(As notas soltas desta quinzena feitas entre Portugal e Itália).
I
Estamos a caminho de sermos outros. Diferentes, para melhor. Se assim for o entendimento popular. A soberania sempre deve residir no povo. Para haver príncipe digno e moralmente honroso. Acabei de visitar o túmulo de Maquiavel aqui em Florença. O nosso Mesteiral, o da afanada engenharia, deve ter ouvido falar de pequenas parcelas da obra daquele florentino...
II
O nosso pequeno príncipe só deve ter lido as recomendações em que Maquiavel indicava que todos os meios servem os fins de manter o poder. Mesmo a falta da verdade ou a soberba. Mas felizmente houve quem resistisse a essa maquiavélica forma de governar e manter o poder. Ao povo o que deve ser do povo: a soberania da expressão da sua vontade.
III
Florença a bela cidade dos Médici. Plena de beleza e de sol nestes dias. De facto a criatividade humana atingiu exponenciais assombrosos aqui. Bem nos dizia Fernando Pessoa que a Itália era uma das duas culturas criadoras da Europa. Com a qual nos devíamos relacionar adequadamente. A beleza está por toda a parte. Hoje estive próximo das belas criações de Miguel Ângelo e de Da Vinci. Do primeiro, estive perante a majestosa beleza e grandiosidade da estátua de David. Que depois de ter vencido o gigante Golias tem uma face de indiscutível serenidade, que lhe é dada pela sua inteligência e pela tranquilidade de quem ultrapassou a sua besta. Pensei de frente aquele David. E também posso concluir que a inteligência de Portugal, que é muita e franca, pode pensar o nosso futuro com a esperança de que vai haver melhores dias. Portugal merece ser mais feliz e mais rico. Para isso, vamos ter de escolher novas soluções e novos intérpretes do nosso caminho rumo a esse futuro que desejamos e a que aspiramos. Vamos a votos, portanto!
IV
Voltei hoje. Estou na Pátria novamente. Venho cheio de memórias. Muitas e magníficas. De Veneza, Pádua, Verona, Florença e Pisa. Pessoa, o nosso grande mestre do século vinte, estava cheiíssimo de razão. A cultura italiana é gloriosa. E transmite uma imensidão de sensações de beleza e cristandade. O eterno está lá em todos os monumentos ímpares do Ocidente. Fiquei pleno e volto maior...!
V
Voltei ao contacto com a TV. E acabei de ouvir o filósofo José Gil. O homem da inscrição e do nosso medo de existirmos. Falou em abrir as portas à esperança, de um novo modelo de pensar Portugal. Que desfaça o gasto casamento dos senhores do poder destes decénios. A dupla central da irrealidade que se tem perpetuado, mas que também se espelha nos restantes protagonistas partidários. Que conjuntamente desfaz o real e os sonhos dos portugueses. E não tem projecto, nem estratégia, nem missão para a Nação e o País. Estou cem por cento...! Falou também em dar sentido às multidões que vieram recentemente para as ruas por si-mesmas. Que não reclamaram apenas mas que também projectavam razões e anseios profundos. Tem de haver um novo paradigma que desfaça esta lamentável ausência de realidade que campeia nos diversos corredores do poder. Portugal acordou para essa realidade do desemprego maciço, da pobreza, da falta de oportunidades, do desfazer da vida das classes médias, do empobrecimento do País. E faltam políticos com estatuto referencial, com grandeza moral que encaminhem o futuro. Que devolvam a esperança, a confiança, e o sentido de projecto nacional a Portugal.
VI
Fui a correr comprar o Expresso da semana que passou. A capa é a expressão nítida da nossa tristonha cacofonia. Nem a malta que manda na Europa quer que se conheçam os nossos poços. Todos querem continuar a fazer de conta que as nossas contas não contam. Têm medo de serem eles próprios atingidos pela insensatez desta desgovernação. Fazem de conta. A conta vem aí a caminho mesmo assim...!
VII
A Ministra da Saúde, aquela senhora que se atrapalha sempre no meio de uma frase, e que tratou da nossa falta de gripe A, veio hoje com raríssima solenidade apresentar um programa de realização de tratamentos e cirurgias protocoladas com o nosso SNS pelas Misericórdias. Vinte milhões de euros são os custos estimados para cerca de vinte mil cirurgias. Era esta mesma Senhora doutora que ainda há um ano, quando esta hipótese foi defendida por um partido da oposição (o CDS/PP), dizia que não senhora que o SNS é todo público e que tem capacidades e tal e tal. E que o dinheiro público, que ela entendia ser dela propriedade, era para servir o serviço público. Agora veio reconhecer, ao que parece, que os portugueses têm direito a serem tratados, e que tal pode ser feito também com e por parceiros habilitados que não sejam propriedade estatal. Perdeu-se um ano e milhares de operações a cidadãos necessitados de cuidados ficaram por fazer. Ideologia ou despautério? Ambos...!
VIII
O senhor da justiça fez o que fez ou acabou de fazer. Retirou mais de setenta mil euros ao seu património familiar. Não se pode dizer que seja coisinha pouca. Tardou mas entendeu que era demais. Tinha privilégios caseiros. Parecia o clube de futebol lá do seu bairro. Mandava de soslaio por interposição depositar euros na continha comum. Mas justificou-se e cometeu uma acção justa. “Ganda Ministro”!
IX
Acabei há momentos de ouvir o Secretariozinho Fernando Medina, porta-voz do PS, dizer que não reconhece capacidade ao PSD para governar. Estes meninos de coro, que ascenderam meteoricamente ao poder sem saberem contar e..., permitem-se dizer todas as aleivosias que lhes mandam dizer. Quem é este menino Medina afinal?
X
Achei fantástica a declaração de Almeida Santos de hoje. O homem, Presidente da Rosa, que ainda há pouco tempo, uns mesitos se não falho, dizia que Sócrates era grande, gigantesco mesmo, vem agora dizer que pode haver necessidade de um governo de salvação nacional. E até exemplificou com essa figura ímpar de democrata que foi Afonso Costa. Magnificamente Excelência o Presidente Almeida!
XI
Os senhores da Rosa queriam aumentar as despesas sem concurso. Numa época destas em que faltam cobres em tantos lados era uma criação original. Entendia-se como? Para facilitar despesas? Para retirar competição de preços? Não há emenda para esta gente que se apoderou do Estado. E que entende que governar é dar a governar-se...Tenham puerícia, recolham às cabines!
XII
A bela estratégia Socrática. Recusou pedir apoios à UE a taxas de juro de 5.2%. Acabou a pagar taxas de mais de 9%, que são o triplo das de Espanha. E ainda diz que as culpas são dos outros (que até lhe deram a mão várias vezes). Conduziu-nos a todos ao abismo e ao empobrecimento durante anos. E ainda tem a desvergonha de querer voltar...! Vá de retro, pois!
XIII
Quando foi feita de supetão a nacionalização do BPN, o Dr. Constâncio fez a recomendação com os cálculos de que o Estado teria de meter lá qualquer coisa como setecentos milhões. Agora, no fim desta miséria de farsa socialista, são dois mil milhões que vão ao défice de 2010. Não há quem julgue esta gente que gere e governa com tamanho indecoro e desvergonha?
XIV
Ele há o "Varinha de Condão" que recebe sem trabalhar e que ainda é indemnizado aos milhões pelo seu patrão quando lançou a marca para as ruas da lama. Um protegido deste regime e sistema apodrecido que nem decência tem já alguma. A malta das ocultas gasta o dinheiro dos outros como se fosse fogo-de-artifício. E vai sempre para os tais bolsos grandes e manhosos...!
XV
Qual a competência do Ministro Teixeira dos Santos? Garantia que o défice de 2009 ia ser de 5.9% e acabou em mais de nove. Disse agora que foi obrigado a incorporar no défice de 2010 as contas negadas do BPN e das empresas públicas de transportes. O Eurostat não mudou as regras na última semana. O Ministro é que não tem nem palavra nem honradez...!
XVI
Estou a reler o Príncipe de Maquiavel. Acabei há dias de estar perante a sua sepultura em Florença. Já aqui escrevi que o nosso "engenheiro de má memória" só devia ter lido algumas passagens da obra de Maquiavel. Mas agora acho mesmo que ele ainda foi mais longe em várias situações da sua governação do que a imoralidade pregada pelo florentino. O aprendiz ainda foi mais feiticeiro-malévolo do que o mestre...!
XVII
O engenheiro não leu esta frase de Maquiavel: "E, se se quiser preservar uma cidade habituada a viver em liberdade, é mais fácil conservá-la com a ajuda dos cidadãos do que de qualquer outra forma". O PEC IV é o demonstrador inequívoco de que o "Maioral" não leu nem interpretou esta afirmação (quase categórica) do instrutor do Príncipe florentino.
XVIII
"Porque o príncipe natural tem menos motivos e menor necessidade de ofender, pelo que convém que seja mais amado; e se não dá motivo a ódios por vícios extraordinários, manda a razão que seja naturalmente benquisto pelo povo" (Maquiavel, Capítulo II). Pinto de Sousa também não leu nem ouviu falar desta afirmação de modo de realizar a boa governação.
XIX
Vícios, falta de virtudes, insensatez, arrogância, soberba, imprudência, irracionalidade, desrazoabilidade, mentira, mentira, mentira, aventureirismo, manipulação, grosseirismo, indelicadeza, volúpia, promiscuidade, negocismo, favorecimento, camaradagem, clientelismo, desfaçatez, mediocridade, irresponsabilidade, desvergonha. Tudo isto e muito. Escolham os que são inaplicáveis aos anos que temos vivido...!
XX
O “Socratismo” morreu! Não valem de nada as cenas, as torções à verdade dos factos e da nossa realidade que o seu personagem ainda continua, embebedado de propaganda visceralmente ilusória, a tentar montar. Morreu e morreu mesmo. Não tem volta. Ficará num pequeno canto da má história para onde conduziu a Nação. Doentiamente iludido com a permanente vertigem do poder, o engenheiro cometeu erros colossais que o País e os portugueses vão ficar a pagar durante os próximos anos. Morreu agora o seu ciclo de poder, finou-se o “Socratismo”, e ainda bem, para descanso das nossas almas. Que querem ajudar agora a construir outro futuro nacional!
José Pinto Correia, Economista
Sem comentários :
Enviar um comentário