terça-feira, 24 de agosto de 2010

“Roma” a Arder, “Reizinhos” a Banhos!


O quadrado/rectângulo ocidental desta Europa, a “Roma” onde estamos, arde vergonhosamente de ponta a ponta, de fio a pavio. As chamas do caos e da loucura irromperam de lés a lés.

Não se entendem já de qualquer modo as diferentes forças em presença no terreno de operações do fazer e promover justiça.

Bradam uns, lamentam-se outros. Estendem-se mangueiras de um lado, acendem-se fósforos em tufos de algodão de outro. Uns parecem polícias, outros ladrões. Falam, ditam, transcrevem, enunciam, emendam, desmentem, confirmam, infirmam, juram, perjuram, indagam, escondem, silenciam, troam – entram e saem de cena grandes figuras, figurões mesmo.

Hoje as notícias dizem algo desconhecido, amanhã aumentam, depois e depois deslindam mais e mais. Novidades há-as todos dias aos montes, e novas parangonas e outros ditos e desditos, confirmações, reconfirmações, juras e mais juras.

Alvíssaras dar-se-iam para quem entenda o mínimo desta transa, deste imenso mar de rosas murchas, de uma vidinha democrática cheia e radiosa, trinta e seis verões passados do último sobressalto cívico no quadradinho.

Quem quer desejar voltar a ver novamente o boneco lá pelas entranhas? Quanto tarda para que a malta se agigante num qualquer renovar de tamanho reencantamento? Talvez que os carneirinhos já nem se cuidem de tal estado de coisinhas em que a sorte se tresleu, mas isso em qualquer caso é sinal grotesco para estes tempos do regime.

E a boa sociedade, que é feito dela? A da afamada justiça, aquela que daria tratamento devido às impurezas e vilanias, às mentiras e aviltamentos, à cobiça e soberba, à corrupção dos corpos, dos bolsos e das almas? Aquela senhora que faria o justo com os fracos de fraqueza imprópria e imposta, com os pobres que o são sem o quererem, com os válidos que são grandes por seu carácter e méritos, com os ricos que são beneméritos e impolutos? Onde está então essa boa sociedade, e essa sua noção ímpar e sensata de justiça? Morreu, fugiu para parte incerta, desapareceu ou inexistiu de facto?

Quem quer que olhe aos magistrados do topo do regime desta “Roma” que arde sem dó nem piedade não encontra essa razão maior de um regime político: a justiça.

Ela não está nem na Presidência da República, nem no chefe do Governo, nem na Procuradoria-geral da República!

“Roma” está a arder por todos estes dias despudoradamente, e os “Reizinhos” do regime estão, convivialmente, a banhos lá para o Sul. E voam baixinho, muito baixinho, ninguém os ouve, não vá algum mal vir-lhes do mundo para as suas excelentíssimas vidas.

Estamos pois nós todos, do povo que os elegeu com base no seu poder soberano que assim se esvaiu, a contas com o inferno das chamas desta “Acrópole” e os plenipotenciários em fuga e negação, entre as boas águas do Algarve e quejandas.

A terrinha onde nós vivemos já nada lhes suscita, excelsas criaturas que nos mandam encarneirar. Contar, contar mesmo, para tamanhas magnificências, só a sobrevivência das potestades nos seus lugares, enquanto os registos da táctica da reeleição de um, da manutenção no “poleirinho” de outro, e a sobrevivência na guerra sem trincheiras na Procuradoria para o último, ditarem as inacções, os silêncios, e as falsas partidas.

Quem não quiser esta lindeza de registos e estes avatares do regime que faça o favor ou de se desligar ou de partir à procura de mares de antes por ancestrais navegados. Boa sorte nessa proeza de viver, pois então…!

Nota de Interpretação: “Vontade nacional é uma das expressões de que mais têm abusado os intrigantes de todos os tempos e os déspotas de todas as épocas. (…) Há até quem a tenha identificado com o silêncio dos povos tirando como conclusão que o direito de comandar se justifica pelo facto de ser obedecido” (“A Democracia na América”, Alexis de Tocqueville, Capítulo III: Um Povo Soberano).

José Pinto Correia, Economista

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