quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A Economia e o Desporto

Passamos a publicar o nosso texto de opinião de hoje no Jornal "O Primeiro de Janeiro" como o título acima indicado.
"A Economia é definida por um dos mais insignes economistas, e prémio Nobel, o Professor Samuelson, na sua obra fundamental e que serve de texto base em muitas Universidades em todo o mundo, como sendo a ciência que procede “ao estudo da forma como as sociedades utilizam os recursos escassos para produzir bens com valor e como os distribuem entre os seus diferentes membros”.

No desporto há um conjunto diversificado de bens e serviços que são produzidos e fornecidos, os quais têm valor económico para a sociedade respectiva e têm tradução em grandezas económicas associadas às cadeias de valor do respectivo circuito económico. Pode, assim, por conseguinte determinar-se o valor económico do desporto para um determinado país.

Esta determinação da “importância económica do desporto” tem sido continuadamente feita em Inglaterra com base naquilo que é comummente denominado de evidências (dados e factos, entenda-se).

Os últimos dados respeitantes a essa importância do desporto foram disponibilizados em Março de 2007 e resultam do trabalho científico do Sport Industry Research Centre da Sheffield Hallam University para a agência Sport England, a qual é responsável pelo desenvolvimento e promoção do desporto comunitário em Inglaterra.

Acresce que aquele Centro de Investigação foi designado como o “Centro Colaborativo para o Desporto e a Economia” para o período de 2005-2008 pelo próprio Sport England.

Vejamos então seguidamente quais os principais elementos relativos à importância económica do desporto para a Inglaterra a que o modelo e a metodologia de “contabilidade nacional do rendimento” especificamente desenvolvidos pelo referido Centro chegou, com apoio nas bases estatísticas nacionais relevantes, e fornecendo os dados comparativos entre os anos de 1985 e 2003:

Actividade económica relacionada com o desporto: aumentou de 3.358 milhões de libras em 1985 para 9.838 milhões em 2000 e para 13.531 milhões em 2003 (a preços correntes), o que representa um aumento real de 107% ao longo do período de 1985 a 2003 (a preços constantes). No mesmo período a economia do Reino Unido (em valor acrescentado bruto) cresceu apenas em 59% em termos reais;

Despesas de consumo relacionadas com o desporto: foi de 13.969 milhões de libras em 2003, aumentando dos 3.536 milhões em 1985 (em preços correntes), o que representou um aumento de 104% ao longo do período de 1985 a 2003 (a preços constantes). As áreas mais significativas do consumo em desporto são as do vestuário e calçado, as quotizações de participação e o jogo;

Emprego relacionado com o desporto: o emprego relacionado com o desporto na Inglaterra é estimado em 421.000 pessoas em 2003, representando 1.8% de todo o emprego na Inglaterra nesse mesmo ano, e aumentou dos 304.000 empregos de 1985 e dos 402.000 em 2000, o que representa um acréscimo global de 38%. Em apenas cinco anos, de 1998 a 2003, o emprego no desporto aumentou em 22%. Neste emprego de 2003, 77% corresponde ao sector comercial do desporto, apenas 12% ao sector público e 11% ao sector voluntário.

Estes são, portanto, os mais importantes indicadores da economia do desporto considerados na metodologia e modelo utilizados naquele estudo, o qual permite também conhecer as parcelas das diversas contribuições sectoriais para actividade económica, o consumo e o emprego.

Acresce que os indicadores das diversas regiões da Inglaterra são também conhecidos neste estudo, o que permita avaliar dos respectivos contributos regionais para a totalidade da economia do desporto da Inglaterra.

Um outro âmbito de apreciação do valor económico do desporto consta do documento “Game Plan: a strategy for delivering Government´s sport and physical activity objectives” e que foi publicado pelo “Departamento de Cultura, Media e Desporto” (o “DCMS – Department for Culture, Media and Sport”) em Dezembro de 2002; este Departamento corresponde à entidade do Governo que tem a tutela do desporto e pode considerar-se como o equivalente da nossa Secretaria de Estado do Desporto.

Aí se destacavam os benefícios resultantes da prática regular de actividade física e desporto como sendo, nomeadamente: a satisfação pessoal e uma melhor vida social; uma melhoria da saúde; melhores resultados educativos; redução da criminalidade; inclusão social e melhoria do ambiente.

Mas o documento avançava para o cálculo, através de um modelo econométrico, dos custos da inactividade física na Inglaterra considerando os três seguintes tipos de custos: custos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), custos dos dias perdidos de trabalho e custos das mortes prematuras (tudo custos que a investigação científica tinha já amplamente determinado como decorrentes da inactividade física e desportiva). As principais conclusões deste exercício são as seguintes:

Os custos totais da inactividade física seriam da ordem dos 2 biliões de libras, compreendendo custos indirectos de 10.000 dias de trabalho perdidos e 54.000 vidas perdidas prematuramente (aproximadamente 150/dia) considerando um leque estreito de doenças mas poderia chegar aos 3 biliões de libras considerando uma moderada ou vigorosa actividade de cinco dias por semana;
Usando o modelo calculou-se também o benefício de um aumento de 10% na actividade dos adultos o que beneficiaria a Inglaterra em cerca de 500 milhões de libras por ano (6.000 vidas/dia);

Estas estimativas foram conservadoras pois assumiram níveis relativamente baixos de inactividade e um leque estreito de doenças. Por isso mesmo, os custos poderiam ser superiores assumindo mais elevados níveis de inactividade e um leque mais alargado de doenças, para um custo total de 8.2 biliões de libras (1.7 biliões para o SNS, 5.4 biliões para as ausências ao trabalho e 1 bilião de mortalidade prematura);

E muito importante é que esta estimativa menos conservadora significaria então cerca de 5% do orçamento do SNS, 72.000 dias de trabalho perdidos e 86.000 vidas perdidas prematuramente.

Em Portugal como é óbvio não existem estudos deste cariz. Porque nem as autoridades governamentais, nomeadamente a Secretaria de Estado do Desporto e o seu Instituto do Desporto de Portugal, nem o Comité Olímpico de Portugal ou mesmo as federações ou a Confederação do Desporto estão nisso empenhadas ou interessadas. Por isso as nossas políticas públicas desportivas na sua formatação não se baseiam num conhecimento aprofundado do significado e importância económicos do desporto como deveria racionalmente acontecer.

Mas das políticas públicas desportivas falaremos mais aprofundadamente em outra ocasião".

José Pinto Correia, Mestre em Gestão do Desporto

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