Em Portugal há muitos anti-capitalistas, muito discurso anti-capitalista, muitíssimo conceito e preconceito contrário à iniciativa privada, ao lucro, ao mérito e ao sucesso individual, à busca de um lugar individual de cada qual na sua vida pessoal e familiar, à independência e à autonomia dos indivíduos perante uma engrenagem da sociedade e aos mecanismos e ao poder supremo do Estado.
Este tipo de narrativas anti-capitalistas e anti-liberais estão na nossa matriz republicana e constitucional, nos líderes políticos da esquerda radical e totalitária do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda, mas também em outros sectores da opinião pública e mediática, nos sindicatos, nos corredores da administração pública, ou em certos discursos e representantes do topo da hierarquia da própria Igreja Católica portuguesa.
Por isso, na nossa praça pública há tantos que agitam e suspiram por novos paradigmas económicos, políticos, sociais ou até mesmo culturais. E estas novas procuras de cura para todos os males do capitalismo nacional aproximam-se rapidamente das tradicionais utopias do fim da história, da redenção do homem português, de um novo império das virtudes e da imensa e eterna justiça social.
Portanto, auguram-se outros paradigmas, novos modelos, muito anti-capitalistas e anti-liberais, onde o Estado iluminado redimiria todas as flagrantes injustiças e misérias abjectas do nosso capitalismo, neoliberal como agora é convenientemente apelidado.
Só que há algumas questões que se podem e devem colocar a esses prestimosos arautos da salvação das almas subjugadas pelo capitalismo e pela burguesia egoísta e predadora.
Exemplificando para o Portugal de 2010, com os seus problemas conhecidos mas também muitas vezes negados pelos novos apóstolos da utopia anti-capitalista, como é que esses paradigmas salvíficos responderiam aos problemazinhos que corporizam a nossa triste realidade.
Enquanto se procuram novos paradigmas que estejam para além do capitalismo e do comunismo, como se resolvem os casos absolutamente insuportáveis dos quase setecentos mil desempregados portugueses? Será com as soluções tipo Bloco de Esquerda de fazer entrar mais cem mil pessoas nos quadros da Administração Pública? Ou com as do Partido Comunista de voltar a nacionalizar as empresas de grande dimensão, hoje privadas? E quem vai dar emprego às centenas de milhares de mulheres e homens de família, muitos de meia-idade e sem quaisquer qualificações e experiências de trabalho diferente da que sempre tiveram nas respectivas fábricas desaparecidas ou falidas?
Convém dizer que o nosso fantástico capitalismo, que é tão violentamente atacado pelos diversos cultores anti-capitalistas portugueses, apenas era antes de 1974, com significado nacional e internacional, um punhado de empresas protegidas da concorrência internacional e pertença de meia dúzia de grupos económicos. Em tudo o mais esse capitalismo português era miserando, com milhares de empresas tecnologicamente fragilizadas e inundadas de mão-de-obra sem qualificações, e em sectores industriais que interessavam à divisão do trabalho que existia entre a Europa do Norte e a do Sul.
Mas aquele pouco capitalismo com algum potencial e significado interno e externo foi todo expropriado e nacionalizado até aos anos 90, obedecendo a tudo menos à lógica capitalista da concorrência mundial.
E o que é, então, agora em 2010 esse nosso tão ignóbil e despudorado capitalismo? Meia dúzia de bancos privados altamente endividados e dependentes dos financiamentos externos pertencentes a milhares de accionistas muitas vezes estrangeiros. Mais algumas outras grandes empresas, também altamente endividadas, sobretudo de sectores de bens não transaccionáveis, como a EDP, a REN, a GALP, a PT, e mais umas outras parcas centenas de empresas de dimensão média. E que todas juntas pagam praticamente todo o IRC de Portugal, praticam bons níveis salariais para uns quantos milhares de quadros e liquidam parcelas relevantes do IVA e do IRS nacionais.
Porque é conveniente recordar a realidade do restante capitalismo voraz de Portugal, apregoado pelos ideólogos anti-capitalistas, como sendo correspondente a mais de 98% das nossas empresas, as quais são de pequena dimensão e com menos de 10 trabalhadores; e que também cerca de setenta por cento de todas as nossas empresas não pagaram IRC em 2010 porque não tinham tido resultados positivos no ano anterior, que já era de crise económica e financeira pronunciada.
Por toda esta real fraqueza do capitalismo português é que em Maio passado, com o PEC II, quando o Governo decidiu aumentar as taxas do IRS para 45% aos ricos do País, que se definiu serem todos aqueles que ganham e declaram mais de 150.000 euros por ano, apenas existiam neste enormíssimo capitalismo neoliberal e explorador cerca de 30 mil agregados familiares nessas condições, o que daria qualquer coisa como 120.000 pessoas envolvidas nesses mantos diáfanos da nossa grande burguesia. E esse acréscimo de imposto ficou cifrado em cerca de 30 milhões de euros (uma majestática soma para acorrer aos mais que justos desejos e dispêndios do nosso grandiloquente Estado).
Então que vigoroso capitalismo é este em que existe em Portugal em 2010? Que justifique essas buscas de um qualquer novíssimo “Graal Anti-Capitalista”?
E será esse exercício de alquimia político-ideológica que vai ser capaz de criar empresas, empregos e riqueza para distribuir por trabalhadores e pelos mais pobres e excluídos? Sem capitalismo a sério, sem novas empresas de todas as dimensões, será possível que o futuro de milhões de jovens qualificados que vão estar no mercado de trabalho nas próximas décadas e as centenas de milhares de actuais desempregados encontrem em Portugal espaço para organizarem dignamente as suas vidas pessoais e familiares? Onde e por que entidades serão originados os recursos financeiros e económicos que pagarão os nossos sistemas sociais de saúde, de educação, de reformas e pensões de mais de três milhões de pessoas actuais que serão ainda mais futuramente? E como será paga a enormíssima dívida pública acumulada (que já se aproxima a passos largos dos cem por cento da riqueza anualmente criada no País)?
Portugal terá mesmo viabilidade económica e equilíbrio social ou decairá até próximo das circunstâncias do início dos anos noventa do século anterior, continuando a perder décadas como a deste início de século o foi? E então a ideologia e as utopias anti-capitalistas que tantos defendem, disseminam e propagandeiam na esquerda comunista e socialista, servirão para quê e a quantos portugueses?
Não haverá antes, pelo caminho de apodrecimento democrático e do regime a que se vem assistindo flagrantemente, uma qualquer Maria da Fonte, entretanto? E para que outras utopias se refugiarão progressivamente os dirigentes desta deslocada narrativa anti-capitalista, que apregoa exaustivamente os direitos inesgotáveis, as promessas e das possibilidades do “Sal na Terra”, ou o tudo e o mais, sempre?
Bem ao contrário dessa idealização anti-capitalista de raízes indisfarçavelmente totalitárias, esta hora portuguesa que vivemos em Setembro de 2010 é mesmo aquela da última estrofe do poema Mensagem de Pessoa!
O futuro das nossas filhas e filhos e até mesmo o meu, que ainda estarei mais dez anos pelo menos a servir o Estado, num clima reinante de completo despudor que está inequivocamente instalado e onde eu já não revejo a noção de serviço público com que iniciei as minhas funções nos final dos anos 70 do século vinte, está ameaçado e muito, e o céu cinzento carregado está aqui mesmo já ao virar da esquina.
Chama-se muito provavelmente FMI! E repetirá 1983-85 sem Mário Soares, Silva Lopes, Hernâni Lopes ou até mesmo Medina Carreira, e com muito pouca atenção aos cânones da nossa Constituição e democracia. E o Professor Medina Carreira, o tal catastrofista e alarmista de serviço, como foi sendo apelidado nos últimos anos pelos idiotas úteis do optimismo propagandístico e da infâmia, não profetizou, apenas se dedicou a fazer as contas do regime, e desiludiu-se, tal como eu e muitos outros, da sagração ideológica que nos foi vendida desde 1976, e que ainda tem consagração no Preâmbulo magnânime da intocável CRP.
Paradigmas, que paradigmas anti-capitalistas, quais utopias deslocadas e insanas, quando é já o comboio a alta velocidade que está a vir do fim do túnel direitinho às nossas cabeças?
José Pinto Correia, Economista
Este tipo de narrativas anti-capitalistas e anti-liberais estão na nossa matriz republicana e constitucional, nos líderes políticos da esquerda radical e totalitária do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda, mas também em outros sectores da opinião pública e mediática, nos sindicatos, nos corredores da administração pública, ou em certos discursos e representantes do topo da hierarquia da própria Igreja Católica portuguesa.
Por isso, na nossa praça pública há tantos que agitam e suspiram por novos paradigmas económicos, políticos, sociais ou até mesmo culturais. E estas novas procuras de cura para todos os males do capitalismo nacional aproximam-se rapidamente das tradicionais utopias do fim da história, da redenção do homem português, de um novo império das virtudes e da imensa e eterna justiça social.
Portanto, auguram-se outros paradigmas, novos modelos, muito anti-capitalistas e anti-liberais, onde o Estado iluminado redimiria todas as flagrantes injustiças e misérias abjectas do nosso capitalismo, neoliberal como agora é convenientemente apelidado.
Só que há algumas questões que se podem e devem colocar a esses prestimosos arautos da salvação das almas subjugadas pelo capitalismo e pela burguesia egoísta e predadora.
Exemplificando para o Portugal de 2010, com os seus problemas conhecidos mas também muitas vezes negados pelos novos apóstolos da utopia anti-capitalista, como é que esses paradigmas salvíficos responderiam aos problemazinhos que corporizam a nossa triste realidade.
Enquanto se procuram novos paradigmas que estejam para além do capitalismo e do comunismo, como se resolvem os casos absolutamente insuportáveis dos quase setecentos mil desempregados portugueses? Será com as soluções tipo Bloco de Esquerda de fazer entrar mais cem mil pessoas nos quadros da Administração Pública? Ou com as do Partido Comunista de voltar a nacionalizar as empresas de grande dimensão, hoje privadas? E quem vai dar emprego às centenas de milhares de mulheres e homens de família, muitos de meia-idade e sem quaisquer qualificações e experiências de trabalho diferente da que sempre tiveram nas respectivas fábricas desaparecidas ou falidas?
Convém dizer que o nosso fantástico capitalismo, que é tão violentamente atacado pelos diversos cultores anti-capitalistas portugueses, apenas era antes de 1974, com significado nacional e internacional, um punhado de empresas protegidas da concorrência internacional e pertença de meia dúzia de grupos económicos. Em tudo o mais esse capitalismo português era miserando, com milhares de empresas tecnologicamente fragilizadas e inundadas de mão-de-obra sem qualificações, e em sectores industriais que interessavam à divisão do trabalho que existia entre a Europa do Norte e a do Sul.
Mas aquele pouco capitalismo com algum potencial e significado interno e externo foi todo expropriado e nacionalizado até aos anos 90, obedecendo a tudo menos à lógica capitalista da concorrência mundial.
E o que é, então, agora em 2010 esse nosso tão ignóbil e despudorado capitalismo? Meia dúzia de bancos privados altamente endividados e dependentes dos financiamentos externos pertencentes a milhares de accionistas muitas vezes estrangeiros. Mais algumas outras grandes empresas, também altamente endividadas, sobretudo de sectores de bens não transaccionáveis, como a EDP, a REN, a GALP, a PT, e mais umas outras parcas centenas de empresas de dimensão média. E que todas juntas pagam praticamente todo o IRC de Portugal, praticam bons níveis salariais para uns quantos milhares de quadros e liquidam parcelas relevantes do IVA e do IRS nacionais.
Porque é conveniente recordar a realidade do restante capitalismo voraz de Portugal, apregoado pelos ideólogos anti-capitalistas, como sendo correspondente a mais de 98% das nossas empresas, as quais são de pequena dimensão e com menos de 10 trabalhadores; e que também cerca de setenta por cento de todas as nossas empresas não pagaram IRC em 2010 porque não tinham tido resultados positivos no ano anterior, que já era de crise económica e financeira pronunciada.
Por toda esta real fraqueza do capitalismo português é que em Maio passado, com o PEC II, quando o Governo decidiu aumentar as taxas do IRS para 45% aos ricos do País, que se definiu serem todos aqueles que ganham e declaram mais de 150.000 euros por ano, apenas existiam neste enormíssimo capitalismo neoliberal e explorador cerca de 30 mil agregados familiares nessas condições, o que daria qualquer coisa como 120.000 pessoas envolvidas nesses mantos diáfanos da nossa grande burguesia. E esse acréscimo de imposto ficou cifrado em cerca de 30 milhões de euros (uma majestática soma para acorrer aos mais que justos desejos e dispêndios do nosso grandiloquente Estado).
Então que vigoroso capitalismo é este em que existe em Portugal em 2010? Que justifique essas buscas de um qualquer novíssimo “Graal Anti-Capitalista”?
E será esse exercício de alquimia político-ideológica que vai ser capaz de criar empresas, empregos e riqueza para distribuir por trabalhadores e pelos mais pobres e excluídos? Sem capitalismo a sério, sem novas empresas de todas as dimensões, será possível que o futuro de milhões de jovens qualificados que vão estar no mercado de trabalho nas próximas décadas e as centenas de milhares de actuais desempregados encontrem em Portugal espaço para organizarem dignamente as suas vidas pessoais e familiares? Onde e por que entidades serão originados os recursos financeiros e económicos que pagarão os nossos sistemas sociais de saúde, de educação, de reformas e pensões de mais de três milhões de pessoas actuais que serão ainda mais futuramente? E como será paga a enormíssima dívida pública acumulada (que já se aproxima a passos largos dos cem por cento da riqueza anualmente criada no País)?
Portugal terá mesmo viabilidade económica e equilíbrio social ou decairá até próximo das circunstâncias do início dos anos noventa do século anterior, continuando a perder décadas como a deste início de século o foi? E então a ideologia e as utopias anti-capitalistas que tantos defendem, disseminam e propagandeiam na esquerda comunista e socialista, servirão para quê e a quantos portugueses?
Não haverá antes, pelo caminho de apodrecimento democrático e do regime a que se vem assistindo flagrantemente, uma qualquer Maria da Fonte, entretanto? E para que outras utopias se refugiarão progressivamente os dirigentes desta deslocada narrativa anti-capitalista, que apregoa exaustivamente os direitos inesgotáveis, as promessas e das possibilidades do “Sal na Terra”, ou o tudo e o mais, sempre?
Bem ao contrário dessa idealização anti-capitalista de raízes indisfarçavelmente totalitárias, esta hora portuguesa que vivemos em Setembro de 2010 é mesmo aquela da última estrofe do poema Mensagem de Pessoa!
O futuro das nossas filhas e filhos e até mesmo o meu, que ainda estarei mais dez anos pelo menos a servir o Estado, num clima reinante de completo despudor que está inequivocamente instalado e onde eu já não revejo a noção de serviço público com que iniciei as minhas funções nos final dos anos 70 do século vinte, está ameaçado e muito, e o céu cinzento carregado está aqui mesmo já ao virar da esquina.
Chama-se muito provavelmente FMI! E repetirá 1983-85 sem Mário Soares, Silva Lopes, Hernâni Lopes ou até mesmo Medina Carreira, e com muito pouca atenção aos cânones da nossa Constituição e democracia. E o Professor Medina Carreira, o tal catastrofista e alarmista de serviço, como foi sendo apelidado nos últimos anos pelos idiotas úteis do optimismo propagandístico e da infâmia, não profetizou, apenas se dedicou a fazer as contas do regime, e desiludiu-se, tal como eu e muitos outros, da sagração ideológica que nos foi vendida desde 1976, e que ainda tem consagração no Preâmbulo magnânime da intocável CRP.
Paradigmas, que paradigmas anti-capitalistas, quais utopias deslocadas e insanas, quando é já o comboio a alta velocidade que está a vir do fim do túnel direitinho às nossas cabeças?
José Pinto Correia, Economista
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