quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Os Três Actuais Exercícios do Desporto (até final de 2008)

Passamos a publicar o nosso texto editado hoje no Jornal "O Primeiro de Janeiro" e que é uma nova versão mais comleta e aprofundada de um anterior post inscrito neste nosso BLOG.
O nosso desporto de competição, melhor o nosso sistema desportivo federado, está confrontado neste momento e até final de 2008 com três importantes exercícios que podem ajudar a definir o sentido da sua evolução e futuro de médio prazo. Porque qualquer um daqueles exercícios trará consequências e instrumentos importantes para a estrutura organizativa e os objectivos do sistema desportivo federado num horizonte temporal que, no mínimo, atingirá o próximo “ciclo olímpico de Londres 2012”.

Vejamos então quais são esses exercícios, em que plano eles se colocam e que elementos fundamentais contêm para a afirmação e estruturação do desporto federado nacional.

O primeiro exercício diz respeito ao “Estatuto Jurídico das Federações Desportivas”. Neste “Estatuto”, que como se sabe já foi finalmente aprovado em recente reunião do Conselho de Ministros, importa saber e verificar em que medida foram desenvolvidas e arquitectadas as competências e as funções das Federações, na medida em que para qualquer federação desportiva, como refere a teoria sistémica das organizações, as respectivas funções serão componentes fundamentais da concretização da sua missão. Ou seja, as funções das federações dão significado pleno à sua razão de existência no seio do sistema desportivo nacional.

Porque, por outro lado, é também destas funções, mais do que da enormemente propalada redefinição e recomposição dos poderes de representação interna nas Assembleias Gerais que apenas interessa à manutenção da actual matriz de governação politizada das federações em Portugal (e que tem andado nas “bocas do mundo desportivo e jornalístico”), que resultarão as efectivas mudanças qualitativas e substanciais no desenvolvimento do desporto federado.

Importa, por conseguinte, saber na “arquitectura funcional das federações” que novos processos e métodos de gestão e organização, que outros modelos de financiamento, qual o grau de profissionalização da gestão versus o do dirigismo voluntário tradicional, que sistemas de informação e de reporte de actividades, quais os métodos e modelos de recolha de dados estatísticos, os preceitos de enquadramento da negociação de patrocínios e parcerias estratégicas, os modelos de formação de agentes desportivos e a relação preferencial do sistema de desporto federado com o do desporto escolar, que foram efectivamente inseridos e considerados no diploma legal e estiveram, por conseguinte, presentes no diagnóstico do sistema federativo feito governamentalmente e que, assim, motivaram o seu desejado caminho evolutivo no pressuposto estratégico de que Portugal quer e merece melhor nível no seu desporto federado.

Sobre tudo isto veremos quando da publicação do respectivo “Estatuto Jurídico das Federações Desportivas” e ajuizaremos da sua efectiva consonância com a concepção de que a evolução de um sistema depende primariamente do nível de funcionamento e da qualidade e grau de sofisticação da gestão e organização das suas instituições fundamentais, no caso, as respectivas federações desportivas.

Um segundo exercício tem a ver com o conteúdo e conclusões do Relatório do Comité Olímpico de Portugal sobre Pequim 2008 e o respectivo ciclo de financiamento e gestão desportiva (que se anuncia para final do mês de Novembro) e que será remetido subsequentemente ao Governo, como foi por este expressamente requerido.

Importa saber em que medida esse Relatório vai incluir a avaliação das inovações organizacionais, dos novos métodos de preparação de treinadores e atletas, da consonância entre os planos das federações e os respectivos meios de financiamento e resultados alcançados, a análise dos desvios entre o projectado e o realizado, dos níveis de sucesso obtidos com novos instrumentos e métodos de gestão e preparação, e, no final, qual a projecção de todos estes factores para a preparação e programação do novo “ciclo olímpico de 2012” (Jogos Olímpicos de Londres).

Trata-se de verificar, neste caso, em que medida se constrói (ou melhor constrói o Comité Olímpico de Portugal) um instrumento que possa ser de utilidade substantiva para a nova programação e negociação de um “plano de preparação olímpica para o ciclo olímpico de 2012” que possa conter as bases de uma estratégia de afirmação competitiva internacional do nosso desporto de alta competição que se irá apresentar nos Jogos Olímpicos de Londres 2012.

O terceiro exercício relaciona-se estreitamente ao anterior e diz respeito ao modo como o Governo vai conduzir a negociação de um novo “programa de financiamento do ciclo olímpico de 2012”. Sobretudo importa saber em que medida e grau de sofisticação tem o Governo um projecto para a nossa participação olímpica em 2012. E se tiver esse projecto, para ficarmos a conhecer devida e detalhadamente quais as suas linhas estratégicas fundamentais que possibilitem justificar o pacote financeiro que o mesmo Governo estiver disponível para afectar. Para que nesta negociação de apoio a um programa de preparação não possam ficar dúvidas sobre a política pública desportiva de alta competição e ela possa, depois, em 2012 ser devidamente avaliada na concretização efectiva dos respectivos objectivos previamente estabelecidos.

Só deste modo se poderá dizer, portanto, que o novo ciclo olímpico de 2012 corresponderá não apenas a um projecto do Comité Olímpico de Portugal mas também, e indispensavelmente, a um projecto nacional que o Governo em funções tem para o desporto de alta competição português para os próximos quatro anos (pelo menos).
Vamos ver se assim será ou não. Se há ou não um projecto nacional para a participação nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, evitando-se a repetição futura, provavelmente com outros intérpretes, dos jogos florais que temos visto nos últimos meses sobre o ciclo de Pequim 2008, em que mais parece que quem contratou não assumiu nenhum compromisso ou projecto (com objectivos quantificados incluídos, claro, como é inevitável em qualquer um daqueles).

Destes três exercícios, que aqui sinteticamente apresentámos, da forma como forem resolvidos e dos seus consequentes resultados essenciais, decorrerá muito do que poderá vir a ser a evolução do sistema desportivo federado em Portugal quando se completar um novo ciclo olímpico com a participação nacional nos Jogos Olímpicos de Londres de 2012.

José Pinto Correia, Mestre em Gestão do Desporto

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