quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O “Governo Prozac” e Portugal


“E vem-nos à memória uma frase batida”, dizia a canção, e continuava, “Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”. Melhor mesmo, hoje é o primeiro orçamento do resto das nossas vidas. Estamos na hora pequena em que “A Rosa Murchou!”.

E agora o nosso superlativo “Governo Prozac”, que distribuía optimismo em carradas, vendia regalias eternas, suspirava por cada décima de produto ou de emprego, proclamava grandiosos projectos e uma modernidade interminável, esse “Governo de Reengenharia” contabilística está a dar de caras com as contas para 2011. E vai ter que apresentar o seu Orçamento de Estado, com as suas escolhas e prioridades ao País e à União Europeia e aos olhos de águias dos nossos financiadores externos.

Entretanto, com as danças, contradanças e cenas bacocas ministeriais do dito Governo, veio-me à memória que o lema com que hoje Portugal está confrontado, “A Hora da Verdade”, era um dos que constavam dos cartazes da assaz vilipendiada e odiada doutora Manuela Ferreira Leite na campanha eleitoral do ano passado, e que eu cheguei a ver exibidos vezes sem conta na rotunda do Centro Sul em Almada.

Não, não, dizia alto e a bom som o nosso Engenheiro em todas as frentes mediáticas e outras, essa verdade da doutora era mentira, pessimismo puro, falta de querer fazer, porque a verdadeira hora era a que ele tinha para dar a Portugal, a das novíssimas promessas, das grandiosas obras republicanas, da moderníssima estirpe da “Rosa”, púrpura de Lisboa até aos arredores de Madrid e da Europa.

Não estava do lado certo, claro, aquele prenúncio sulista e elitista da Senhora Ferreira Leite. Portugal precisava do engenho e arte magníficos do “Governo Prozac” por mais uns quantos anos, longos e bons para tudo e todos, por consequência.

Mas agora, chegados a Setembro de 2010, já com dois PEC aprovados entrementes, parece que a tal “Hora da Verdade”, muito pequena e tristonha, está chegar em cima das nossas cabeças, provavelmente com uma adjunta suspensão das inúmeras virtualidades da nossa democracia intemporal e insigne que muitos desacreditavam que pudesse ser possível acontecer neste Portugal abrilista, fecundo de direitos e promessas para sempre.

Afinal, como agora parece estar visível e quantificável, os espanhóis e os irlandeses, e mesmo os próprios gregos já intervencionados pela união Europeia e FMI, lá foram fazendo o seu duro trabalho enquanto que aqui o “Governo Rosa” descarrilou e, agora mesmo, ainda falta com os dados à Republica e à oposição. E já agora também aos portugueses que elegeram bem enganados o Senhor Engenheiro há praticamente um ano, com as suas benevolentes promessas do paraíso na terrinha rectangular desta ocidental praia.

Valia a pena, se me permitem a sugestão amável, ir agora rebuscar as palavras da tal “Velha Senhora Ferreira Leite” (bruxa como alguns dos nossos denodados universalistas e humanistas intrépidos então também lhe chamaram), avisadas como agora parecem ser finalmente, quando se vislumbram tão decisivamente os restos deste regime glorioso, tão correctamente glorificado e tão prestimoso, enfileirado no “Governo Prozac” do Engenheiro Sócrates. Aquele que “prometia mais que a gesta humana”, e um Estado omnipotente e sagrado, com direitos universais e gratuitos, tal como escrupulosamente dispôs a nossa intocável e mui eternamente socialista Constituição da República Portuguesa.

Só que neste momento exacto de 2010 estão à vista as contas desta República. E os credores da dita, e também já certa desdita, nossa e das próximas gerações de portugueses, estão a olhar preocupadamente para este nosso desgoverno. E as carradas de Prozac que alimentaram esta ilusória e mentirosa governação já não fazem efeito ao mais alto nível. Por isso, se vem assistindo a uma trágica encenação do Primeiro-Ministro e dos seus mais fiéis seguidores, da qual tenta agora descolar em último recurso o Ministro Teixeira dos Santos. Tarde, muito tarde, e na tal má hora, “A Hora da Verdade”, que já nos cai violentamente e cheia de imposturas em cima.

E que faz ou parece querer fazer o homem do leme? O homem do leme quererá mesmo fugir? Agora que já nos meteu no buraco enormíssimo que vai custar gerações a liquidar? Deixou de nos dar a tomar o “Governo Prozac”? Já se terá passado mesmo para o “Third Life”?

E como dar crédito ao Ministro das Finanças, que deixou assinar as inumeráveis Parcerias Público-Privadas para as estradas, os hospitais, e a alta velocidade, e aumentar as despesas do Estado para as quais garantiu milhões e milhões de euros de impostos novos? Que continuou alegre e despreocupadamente a alimentar todos os milhares de cargos da boa gente das muitas centenas de organismos e empresas públicas, e o aumento imparável da dívida pública e do endividamento das empresas públicas que tutelava? Como vem agora à superfície o Doutor Teixeira dos Santos, repentinamente, para desdizer todo o Governo que andou nestes últimos tempos em circos de inaugurações e psicologia barata alimentada a carradas de Prozac? E quer mais impostos, e outras receitas e talvez mesmo congelamentos salariais, para poder continuar alegremente a alimentar a despesa pública sem qualquer esforço sério e credível de contenção?

Por mim, acho mesmo, depois da baixeza da encenação “Silva Pereirista” de há uns dias, inusitadamente no final de um Conselho de Ministros desta República, que foi encomenda empaticamente Socrática, que o Dr. Passos Coelho deve ter chegado às mesmas conclusões da Doutora Manuela Ferreira Leite sobre a transversa honorabilidade e confiabilidade política e pessoal deste Primeiro-Ministro e dos seus mais íntimos fiéis. O qual terá querido negociar, ou melhor impor à oposição em disciplina prévia, tudo quanto é o contrário do que andou a dizer e a fazer, depois de ter circulado cá pelo “Terreiro” de norte a sul, durante os últimos meses, a olhar para as praias e a atrelar-se a tudo quanto eram inaugurações, tijolos e pedras.

Isto é francamente de mais para qualquer paciência santificada que seja, e a do doutor Passos Coelho nem parece que a tal sagração queira ou possa aspirar!

Para muitos dos que vêem tudo isto que agora se vem passando como uma descomunal e maquiavélica encenação montada pelo homem do leme deste “Governo Prozac” nem é estranha a tentativa dele para intentar um processo extemporâneo de fuga, e apressada, às suas responsabilidades. Só que agora vai ter de arcar com tudo quanto criou, de enfrentar a dureza da realidade que sempre negou, e dizer aos portugueses o contrário daquilo que ainda há semanas dizia em cada inauguração de uma qualquer creche deste País. E terá de apresentar o seu Orçamento de Estado a Portugal, defendendo as soluções que preconize para os problemas que sempre negou ou esqueceu.

Os portugueses irão, finalmente, mas com mais pobreza e miséria de muitos dos seus familiares e concidadãos, tomar consciência das contas que o Engenheiro Sócrates e o seu prestimoso “Governo Prozac” deixarão para as próximas décadas, mas igualmente do estado miserável a que conduziram a economia e as finanças públicas de Portugal. E saberão também, ao mesmo tempo, contar e recontar os muitos milhares de empregos bem pagos que nestes mais de cinco anos foram criados para os camaradas e apaniguados da “Rosa Socialista” em todos os serviços do Estado, empresas públicas, e assessorias ministeriais, nomeadamente. E ainda também virão a conhecer as centenas e centenas de milhões de euros das PPP que ficaram para os bancos e as empresas deste regime de mentira que deixa o País moribundo económica e financeiramente.

Estou há muito com Medina Carreira, com Hernâni Lopes, com Silva Lopes, com António Barreto e mesmo com Eduardo Catroga. Este último bem avisou há um ano na Associação Industrial Portuguesa, com mais de sessenta diapositivos e contas feitas ao milhão de euros, como devia fazer-se renascer Portugal desta decadência e empobrecimento vil em que fomos metidos por esta governação de más contas e responsabilidades.

Sim, porque o máximo responsável deste “Governo Prozac” até pensou em fugir agora, deixando Portugal a arder! E que atrás dele viria a União Europeia e o FMI algum tempo depois tratar de toda esta insustentabilidade para que avisava há poucas semanas o actual Presidente da República.

Sustentável mesmo é a leveza deste Engenheiro, homem político que apenas quer o poder pelo poder e a todos os custos, e que agora pensava poder irresponsavelmente escapulir-se para um qualquer exílio do “Third Life”!

José Pinto Correia, Economista

1 comentário :

mjmgnunes disse...

"... porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados" Jorge de Sena in "No País dos sacanas"
O pior é que os sacanas nem são refinados, é mesmo à bruta e à descarada.