quinta-feira, 2 de julho de 2009

Campeonato da Europa de Nações de Atletismo

Disputou-se no último fim-de-semana em Leiria o Campeonato da Europa das Nações em Atletismo que reunia os países mais fortes do panorama europeu nesta modalidade.

Portugal terminou a sua participação apenas à frente da selecção da Suécia e desceu para a divisão secundária, onde disputará a futura competição da 1ª Liga Europeia.

Foi publicada uma classificação final com os 45 países que participaram no Campeonato da Europa de Nações, divididos pelas quatro divisões: Superliga, I Liga, II e III Liga. Portugal tendo sido 11.º classificado na divisão mais importante, desceu agora à I Liga e em 2010 defrontará selecções como a Holanda, a Bélgica e a Hungria. Completam o lote de futuros adversários de Portugal, nesta divisão secundária do atletismo europeu, países como a Turquia, a Roménia, a Eslovénia e a Estónia, acrescidos da Lituânia, e da Irlanda, que subiram da II Liga, e a República Checa e a Suécia, que também desceram agora da Superliga.

A nossa participação neste grupo mais forte dos países europeus tinha à partida fracas expectativas e confirmou-se que apenas um pequeno número dos nossos atletas têm capacidade de obter resultados vencedores nas respectivas provas em que competem neste nível maior do atletismo europeu.

Mas para além da fraquíssima assistência nas bancadas do Estádio de Leiria onde decorreram as provas, o que é bem revelador da falta de espírito desportivo e de patente iliteracia que atravessa a sociedade portuguesa quando não está presente o futebol, o que mais se deve ressaltar é o grau de aceitação pronta dos nossos fracos resultados competitivos que perpassou na opinião mediática e nos dirigentes desportivos do sector do atletismo.

O que é tanto mais inaceitável quanto tem sido enaltecido pelo Secretário de Estado do Desporto e por dirigentes olímpicos que o nosso desporto atravessa condições de franca saúde e tem tido recursos como nunca em anteriores períodos.

Que avaliação fazem ou irão fazer os dirigentes federativos do atletismo, o Governo e o Comité Olímpico de Portugal (COP) deste retrocesso desportivo na Europa? E que novos programas, projectos e processos de desenvolvimento da modalidade perspectivam para que o nível competitivo nacional melhore e possa apresentar outros resultados já nos próximos Jogos Olímpicos de Londres em 2012?

Seria extremamente importante para se poder aquilatar desde já do que se prepara para Londres 2012 que o Governo publicitasse em pleno os contratos e respectivos protocolos anexos firmados com o COP para os Jogos de Londres. Porque o país tem o direito de conhecer e discutir quais os instrumentos organizacionais, de gestão e estratégicos que foram incluídos nesse Programa, o qual levou praticamente um ano a firmar depois dos resultados da participação nos Jogos de Pequim 2008.

Portugal não pode continuar a assistir a grandes declarações sobre os níveis de financiamento e organização desportiva por parte quer dos dirigentes desportivos que se perpetuam no cimo da estrutura organizativa do movimento associativo, quer dos actuais governantes e, ao mesmo tempo, cada vez que é submetido a competições internacionais apresentar resultados que contraditam essas afirmações grandiloquentes e categóricas do “melhor dos mundos no desporto nacional”.

Portugal no atletismo na Europa acaba justamente de descer de nível, de ser relegado da confrontação directa com os melhores países do continente. Não se pode aceitar esse resultado competitivo sem que simultaneamente se assumam as devidas responsabilidades e se retirem as lições para introduzir melhorias que permitam fixar objectivos mais elevados e traçar as correspondentes estratégias de desenvolvimento desportivo e organizacional na modalidade.

O mínimo que se deveria exigir era a realização imediata de um fórum de discussão aberta entre as entidades federativas do atletismo, as do Governo e o COP, que delineasse um novo caminho de evolução do nível desportivo do atletismo português já para os Jogos de Londres de 2012.

Porque se tal não for feito, e não existir uma discussão séria sobre a evolução a realizar, estaremos muito provavelmente em Londres 2012 de novo a carpir as mesmas angústias que percorreram as páginas dos media nacionais durante os incidentes de Pequim 2008, uma vez mais com os mesmos intervenientes dirigentes a trespassarem culpas para os atletas e os governantes da data a deitarem paninhos quentes e água na fervura dos dias.

E assim terá perdido o atletismo e o desporto nacional mais uma oportunidade de melhorar e apresentar ao país outro nível de sucesso desportivo.

José Pinto Correia, Mestre em Gestão do Desporto







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