Sobre os Jogos Olímpicos de Pequim e os nossos respectivos atletas muito se disse – e muito destaque mereceram os dirigentes (alguns quase eternos) e as nossas luminárias governantes.
Esses Jogos acabaram há cerca de quinze dias e “voltámos ao futebol”. Entretanto, estão já hoje em Pequim os nossos atletas paralímpicos para participarem, em nossa representação, nos Jogos Paralímpicos de Pequim.
Fui ver o que sobre essa nossa representação diziam o Comité Olímpico de Portugal, a Secretaria de Estado e o Instituto do Desporto de Portugal e o destaque que davam dos nossos esforçados atletas – possivelmente medalháveis como nos habituaram em competições mundiais e olímpicas.
Nem uma palavra, nem uma história, nem uma fotografia, nem um desejo, nem um carinho foi o que encontrei nas montras digitais dessas entidades.
Discriminação óbvia, desmazelo, esquecimento, incúria e indignidade, isso sim é o que estas entidades demonstram. E tudo isto é imperdoável, inaceitável e manifestamente a manifestação de incultura desportiva e de falta de humanismo.
E são estas as organizações que representam institucionalmente o nosso desporto de competição. Se houver medalhas é ver esses responsáveis, dirigentes e governantes, de imediato em posição ao lado dos até aí esquecidos e discriminados atletas.
Uma vergonha e um desgoverno (depois de o primeiro-ministro se ter prontificado a recebê-los à partida para o Oriente)!
Quem está disposto a continuar a ter destes dirigentes desportivos e governantes de tutela que assim despudoradamente discriminam o desporto e os atletas paralímpicos?
Quem se quiser dar ao trabalho de comparar as posturas que visite o site do UK Sport em www.uksport.gov.uk e veja as abissais diferenças de cultura desportiva e de respeito e dignidade democrática para com os atletas que representam o Reino Unido nos mesmos Jogos Paralímpicos.
Desporto e dignidade humana devem andar de mãos dadas numa cultura desportiva estabelecida. Mas aqui em Portugal as condutas dos dirigentes do nosso desporto deixam-nos próximos dos patamares do subdesenvolvimento!
Precisamos obviamente de muitíssimo mais de um choque cultural do que de um simples choque tecnológico que nos vendem e que não cria saudáveis princípios democráticos e de direitos humanos nas nossas elites desportivas.
Percebo porque Pessoa dizia através de Bernardo Soares (no Livro do Desassossego) que “O governo assenta em duas coisas: refrear e enganar. O mal desses termos lantejoulados é que nem refreiam nem enganam. Embebedam, quando muito, e isso é outra coisa”.
Sem comentários :
Enviar um comentário