Em terras de Viriato, de Afonso Henriques, de Camões, de Vieira e de Pessoa, vive-se hoje em 2010 como nunca foi em outros tempos. Vivem-se dias maravilhosos. O país está bem. Muito bem mesmo. Este é um “Portugal Maravilhoso”.
Há imensa riqueza pelos cantos da pátria, não há saudades de nada de ontem, só existem desejos imensos de caminhar depressa para diante para um novo e prometido progresso. A modernidade e a fronteira civilizacional andam no ar, e não há lugar onde elas não queiram e vão chegar.
A magia anda nos ventos e brisas que sopram em todos os pontos cardeais da Nação, vai nas ondas da rádio e da televisão, e os nossos líderes dão-nos essa mensagem categórica de que nada temem e que tudo é possível. Melhor mesmo é impossível, pois claro. Todos nós vemos isso, não se discute, o caminho é só um e tem grandiosos protagonistas e finalidades.
A clarividência dos nossos condutores é inaudita, que sorte a nossa, imensa, em poder contar com tão famosos e visionários dirigentes. Deixemos pois que eles façam o que têm a fazer, que é muita e muita obra generosa.
Os nossos futuros dias e anos, muitas décadas que venham no transcorrer imenso das vidas, tudo isso que é muitíssimo, estão tão prolificamente sustentados. As nossas crianças ou jovens nada têm a temer pois viverão num espaço de prosperidade como nunca, e com uma inolvidável modernidade e bem no ponto da fronteira civilizacional.
As novas descobertas do segundo milénio estão aí a surgir, Portugal será uma terra de sucesso e grandiosos feitos. O “Quinto Império” será agora preparado. A ínclita geração renasceu e está ao leme da nossa Nau – eles são os magníficos engenheiros, arquitectos, comunicadores, os verdadeiros artesãos dos “Novos Descobrimentos Portugueses”. E têm obviamente um símbolo eterno que os acompanha, a “Rosa” – a grande flor sem tempo e em nome da qual todos são obreiros e se curvam em sinal de respeito, muito respeito.
Os portugueses andam num rodopio de bonança, todos radiantes, felicidades muitas e estampadas em cada rosto, ares de bonomia e da mais tranquila construção de vidas suaves e luzentes. Nada nem ninguém suspira por algo diferente, por outra hipotética engenharia social, económica ou cultural. Todos estão encantados com o futuro que ali já vêem como benevolente e frutífero.
As ruas das cidades deste imenso Portugal estão num frenesim constante. As velhas casas são renovadas, nada é deixado ao desmando e ao abandono. As cidades são lindas, limpíssimas, as fontes jorram águas e os belos palacetes de tempos idos ali estão no seu melhor de sempre, majestosos, brancos e iluminados.
Todos os dias são radiosos e acalentadores e as pessoas no seu bulício permanente entram e saem das lojas, povoam os cafés e restaurantes, inundam cinemas e teatros, compram brinquedos, roupas, utensílios vários, e gastam dinheiro muito dinheiro, nem lhes importa o quanto.
Nas ruas perfeitas, sem máculas e perigos, circulam ininterruptamente os melhores automóveis, as belas máquinas soprando os éteres, com as boas almas em busca de passeios e viagens de negócio.
Nas escolas os jovens de hoje acumulam saberes, iluminam a sua inteligência e a sua versatilidade de pensar, e preparam-se para os trabalhos magníficos que o futuro preparado lhes destina. Nunca como agora tantos souberam tanto sobre tantas coisas. O conhecimento é a seiva do progresso, pois então. E assim se garante gentilmente a continuidade do projecto para o futuro que está nos anseios clarividentes dos nossos luminosos líderes.
Os nossos velhinhos são lindos também e estão extremosamente cuidados, em suas casinhas aconchegantes ou em bons e dignos lares. O Estado social, a fáctica providência, trata de lhes pagar religiosamente as suas magníficas pensões e reformas, que são o fruto saboroso das suas vidas de trabalho belo e suave. E com estes estipêndios valiosos, os nossos pais estão convenientemente capacitados para bem pagar os fabulosos serviços de que necessitam – seja das farmácias, seja da restauração e limpeza, seja mesmo da hotelaria de apoio.
Há em todos estes meandros da vida colectiva, portanto, um Portugal superlativo que todos podemos ver facilmente. Só não enaltece estas propriedades incomensuráveis que os portugueses vivem quem por mero escárnio e maledicência tem interesses esconsos e indecifráveis. Portugal é pois sem sombra de dúvidas um jardim à beira-mar plantado, um imenso “Roseiral”, onde perpassa o cheirinho doce do “Maravilhoso”.
E este nosso pequeno pedaço de terra, bafejado pela sorte e pela douta sapiência e visão prospectiva dos seus governantes, ainda vai tornar-se um “Imenso Portugal” – um novo “Quinto Império” de grandioso progresso, modernidade e descobertas!
Nota Solta de Catastrofista: Claro que nesta grandiloquente “estória pátria” que acima ficou não sobra linha ou papel para o défice orçamental dos 9 ponto tal (em vez dos cinco e tanto), dos mais de oitenta cêntimos de dívida pública directa por cada euro de produto, dos quase seiscentos milhões de juros ano da dívida, do endividamento de mais de cem euros em cada cem produzidos ao ano, dos seiscentos mil trabalhadores fora de fábricas, dos milhões de pobres, das pensões que quase não sobem, dos congelamentos salariais, dos doentes sem tratamentos a tempo e horas.
Essas minudências, como dizem os melhores arautos e os eternos trovadores do “Regime”, são próprias das reles continhas dos merceeiros e contabilistas.
Tudo isso, bem ao contrário, dizem os catastrofistas de plantão, são as aritméticas de um Portugal em que o Estado, essa entidade irreal e salvífica dos “Rosas e Vermelhos”, já aspira metade da riqueza do país.
Maravilhoso, mesmo, como diz o título desta prosa, é o nosso coração que tanto aguenta – até um dia em que estoire e se dê a tal “explosão” de que o “Senhor Presidente de Belém” falou...!
José Pinto Correia, Economista
Há imensa riqueza pelos cantos da pátria, não há saudades de nada de ontem, só existem desejos imensos de caminhar depressa para diante para um novo e prometido progresso. A modernidade e a fronteira civilizacional andam no ar, e não há lugar onde elas não queiram e vão chegar.
A magia anda nos ventos e brisas que sopram em todos os pontos cardeais da Nação, vai nas ondas da rádio e da televisão, e os nossos líderes dão-nos essa mensagem categórica de que nada temem e que tudo é possível. Melhor mesmo é impossível, pois claro. Todos nós vemos isso, não se discute, o caminho é só um e tem grandiosos protagonistas e finalidades.
A clarividência dos nossos condutores é inaudita, que sorte a nossa, imensa, em poder contar com tão famosos e visionários dirigentes. Deixemos pois que eles façam o que têm a fazer, que é muita e muita obra generosa.
Os nossos futuros dias e anos, muitas décadas que venham no transcorrer imenso das vidas, tudo isso que é muitíssimo, estão tão prolificamente sustentados. As nossas crianças ou jovens nada têm a temer pois viverão num espaço de prosperidade como nunca, e com uma inolvidável modernidade e bem no ponto da fronteira civilizacional.
As novas descobertas do segundo milénio estão aí a surgir, Portugal será uma terra de sucesso e grandiosos feitos. O “Quinto Império” será agora preparado. A ínclita geração renasceu e está ao leme da nossa Nau – eles são os magníficos engenheiros, arquitectos, comunicadores, os verdadeiros artesãos dos “Novos Descobrimentos Portugueses”. E têm obviamente um símbolo eterno que os acompanha, a “Rosa” – a grande flor sem tempo e em nome da qual todos são obreiros e se curvam em sinal de respeito, muito respeito.
Os portugueses andam num rodopio de bonança, todos radiantes, felicidades muitas e estampadas em cada rosto, ares de bonomia e da mais tranquila construção de vidas suaves e luzentes. Nada nem ninguém suspira por algo diferente, por outra hipotética engenharia social, económica ou cultural. Todos estão encantados com o futuro que ali já vêem como benevolente e frutífero.
As ruas das cidades deste imenso Portugal estão num frenesim constante. As velhas casas são renovadas, nada é deixado ao desmando e ao abandono. As cidades são lindas, limpíssimas, as fontes jorram águas e os belos palacetes de tempos idos ali estão no seu melhor de sempre, majestosos, brancos e iluminados.
Todos os dias são radiosos e acalentadores e as pessoas no seu bulício permanente entram e saem das lojas, povoam os cafés e restaurantes, inundam cinemas e teatros, compram brinquedos, roupas, utensílios vários, e gastam dinheiro muito dinheiro, nem lhes importa o quanto.
Nas ruas perfeitas, sem máculas e perigos, circulam ininterruptamente os melhores automóveis, as belas máquinas soprando os éteres, com as boas almas em busca de passeios e viagens de negócio.
Nas escolas os jovens de hoje acumulam saberes, iluminam a sua inteligência e a sua versatilidade de pensar, e preparam-se para os trabalhos magníficos que o futuro preparado lhes destina. Nunca como agora tantos souberam tanto sobre tantas coisas. O conhecimento é a seiva do progresso, pois então. E assim se garante gentilmente a continuidade do projecto para o futuro que está nos anseios clarividentes dos nossos luminosos líderes.
Os nossos velhinhos são lindos também e estão extremosamente cuidados, em suas casinhas aconchegantes ou em bons e dignos lares. O Estado social, a fáctica providência, trata de lhes pagar religiosamente as suas magníficas pensões e reformas, que são o fruto saboroso das suas vidas de trabalho belo e suave. E com estes estipêndios valiosos, os nossos pais estão convenientemente capacitados para bem pagar os fabulosos serviços de que necessitam – seja das farmácias, seja da restauração e limpeza, seja mesmo da hotelaria de apoio.
Há em todos estes meandros da vida colectiva, portanto, um Portugal superlativo que todos podemos ver facilmente. Só não enaltece estas propriedades incomensuráveis que os portugueses vivem quem por mero escárnio e maledicência tem interesses esconsos e indecifráveis. Portugal é pois sem sombra de dúvidas um jardim à beira-mar plantado, um imenso “Roseiral”, onde perpassa o cheirinho doce do “Maravilhoso”.
E este nosso pequeno pedaço de terra, bafejado pela sorte e pela douta sapiência e visão prospectiva dos seus governantes, ainda vai tornar-se um “Imenso Portugal” – um novo “Quinto Império” de grandioso progresso, modernidade e descobertas!
Nota Solta de Catastrofista: Claro que nesta grandiloquente “estória pátria” que acima ficou não sobra linha ou papel para o défice orçamental dos 9 ponto tal (em vez dos cinco e tanto), dos mais de oitenta cêntimos de dívida pública directa por cada euro de produto, dos quase seiscentos milhões de juros ano da dívida, do endividamento de mais de cem euros em cada cem produzidos ao ano, dos seiscentos mil trabalhadores fora de fábricas, dos milhões de pobres, das pensões que quase não sobem, dos congelamentos salariais, dos doentes sem tratamentos a tempo e horas.
Essas minudências, como dizem os melhores arautos e os eternos trovadores do “Regime”, são próprias das reles continhas dos merceeiros e contabilistas.
Tudo isso, bem ao contrário, dizem os catastrofistas de plantão, são as aritméticas de um Portugal em que o Estado, essa entidade irreal e salvífica dos “Rosas e Vermelhos”, já aspira metade da riqueza do país.
Maravilhoso, mesmo, como diz o título desta prosa, é o nosso coração que tanto aguenta – até um dia em que estoire e se dê a tal “explosão” de que o “Senhor Presidente de Belém” falou...!
José Pinto Correia, Economista
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