Portugal 2011. Vive mergulhado, submerso mesmo, numa tragédia financeira, económica e social. Está perto do “Fundo” e dificilmente escapará de “ir ao Fundo”. Aqui fomos conduzidos por muita e profunda incompetência e uma alarvice de propaganda sem primor nem vergonha.
Por mando e a ordens de quem nestes vários anos? Por um Governo e um Primeiro-Ministro que ainda há um ano apresentavam eleitoralmente ao País o “Sol na Terra”, uma cornucópia de promessas, um rodo de dinheiros para tudo e todos, uma palete de novos e grandiosos projectos públicos, e uma maré imensa de “rosas” a serem distribuídas do Minho ao Algarve até à eternidade do tempo que fosse o destas senhorias que tomariam conta do Estado, do Povo e da Nação.
Quis-se construir, numa mastodôntica maquinação de engenharia social, uma Nação de portugueses dependentes e obrigados a um Governo e ao seu Estado, tomado de assaltos sucessivos por uma camaradagem imensa espalhada por todos os mais diversos braços dessa imensa máquina, dirigida por esses reverendos apaniguados, todos devidamente enfeudados às ordens e ditames dos chefes do partido e do Governo.
Há pois em tudo isto, nesta enorme e insana deturpação da nossa vida democrática, uma moral, ou melhor dito uma enormíssima imoralidade, que importa fazer sobressair para poder avaliar devida e aprofundadamente toda esta funesta governação socialista. Porque a política tem de ter uma moralidade associada, pautar-se por valores e princípios de confiança, de bondade, de verdade, e de credibilidade, sob pena de os eleitores e cidadãos sentirem que a política é uma coisa que lhes é estranha, da qual cada vez mais desconfiam e que tendem a desprezar, e no final acabarem a depreciá-la por completo (a abstenção, os votos negativos e nulos e brancos lá estarão a confirmá-lo, depois inexoravelmente!).
Não se pode pois ver impassivelmente fazer política chefes partidários e de Governo que para conseguirem os votos dos eleitores, que lhes permitam conservar-se no poder a todo o custo, tudo prometam, assumam quaisquer compromissos e façam as mais irresponsáveis promessas, de forma deliberadamente enviesada para com a realidade que conhecem mas que desprezam, tudo feito numa mera ânsia de ganharem os votos dos eleitores e assegurarem a sua manutenção no exercício do poder.
Não, não, a política tem de ter nobreza, ser portadora de ideais, e os seus protagonistas maiores têm de ter carácter acima de suspeita, serem capazes de assumirem agora apenas o que podem cumprir escrupulosamente no futuro, falarem hoje daquilo que sabem ser verdadeiro, mostrarem a realidade aos seus eleitores e apoiantes, criarem a noção nos eleitores de que serão confiáveis e credíveis quando chegarem ao exercício da suas funções de governação.
Tudo isto é a moral na política, e esta passa pela personalidade de cada líder político, pelo modo claro e transparente como ele se afirma perante os eleitores, de modo a que estes quando votam tenham a intuição de que os que vão eleger lhes transmitem a garantia de que vão corresponder aos seus anseios e expectativas e fazerem no exercício do poder de Estado aquilo que prometeram ou afirmaram que queriam vir a concretizar.
A política não pode ser reduzida a um jogo obscuro de sombras e de espelhos, de disfarces e de dissimulações, de falsidades e de ilusões, onde tudo e o mais parece ser possível, para se transformar algum tempo depois das eleições no mais completo dos contrários e inversões de decisões, escolhas e projectos, feitos ao completo arrepio da palavra dada e de todas aquelas imensas expectativas criadas durante as campanhas eleitorais.
Os políticos não podem ter várias caras e personalidades. Dizerem hoje o preto e amanhã o branco, prometer agora benemerências e mais tarde, pouco tempo depois, retirarem tudo a quase todos. Isso é desmerecer o carácter necessário para se liderar ou governar um País e uma Nação!
Os eleitores, cidadãos maiores que participam na vida democrática do seu País, exigem consideração e rigor com a palavra dada. Nem tudo pode ser possível na política apenas para manter o poder. Tem de haver valores e princípios na vida política, sob pena de se descaracterizar a própria democracia e de se prostituir a actividade política, que deve ter a nobreza própria do seu insubstituível papel na boa organização da sociedade humana.
Há que pôr seriedade bastante e indiscutível na política, e exigência popular sobre as mentiras e as falsidades. Nem tudo pode ser permitido a quem Governa e faz política em Portugal!
A política tem de ter credibilidade, ser de confiança, e a legitimidade não repousa apenas nos votos quando estes forem conseguidos na base de falsas ideais e compromissos. Têm de se conhecer os valores que pautam a vida política e as opções e compromissos dos actores políticos. Saber-se o que é o bem ou o mal, o que é certo e errado, o que é exacto e falso, o que é verdade e mentira.
Os políticos não podem ser, porque não são, todos iguais. Há quem queira fazer, tem de haver quem faça, política com seriedade, com verdade, com rigor, com credibilidade, e serem actores/agentes em quem os portugueses possam confiar.
Não, não, na política não pode valer tudo, hoje o vermelho, amanhã o preto, ontem o céu, depois de uns dias o inferno. A política tem de ter uma moral e gente que se bata pelos valores que essa moralidade implica. A legitimidade não se esgota nos votos, ela é afirmada ao longo do tempo pelo escrupuloso cumprimento da palavra dada em campanha eleitoral e pelo modo verdadeiro e impoluto de fazer política.
Por tudo isso, a nossa vida política e a trágica situação presente de Portugal (“FMI: Sim, Não, Talvez!”) deixa várias importantes e decisivas questões sem resposta e que implicam responsabilidades tremendas dos actuais governantes no caminho que está a ser prosseguido. Muitas das actuais decisões que têm vindo a ser tomadas pelo actual Primeiro-Ministro e Governo deixarão mais uma enormidade de encargos para todos os portugueses que continuarão a viver em Portugal.
Exigem-se hoje em Portugal respostas inequívocas e atempadas para questões como as seguintes:
Quais os custos financeiros e económicos da opção governamental, assumida pelo Primeiro-Ministro e pelo Ministro das Finanças, por Portugal continuar a prescindir de um apoio financeiro internacional específico e de médio prazo, devidamente negociado num quadro temporal amplo, e continuar a ir aos mercados obter os imprescindíveis financiamentos externos da dívida pública e das grandes empresas, na base de um “rating da República” desvalorizado e com tendência para ainda se desvalorizar mais com a actual situação das finanças públicas e as restantes opções governamentais?
Quais as consequências de adiar ainda por não se saberá quanto mais tempo um conjunto de reformas estruturais, da economia à justiça e ao Estado e à educação, e de ter uma efectiva estratégia de médio prazo que permitisse vislumbrar uma nova era de crescimento económico possibilitado pelo mecanismo financeiro de médio prazo e pelos consequentes ajustamentos económicos e estruturais que tal estratégia comportaria?
O Primeiro-Ministro em funções procura agora indisfarçavelmente escapar por entre esta trágica situação para tentar mostrar hipoteticamente, como agora se diz, embora seja cada vez mais duvidoso, a resiliência sistémica de Portugal e a dele próprio, evitando ao mesmo tempo a realização das reformas estruturais de que o País carece para ter um ciclo de crescimento económico e de geração de emprego. Mas a que preço será feita mais esta manobra de arrogância e sobranceria irresponsável?
E tal será feito, ao que tudo novamente parece indiciar, com total irresponsabilidade futura deste mesmo Primeiro-Ministro e do seu inconsequente Governo, apenas para os fazer sobreviver a ambos, quando são ao mesmo tempo já demonstradamente incapazes de definir uma visão e uma estratégia de médio prazo para o País. Onde é que tal resiliência nos conduzirá e que será depois dito aos tais portugueses que por falta de melhor oportunidade e opção ficarão a viver em Portugal?
Estas são questões essenciais que estão inerentes ao actual panorama político-governativo e económico e financeiro e serão devidamente colocadas e debatidas neste ano de 2011, já com o Presidente da República reeleito e em funções efectivas.
E são os portugueses, todos eles desde os desempregados aos jovens e idosos pensionistas, aos empresários de todos os sectores e das empresas de grande e pequena dimensão, que exigem respostas profundas que não se cinjam a uma outra mera tentativa, custosíssima para Portugal, de sobrevivência do actual Primeiro-Ministro e do seu Governo.
Está por tudo isto, necessariamente, aberto um “Novo Ciclo Político” (com maiúsculas como se impõe) que possa dar origem a uma nova vontade, visão e projecto de governar Portugal, tendo como propósito maior o de constituir uma alternativa de esperança nacional e de crescimento económico, portadora de emprego e melhoria das condições de vida e de bem-estar para as gerações de portugueses que aceitem ficar no País a edificar esse “Novo Futuro”.
José Pinto Correia, Economista
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