiscutível papel na Europa e no Mundo. Obviamente que este trabalho árduo não pode ser feito com as pessoas que campeiam no espaço político e partidário que apenas pretendem hoje, como fizeram ontem e continuarão provavelmente a pretender no futuro, defender os seus interesses mesquinhos de afirmação pessoal e de grupo.

Não, neste nevoeiro denso que se abate sobre o país, Portugal precisa de verdadeiros “Homens de Estado” que conheçam e respeitem o melhor da sua história e matriz cultural e não se recusem a trabalhar ardorosa e valentemente por um renovado projecto nacional, onde os jovens de hoje e de amanhã possam ter uma vida de qualidade e continuarem o Portugal universal, tanto aqui na Europa como em África ou nas Américas.

Em suma, é imprescindível que apareçam na ribalta desta “Hora Dilemática” um conjunto de “portugueses de boa vontade”, de cuja valia moral e percurso de vida profissional e cívica não subsistam quaisquer dúvidas, que os há ainda e felizmente, que tenham um espírito de missão e possam querer contribuir activa e empenhadamente para evitar a queda de Portugal num fosso profundo de consequências imprevisíveis e provavelmente insuportáveis. E que com a sua liderança moralmente intacta e exemplar venham a dar aos portugueses, que são ainda jovens e constituem as futuras gerações de portugueses, a esperança de poderem viver com dignidade e continuar o caminho longo de um país de séculos.

No momento de angustiosa existência como o que Portugal atravessa, o futuro da nação e a permanência soberana e viável do país não se constroem sem serem profundamente analisadas as causas da sua degenerescência progressiva e continuada, sem se discutirem e resolverem os estrangulamentos que agora existem. É certo que não haverá soluções fáceis, que o caminho será longo e difícil, mas poderá ser percorrido se quem o corporiza indicar claramente o que é preciso ser feito, em nome do que será feito e qual o resultado esperado no fim desse esforço.

Esta “Hora” é mesmo uma cruzada por Portugal. Não vai haver espaço para novas experiências e manobras dilatórias à espera de nada e mais do mesmo com os mesmos de sempre no leme da Nau. São precisos novos intérpretes do sentir e pulsar do país que incorporem o desejo de sair desta grande névoa que se abateu continuadamente sobre o nosso futuro nacional.

Portugal merece mais, muito mais, e a sua longa história de independência e de dificuldades imensas superadas em vários séculos espera que aqueles que hoje sentem o chamamento nacional possam encontrar as soluções que o momento de sobressalto histórico impõe. Porque a desistência ou a falta a esta chamada podem ser e ditar o fracasso de Portugal como país e como nação soberanos e unos.

José Pinto Correia, Economista

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