O nosso desporto de competição, melhor o nosso sistema desportivo federado, está confrontado neste momento e até final de 2008 com três importantes exercícios que podem ajudar a definir o sentido da sua evolução e futuro de médio prazo.
O primeiro exercício diz respeito ao Estatuto Jurídico das Federações Desportivas. Nele, que já foi aprovado em recente Conselho de Ministros, importa saber e verificar em que medida foram desenvolvidas e arquitectadas as competências e as funções das Federações.
Porque é destas, mais do que da enormemente propalada redefinição e recomposição dos poderes de representação interna nas Assembleias Gerais que apenas interessa à manutenção da actual matriz de governação politizada das federações em Portugal, que resultarão as mudanças qualitativas e substanciais no desenvolvimento do desporto federado.
Importa, por conseguinte, saber que novos processos e métodos de gestão e organização, que outros modelos de financiamento, qual o grau de profissionalização da gestão versus o do dirigismo voluntário tradicional, que sistemas de informação e de reporte de actividades, quais os métodos e modelos de recolha de dados estatísticos, os preceitos de enquadramento da negociação de patrocínios e parcerias estratégicas, os modelos de formação de agentes desportivos e a relação preferencial do sistema de desporto federado com o do desporto escolar, que foram efectivamente inseridos e considerados no diploma legal e estiveram, por conseguinte, presentes no diagnóstico do sistema federativo feito governamentalmente e que, assim, motivaram o seu desejado caminho evolutivo no pressuposto estratégico de que Portugal quer e merece melhor nível no seu desporto federado.
Sobre tudo isto veremos quando da publicação do respectivo diploma legal e ajuizaremos da sua efectiva consonância com a concepção de que a evolução de um sistema depende primariamente do nível de funcionamento e da qualidade e grau de sofisticação da gestão e organização das suas instituições fundamentais, no caso, as respectivas federações desportivas.
Um segundo exercício tem a ver com o conteúdo e conclusões do Relatório do Comité Olímpico de Portugal sobre Pequim 2008 e o respectivo ciclo de financiamento e gestão desportiva (que se anuncia para final do mês de Novembro).
Importa saber em que medida esse Relatório vai incluir a avaliação das inovações organizacionais, dos novos métodos de preparação de treinadores e atletas, da consonância entre os planos das federações e os respectivos meios de financiamento e resultados alcançados, a análise dos desvios entre o projectado e o realizado, dos níveis de sucesso obtidos com novos instrumentos e métodos de gestão e preparação, e, no final, qual a projecção de todos estes factores para a preparação e programação do novo ciclo olímpico de 2012 (Jogos Olímpicos de Londres).
Trata-se de verificar, neste caso, em que medida se constrói (ou melhor constrói o Comité Olímpico de Portugal) um instrumento que possa ser de utilidade substantiva para a nova programação e negociação de um “plano de preparação olímpica para o ciclo olímpico de 2012”.
O terceiro exercício relaciona-se estreitamente ao anterior e diz respeito ao modo como o Governo vai conduzir a negociação de um novo “programa de financiamento do ciclo olímpico de 2012”.
Sobretudo importa saber em que medida e grau de sofisticação tem o Governo um projecto para a nossa participação olímpica em 2012. E se tiver esse projecto, para ficarmos a conhecer devida e detalhadamente quais as suas linhas estratégicas fundamentais que possibilitem justificar o pacote financeiro que o mesmo Governo estiver disponível para afectar.
Só deste modo se poderá dizer, portanto, que o novo ciclo olímpico de 2012 corresponderá não apenas a um projecto do Comité Olímpico de Portugal mas também, e indispensavelmente, a um projecto nacional que o Governo em funções tem para o nosso desporto de alta competição para os próximos quatro anos (pelo menos).
Vamos ver se assim será ou não. Se há ou não um projecto nacional para a participação nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, evitando-se os jogos florais que temos visto nos últimos meses sobre o de Pequim 2008 em que mais parece que quem contratou não assumiu nenhum compromisso ou projecto (com objectivos incluídos, claro, como é inevitável em qualquer um daqueles).
Destes três exercícios e dos seus resultados essenciais decorrerá muito do que poderá vir a ser a evolução do sistema desportivo federado em Portugal até 2012, pelo menos.
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