Dou comigo de repente, depois de ler algumas das notícias do dia, com a pergunta que a época me parece impor: o que é um líder a final das contas? E a final, não afinal, porque agora trata-se de fazer as contas que no final, a final, podem vir a ditar a vida dos portugueses por muitos anos desta segunda década do século XXI – e que vão estar no “Programa de Estabilidade e Crescimento”.
Por estas horas em Portugal a pergunta acima enunciada faz óbvio sentido, diria mesmo pode vir a ser uma das chaves para a enunciação próxima das soluções nacionais. Mas isso das soluções efectivas são contas de um dado “Rosário” que agora aqui não vem ao caso detalhar.
Acabei de ler as últimas da visita do Primeiro-Ministro a Moçambique, das cenas inolvidáveis da recepção, dos protocolos, acordos, memorandos e outros mais, obviamente.
Sabe-se que nesta mesma altura por toda a UE e nas agências de rating conhecidas se aguarda ansiosamente pela estratégia portuguesa de combate ao défice público e de promoção do crescimento económico até 2013, o conhecido “Programa de Estabilidade e Crescimento”.
Foram nestas longas semanas largamente discutidas as possíveis consequências de uma má recepção das medidas que venham a estar contempladas nessa estratégia para a vida dos portugueses, de todas as empresas e do próprio Estado, quer por parte de Bruxelas quer das agências que avaliam os riscos da divida externa nacional. Pesa, por conseguinte, sobre Portugal uma espada grande e afiada de possíveis ou prováveis aumentos assinaláveis dos custos do dinheiro internacional necessário ao financiamento de toda a dívida externa acumulada e da nova a criar.
A vida dos mais de seiscentos mil portugueses desempregados é ingrata ou desesperada. Há muitas empresas que faliram e muitas outras em risco de falência ou de desempregarem mais trabalhadores. O crédito novo para as empresas escasseia ou torna-se muito caro. Há mesmo uma greve dos funcionários públicos na ordem do dia, que junta vários sindicatos perante a perspectiva de congelamento salarial e de agravamento das condições de antecipação de reforma. E estas medidas foram a conta-gotas ainda anunciadas apenas para vigorarem em 2010.
Do “Programa de Estabilidade e Crescimento” nada se sabe com exactidão. Apenas se vai sabendo que está a ser preparado pelo Ministro das Finanças e que irá ser, possivelmente, aprovado em Conselho de Ministros especial no próximo sábado.
Ora é isto mesmo que brada aos céus. Um Primeiro-Ministro que é o líder máximo de um Governo, que tem de conduzir o País num momento de extrema gravidade em que pode estar em causa a capacidade de solver os compromissos em anos futuros, quer pelo Estado, quer pelas famílias e empresas, de garantir uma aceitação internacional de uma estratégia de redução do défice publico e de crescimento económico, em vez de estar ao leme a conduzir politicamente as opções essenciais do País nestes anos próximos escolhe fazer uma visita ao estrangeiro.
Por mais importante que seja essa visita ela poderia ser feita em qualquer outra melhor e mais adequada ocasião. Nunca numa circunstância em que um líder que se preza de o ser, e tem responsabilidades de que não quer nem deve abdicar, deve estar concentrado em decidir as grandes linhas de orientação da política nacional do País que governa ou diz governar.
Quem pode acreditar numa liderança que está ausente nos momentos decisivos em que se tomam as grandes decisões, se fazem as escolhas que podem decidir a vida de milhões de portugueses, de milhares e milhares de empresas e famílias e a solvabilidade externa do próprio Estado?
Perante esta inqualificável ausência do Primeiro-Ministro vai ser sempre possível pôr em causa a sua liderança no processo de formulação das linhas do “Programa de Estabilidade e Crescimento”. Nunca se poderá saber que importância teve a sua orientação superior, que lhe cabia assumir, nas opções de política que estarão contidas naquele “Programa”.
O que fica na percepção pública é a sensação estranha e de renovada incomodidade para com um líder que se ausenta do principal trabalho de condução política nacional no preciso momento em que esse trabalho está intensamente a ser preparado para apresentação aos portugueses e ao Mundo.
Um líder não é, não pode ser, um qualquer ausente, tem de estar sempre no comando das situações críticas, na primeira linha da condução dos negócios públicos, e de dar as orientações, fazer as escolhas, tomar as opções e decisões mais importantes do seu Governo.
Nos momentos mais difíceis é que os verdadeiros líderes assumem com audácia e combatividade o comando das operações, apontam os caminhos, projectam o futuro diferente, assumem as suas inquestionáveis responsabilidades na “batalha a travar”. Os líderes não podem estar de fora no momento decisivo e transmitirem aos que dizem ou querem liderar que estão em fuga, longe do ponto de encontro com o futuro de emergência que todos os portugueses sabem que é o de Portugal em Março de 2010. E que vai ser também indubitavelmente os dos próximos anos desta década.
Os grandes líderes vêem-se nos momentos mais difíceis, quando é necessário encontrar os caminhos e as soluções que permitam dar ou restaurar a esperança a quem a perdeu ou está a perder, quando é necessária a coragem para dar exemplos de rectidão e poder pedir sacrifícios, quando também é indispensável ter um sentido apurado de justiça para repartir os sacrifícios que socialmente sejam exigíveis para restaurar a credibilidade das contas nacionais nos mercados internacionais. E para fazer tudo isto um verdadeiro líder, que se queira legitimar aos olhos dos que quer liderar, tem de estar sempre, sempre, ao leme – tal como estiveram noutras e distantes épocas os navegadores desta Nação portuguesa.
José Pinto Correia, Economista
Por estas horas em Portugal a pergunta acima enunciada faz óbvio sentido, diria mesmo pode vir a ser uma das chaves para a enunciação próxima das soluções nacionais. Mas isso das soluções efectivas são contas de um dado “Rosário” que agora aqui não vem ao caso detalhar.
Acabei de ler as últimas da visita do Primeiro-Ministro a Moçambique, das cenas inolvidáveis da recepção, dos protocolos, acordos, memorandos e outros mais, obviamente.
Sabe-se que nesta mesma altura por toda a UE e nas agências de rating conhecidas se aguarda ansiosamente pela estratégia portuguesa de combate ao défice público e de promoção do crescimento económico até 2013, o conhecido “Programa de Estabilidade e Crescimento”.
Foram nestas longas semanas largamente discutidas as possíveis consequências de uma má recepção das medidas que venham a estar contempladas nessa estratégia para a vida dos portugueses, de todas as empresas e do próprio Estado, quer por parte de Bruxelas quer das agências que avaliam os riscos da divida externa nacional. Pesa, por conseguinte, sobre Portugal uma espada grande e afiada de possíveis ou prováveis aumentos assinaláveis dos custos do dinheiro internacional necessário ao financiamento de toda a dívida externa acumulada e da nova a criar.
A vida dos mais de seiscentos mil portugueses desempregados é ingrata ou desesperada. Há muitas empresas que faliram e muitas outras em risco de falência ou de desempregarem mais trabalhadores. O crédito novo para as empresas escasseia ou torna-se muito caro. Há mesmo uma greve dos funcionários públicos na ordem do dia, que junta vários sindicatos perante a perspectiva de congelamento salarial e de agravamento das condições de antecipação de reforma. E estas medidas foram a conta-gotas ainda anunciadas apenas para vigorarem em 2010.
Do “Programa de Estabilidade e Crescimento” nada se sabe com exactidão. Apenas se vai sabendo que está a ser preparado pelo Ministro das Finanças e que irá ser, possivelmente, aprovado em Conselho de Ministros especial no próximo sábado.
Ora é isto mesmo que brada aos céus. Um Primeiro-Ministro que é o líder máximo de um Governo, que tem de conduzir o País num momento de extrema gravidade em que pode estar em causa a capacidade de solver os compromissos em anos futuros, quer pelo Estado, quer pelas famílias e empresas, de garantir uma aceitação internacional de uma estratégia de redução do défice publico e de crescimento económico, em vez de estar ao leme a conduzir politicamente as opções essenciais do País nestes anos próximos escolhe fazer uma visita ao estrangeiro.
Por mais importante que seja essa visita ela poderia ser feita em qualquer outra melhor e mais adequada ocasião. Nunca numa circunstância em que um líder que se preza de o ser, e tem responsabilidades de que não quer nem deve abdicar, deve estar concentrado em decidir as grandes linhas de orientação da política nacional do País que governa ou diz governar.
Quem pode acreditar numa liderança que está ausente nos momentos decisivos em que se tomam as grandes decisões, se fazem as escolhas que podem decidir a vida de milhões de portugueses, de milhares e milhares de empresas e famílias e a solvabilidade externa do próprio Estado?
Perante esta inqualificável ausência do Primeiro-Ministro vai ser sempre possível pôr em causa a sua liderança no processo de formulação das linhas do “Programa de Estabilidade e Crescimento”. Nunca se poderá saber que importância teve a sua orientação superior, que lhe cabia assumir, nas opções de política que estarão contidas naquele “Programa”.
O que fica na percepção pública é a sensação estranha e de renovada incomodidade para com um líder que se ausenta do principal trabalho de condução política nacional no preciso momento em que esse trabalho está intensamente a ser preparado para apresentação aos portugueses e ao Mundo.
Um líder não é, não pode ser, um qualquer ausente, tem de estar sempre no comando das situações críticas, na primeira linha da condução dos negócios públicos, e de dar as orientações, fazer as escolhas, tomar as opções e decisões mais importantes do seu Governo.
Nos momentos mais difíceis é que os verdadeiros líderes assumem com audácia e combatividade o comando das operações, apontam os caminhos, projectam o futuro diferente, assumem as suas inquestionáveis responsabilidades na “batalha a travar”. Os líderes não podem estar de fora no momento decisivo e transmitirem aos que dizem ou querem liderar que estão em fuga, longe do ponto de encontro com o futuro de emergência que todos os portugueses sabem que é o de Portugal em Março de 2010. E que vai ser também indubitavelmente os dos próximos anos desta década.
Os grandes líderes vêem-se nos momentos mais difíceis, quando é necessário encontrar os caminhos e as soluções que permitam dar ou restaurar a esperança a quem a perdeu ou está a perder, quando é necessária a coragem para dar exemplos de rectidão e poder pedir sacrifícios, quando também é indispensável ter um sentido apurado de justiça para repartir os sacrifícios que socialmente sejam exigíveis para restaurar a credibilidade das contas nacionais nos mercados internacionais. E para fazer tudo isto um verdadeiro líder, que se queira legitimar aos olhos dos que quer liderar, tem de estar sempre, sempre, ao leme – tal como estiveram noutras e distantes épocas os navegadores desta Nação portuguesa.
José Pinto Correia, Economista
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