quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016

O Rio de Janeiro no Brasil acabou de sair vencedor da corrida olímpica das cidades mundiais candidatas à realização da edição dos Jogos Olímpicos de 2016.

Claro que o Brasil, como país hospedeiro dessa edição dos Jogos, hoje já é uma potência mundial emergente que tem inclusive assento no clube do denominado G20. Claro é também que o país poderá pagar a astronómica conta dos Jogos com a ascensão flagrante do seu poderio económico. Mas é uma enormíssima ilusão, senão mesmo estultícia, pensar que os biliões de dólares, as muitas e muitas centenas de milhões de contos na nossa antiga moeda, que vai ser a conta final a pagar pelos Jogos de 2016, vão resolver ou sequer passar perto de tentar resolver os gravíssimos problemas de miséria e insegurança que tem o Brasil ou melhor o Rio de Janeiro.

A festa, a enorme festa dos Jogos, não servirá, como nunca em outro lado serviu, para resolver problemas económicos e sociais e a pobreza manifesta ou a insegurança flagrantemente vigente. Esse não é nem nunca foi o desiderato dos Jogos, e só lateralmente aos objectivos próprios do evento desportivo é que poderão existir intervenções que possam ter alguma incidência na minimização das graves carências e desigualdade social e de rendimentos ou na melhoria dos níveis de segurança vigentes no Rio de Janeiro ou no Brasil. Tudo o que normalmente é dito em contrário pelos óbvios interessados e promotores dos Jogos, desde os políticos aos dirigentes desportivos ou empresariais envolvidos, é mera ilusão e retórica que se destina a ajudar a vender o evento ao povo do país hospedeiro dos Jogos.

Neste momento em Pequim, por exemplo, o estádio monumental do “Ninho do Pássaro” já está a ser transformado em centro comercial a retalho. E a Grécia, que realizou a edição dos Jogos de 2004, ficou como se sabe endividada e com as infra-estruturas desportivas votadas às moscas e ao mais completo e miserável abandono. Depois de os Gregos terem pago pelos Jogos mais de dez mil milhões de euros num evento inicialmente orçamentado em menos de metade desses mesmo valor. No Reino Unido que terá a edição de 2012 já se prevêem gastar mais de nove biliões de libras quando estiveram contabilizados menos de um terço desse valor nos orçamentos inicialmente apresentados ao Reino de Sua Majestade (prestados no Parlamento em sucessivos Relatórios públicos).

Claro que o Presidente Lula e o responsável do Comité Olímpico Brasileiro, que é ainda pior do que o nosso Comandante eterno em Portugal, cantaram vitória e encenaram rigorosamente a imensidão do desafio. Mas quem terá de liquidar as contas, real por real, ano a ano, e até ao fim, são os pagadores de impostos brasileiros, e o dinheiro, melhor a montanha de reais, que vai para a festa dos Jogos não vai para escolas, casas de habitação social, hospitais, jardins de infância, pequenas estruturas desportivas locais, apoios sociais para idosos, doentes, desempregados, etc., quer no Brasil quer no próprio Rio de Janeiro.

Claro que o Brasil ganhou os Jogos de 2016, vai pagá-los com impostos de muitos anos, terá o Rio de Janeiro de cara lavada, terá muitos milhões de brasileiros nas ruas a aplaudir, dará muitos empregos na construção, terá novos estádios, pavilhões, piscinas olímpicas, etc. Mas ficarão muitas outras coisas muito urgentes e criadoras de mais equilíbrios e justiça sociais por fazer ao mesmo tempo que tudo aquilo será feito a pensar quase estritamente nos Jogos Olímpicos.

Isso é certo, e infelizmente para muitos dos pobres e excluídos e carenciados do Rio e do Brasil, porque os recursos económicos e financeiros, mesmo de uma potência económica mundial emergente como já é inquestionavelmente o Brasil, não são inesgotáveis. Os muitos e muitos milhões de reais que vão ser gastos num lado não poderão ao mesmo tempo ser gastos noutros lados e coisas. Este é, aliás, um dos princípios económicos básicos que terá evidentes consequências políticas e sociais para o Rio de Janeiro e o Brasil de 2016 e anos futuros.

José Pinto Correia, Mestre em Gestão do Desporto


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