terça-feira, 26 de abril de 2011

Abril de 2011: Viva a Troika?

Medina Carreira em 2009, na primeira página do seu livro “Portugal que Futuro?”: “Portugal suporta uma crise, grave e duradoura, que é só sua e que só aos Portugueses compete resolver. Já desperdiçámos um tempo precioso e nada fizemos para atenuá-la, muito menos para superá-la. Poderemos empobrecer lentamente até que da Europa só nos reste a geografia. Poderemos fingir que tudo está no bom caminho, mesmo quando sabemos que não está. Poderemos confiar no acaso, com um optimismo que é apenas uma imensa irresponsabilidade” (fim de citação).


I


Quem são os inimigos públicos de Portugal? Quem disse que estava tudo a correr bem? E que o PEC IV resolveria tudo até 2013? Quem quer o TGV e mais? Quem desconversava sobre o BPN e o BPP? E sobre as empresas públicas? E sobre o Estado? E sobre tudo, tudo, e ainda fala em transparência das contas? São vários e têm nomes e rostos! Cometeram monstruosidades contra o nosso dia-a-dia e o futuro. São doentes e com instintos criminosos. Deviam poder ser julgados. Mas continuam irresponsáveis, nem são capazes de um honorável pedido de desculpas. Não têm sequer essa virtude. São imorais e fizeram política com intenções malévolas. Não são nem cristãos, nem sãos.



II


O FMI já liberta informação. Até 2012 precisamos, no mínimo, de 74 mil milhões. Ainda me lembro vivamente quando o Professor Medina Carreira dizia a quantos milhões é que nos estávamos a endividar por hora. E aumentavam de mês a mês. Onde andam agora os tais optimistas que nunca quiseram discutir aqueles indicadores? Estão alguns deles, dos maiores, a pedir consensos já. Para quê?



III


Estes malteses que andavam distraídos até ao terramoto, agora querem tudo resolvido de uma penada. E as contas da ignóbil mentira? Pensarão que os homens do FMI e do BCE não as vão saber? E que nós não temos direito a conhecer a verdadeira dimensão do que temos sobre o nosso futuro? Para que serve esse rápido olhar para o lado? Mais ilusões?



IV


Fez muito bem o líder do maior partido da oposição. Primeiro disse que apoiava o pedido de resgate. É mesmo disso que se trata. Mas agora quer conhecer a dimensão do descalabro. Para se poder comprometer democraticamente com o programa de ajustamento e com as propostas alternativas que pode vir a apresentar. Porque nem tudo está fechado. Há margem para opções. E para a política. Ainda!



V


Portugal vai estar em contra-ciclo com a UE. Vamos estar a “recessar” e todos os outros países, incluindo a Grécia e a Irlanda, a crescerem. E podemos vir a chegar a 2016 na cauda de toda a Europa. Tem de existir espaço para o crescimento económico no programa de ajustamento, como hoje disse o Presidente do FMI. Mas não é com mais políticas socialistas. Isso não é possível!



VI


Agenda 2011-2014: Solidariedade e Crescimento!


Felizmente para Portugal e os portugueses que o FMI/BCE não vão deixar espaço para mais loucuras socialistas. Pode e deve haver algum esforço para as situações de emergência social que já são evidentes e vão aumentar, mas todo o resto do dinheiro disponível, com redução séria da despesa pública, e o dinheiro do resgate, deve ser para incentivar a criação de riqueza e emprego. Solidariedade e crescimento serão os dois pontos da agenda destes anos próximos!



VII


Às 21 horas na RTP. Entrevista a um empresário, dos muito poucos com dimensão superior. Belmiro de Azevedo, que construiu a SONAE a partir do nada, depois do 25 de Abril. Podia ser um Primeiro-Ministro para Portugal durante os próximos quatro anos. Se houvesse política a sério. E vontade de repensar o País. Ele sabe como se cria a riqueza! Por mim fica aqui feito o convite. Engenheiro, empresário e gestor, Belmiro, tem a estatura moral e empresarial, e sabe de política, para o empreendimento. Que é enormíssimo! Essa seria uma verdadeira pedrada no charco da nossa agonia!



VIII


E como Ministro das Finanças? Com Belmiro seria fácil convidar Miguel Cadilhe, que já escreveu sobre muito do que há a refazer no Estado. Fariam uma verdadeira reforma do monstro, sobre isso não tenho quaisquer dúvidas! E para Ministro da Educação? Seria então possível convidar um homem como António Barreto. Que sabe como ninguém como evoluiu a nossa sociedade nestes trinta e tal anos, e de educação tem ideias sérias e profundas! E o Medina Carreira pergunta muita gente? Para mim acho que ele era muito útil como Ministro da Justiça. A pasta é das que mais pode ajudar-nos a dar a volta à tristonha economia que temos. E ele sabe muito de direito, nomeadamente do fiscal. Podia ajudar também o Ministro das Finanças que teria também a Economia. Vários coelhos! Cadilhe para as Finanças, Economia e Administração Pública. Mas com dois Secretários de Estado, um para a Economia e outro para a Administração Pública, acima de quaisquer dúvidas curriculares. Nomes seriam negociados mais adiante!



IX


Ah! E as Universidades a trabalharem para o futuro do País. A pensarem as políticas e as opções. E a darem o seu melhor para ajudarem a preparar as políticas públicas. Como fazem na Europa com muita frequência. E nisso o Ministro da tutela deveria ser um catalisador das parcerias!



X


Mas há mais! Os antigos Presidentes da República, especialmente Mário Soares e Jorge Sampaio, deviam andar pelo Mundo a restaurar a imagem de Portugal. E o próprio Freitas do Amaral, como antigo Presidente da Assembleia-Geral das Nações Unidas, também. Os dois primeiros deviam concentrar-se nos EUA e na Europa e Brasil e o último nos novos países emergentes, os BRIC.



XI


Álvaro de Campos - O Engenheiro de Pessoa:


"Ah!, a selvajaria desta selvajaria! Merda


Pra toda a vida como a nossa, que não é nada disto!


Eu pr´aqui engenheiro, prático à força, sensível a tudo,


Pr´aqui parado, em relação a vós, mesmo quando ando;


Mesmo quando ajo, inerte; mesmo quando me imponho, débil,


Estático, quebrado, dissidente cobarde da vossa Glória,


Da vossa grande dinâmica estridente, quente e sangrenta!"



XII


Como mudar? "Os problemas significativos que nós enfrentamos não podem ser resolvidos pelo mesmo nível de pensamento que os criou" (Albert Einstein). Outro nível de pensamento, portanto, é imprescindível para realizar a mudança efectiva. E isso é? Transformar os paradigmas que conduziram as atitudes e os comportamentos até à presente situação. E o que são os paradigmas? "Os paradigmas são os mapas das nossas mentes e corações a partir dos quais crescem as nossas atitudes e comportamentos e os resultados das nossas vidas" (Stephen Covey). Por isso, para mudar resultados é preciso mudar os valores que estão na base dos comportamentos e das atitudes. Das escolhas também. E essas mudanças implicam a alteração dos estímulos que existem na sociedade para motivarem as acções individuais e colectivas. A mudança tanto é individual como colectiva. E ambas produzem resultados visíveis nas situações difíceis de partida. Mudar é um processo que deve ser pensado e dirigido para os objectivos a atingir. E com os seus agentes e destinatários induzidos nas várias etapas, obviamente!



XIII


A gestão trabalha dentro de um paradigma;


A liderança cria novos paradigmas;


A gestão trabalha dentro do sistema;


A liderança trabalha o próprio sistema;


Gerem-se coisas mas lideram-se pessoas (Stephen Covey).



XIV


Estamos agora em Portugal a atravessar a denominada ruptura da curva sigmóide. A fase de criação de um novo paradigma. Que vai ser catalisado pela influência externa (FMI/UE). E estão agora visíveis pelos cidadãos as causas e as consequências de um modelo de desenvolvimento económico e social que faliu. Vai ter de ser criado outro em seu lugar, rapidamente. As condições para a sua aceitação são hoje imperativas.



XV


Vamos então falar de coisas nobres. De Nobre, de nobreza, de moral, de trajecto, de historial, de dignidade. Nobre tem feito muito pelo Mundo em nome de Portugal. É um homem livre e desempoeirado. Não tem baias partidárias. Conquistou simpatia de muitos dos seus compatriotas. Agora escolheu um lado para continuar a intervir. Sem servilismo. Mas caiem-lhe em cima os abutres da "coisa nossa", os donos de tudo!



XVI


O grande mestre da bancarrota veio à antena falar sobre a nobreza. E os cargos. Que são dos eleitores, disse. O mesmo que nomeou ou deixou nomear milhentos desconhecidos e outros mais da “camaradaria” ululante sem pedir a mínima aos cidadãos e contribuintes. E ainda vem rosnar sobre uma “merda qualquer” de que ele nem faz a mínima ideia. Vá de retro! Veja no seu quintal dos Infernos!



XVII


A Estrada da Luz!


Nascemos onde Deus quer. E os nossos pais vivem e labutam. Foi assim que nasci em Lisboa e vivi durante trinta anos na majestosa e radiante Estrada da Luz. Mais precisamente no benfazejo Bairro de São João. Feito nos princípios dos anos cinquenta, constituído por quatro quarteirões longilíneos de prédios de três andares e duas habitações em cada um destes. No meio havia um jardim com uns baloiços e um pequenino campo de futebol alcatroado. Aí brincávamos todos os meninos da minha geração longas horas, até ao fim das forças e do sol dos dias. O Bairro era uma família enorme. Todos se conheciam, ou quase, com intimidade, e compartilhavam a vida simples e dura daquele cantinho lisboeta. Em cada uma das oito esquinas das duas ruas do Bairro existiam as lojas. Desde a mercearia, ao lugar de frutas e ao sapateiro, passando ainda pelo talho e pelo café. No início de cada manhã, pelas sete de cada dia, saiam muitos de todas as portas rumo às paragens dos eléctricos e autocarros. Até às sete e meia andavam os carros operários com bilhetes de ida e volta mais baratos. Eu procurava ir sempre nesses. Todos os tostões contavam. E tinha de estar do outro lado da cidade, nas aulas do meu Liceu, em Alvalade, antes das oito e meia. Chovesse a cântaros ou não e tivesse lugar dentro ou apenas nos estribos do eléctrico. A vida da era impunha. Era "aquela era", a dos simples e dos cumpridores. Mandavam as necessidades e a intolerância regimental. Cresci assim. No meio de um jardim, nas ruas amplas de um belo Bairro, e cheio de brincadeiras e jogos com os meus grandes amigos. Uma infância e juventude cheias de boas recordações e felicidades. Na magnífica Estrada da Luz. A minha serena e luzente Estrada da Luz!



XVIII


Veio agora à antena o eloquente Secretário de Estado do Emprego, o doutor das ciências da educação, Valter Lemos. Descobriu mais uma novidade contra-económica. O desemprego registado no IEFP está a diminuir. E então vai de dizer que está mudar a tendência dos dois últimos anos. Prémio Nobel já para esta sumidade! Rendo-me! Vou-lhe pedir para me dar aulas de economia! Valter Lemos é um homem de contas e de aritmética. São conhecidos os seus textos sobre a relatividade das matemáticas. Acho mesmo que é uma mente super-brilhante. Nem o John Nash tem tanta criatividade estatística e matemática. Ainda vamos ouvir falar do "Equilíbrio de Valter". Porque então o de Nash terá ficado fora de tempo. Vergo-me, juro mesmo!



XIX


Hoje o Jornal de Negócios já enumera uma série provável de medidas que vão constar do programa de ajustamento. O FMI tem preocupações com a nossa competitividade. Que perdemos durante anos sucessivamente. As receitas económicas, melhor macroeconómicas, não são desconhecidas. Infelizmente entre nós nunca foram consideradas politicamente. Mas agora! Quem defende a vantagem dos anos oitenta com as desvalorizações do escudo, que trouxeram perdas enormes de rendimento e de consumo, e concomitante redução das importações, não poderá agora opor-se às medidas que vão simular essa desvalorização com uma moeda única de que não podemos sair. E elas vêm aí mesmo!



XX


A Solução do PCP e do BE?


PCP e BE querem o quê? A renegociação da dívida acumulada agora? E com quem? E para quando? Depois de o Estado cessar pagamentos em final de Maio? E os funcionários públicos, os pensionistas, os hospitais, as forças armadas, os tribunais, as cadeias, as autarquias, as escolas, os jardins-de-infância, os transportes, etc., etc., como ficarão? Esperam meses ou nunca pela renegociação sem dinheiro? E no fim dos tempos: uma revolução com nova ditadura? Viveriam os portugueses como a partir dessa solução final? Com que liberdades? As mais amplas como têm sido repetidamente enunciadas? O que quereria dizer efectivamente? Ditadura, sim, mas a boa: a comunista! Numa Europa democrática do século vinte e um, depois de o muro de Berlim ter caído há mais de vinte anos? Tenham paciência camaradas, mas agora Portugal vai ter de caminhar num outro sentido bem diverso do absoluto predomínio da herança estatizante em que temos vivido desde 1976. E com uma outra lei fundamental, também, indispensavelmente. Dívida a quanto obrigas!



XXI


João Salgueiro esteve há momentos na SIC-Notícias. O homem sabe bem o que diz sobre a nossa situação. E não o diz agora, di-lo há muito tempo. Vem de longe. Desde a antiga Câmara Corporativa e dos Planos de Fomento. Podia ter liderado o PSD quando chegou Cavaco. Fala por metáforas simples para ser pedagógico. Mas diz tudo... Perdemos competitividade durante uma década, disse. Desprezámos as condições para o investimento, interno e externo. A justiça é uma força de bloqueio ao crescimento. A educação tem perdas irreparáveis e milhares de alunos sem mercado de trabalho específico. A doença gravíssima é tanto dos políticos como dos eleitores: uns enganaram, os outros queriam ser enganados/iludidos!



XXII


Parece que existem divergências entre o FMI e a UE/BCE. O primeiro quer dar-nos melhores condições de crescimento e de sustentabilidade/solvabilidade potencial. Menores juros e prazos de pagamento maiores. Parece que na Europa há menos atenção aos nossos interesses essenciais. Que são: austeridade que não mate o crescimento e a solvabilidade. Europa ou FMI? Melhor é o FMI!



XXIII


O CDS exige e muito bem que sejam paradas as grandes obras e renegociadas as PPP. É do mais elementar para reduzir os níveis de endividamento futuro e repor alguma margem significativa de folga para reinvestir na economia produtiva que pode criar riqueza e empregos. E isso é imprescindível para voltar a colocar o País na competição por investimentos reprodutivos. O FMI vai concordar!



XXIV


Vão existir condições óbvias, na linguagem marxista, condições objectivas, para uma autêntica e profunda mudança no modelo de organização económica e social do Portugal de Abril. A revisão da lei fundamental vai estar aí na ordem das coisas. E os velhos mitos da narrativa socialista e comunista, que nos enredaram na trama da pobreza, vão cair. "Noblesse oblige", que traduzido diz: falência obriga!



José Pinto Correia, Economista

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