Deixei de ligar ao futebol. Já quase nem vejo actualmente jogos quando televisionados. Fartei-me de tanta vilania que se foi instalando neste desporto magnífico entre nós nos anos e anos que se têm seguido. O futebol enquanto desporto, com as suas tradições e características de fenómeno cultural e de espectáculo de massas prostitui-se praticamente. Eu que durante uma grande parte da minha vida o pratiquei tão intensamente. E durante a outra parte o acompanhava entusiasmado. Desliguei-me progressivamente do jogo nestes anos de insensatez, manobras, estratagemas, corruptelas, muitos e muitos vícios, e agora já nem sei os resultados do campeonato como de cor sabia há vinte anos, e sou agora quase incapaz de perder hora e meia sentado em minha casa, no sofá, a assistir a uma transmissão de futebol, mesmo que seja de um jogo do meu Benfica. Levei muitas vezes o meu filho em pequeno ao Estádio da Luz. Eu mesmo fui lá ver jogos durante décadas, porque até morava nas redondezas e joguei lá contra o Benfica como jogador federado júnior. Mas agora era incapaz de ir ao Estádio da Luz e levar o meu filho que hoje já é adulto. Desporto e violência são completamente incompatíveis. E os dirigentes que acicatam os ânimos da barbárie, que hoje se vê em redor dos grandes jogos e clubes, deveriam ser excluídos do futebol. Fazem muito mal ao desporto. Ainda que ganhem jogos e campeonatos. As leis deveriam ser severíssimas para os prevaricadores. E os dirigentes deveriam ser punidos com exemplaridade quando prevaricam contra a tranquilidade dos espectáculos desportivos. A violência que está instalada em várias claques clubísticas é uma vergonha e tem campeado impune. O Governo que tanto quis interferir na vida interna da FPF, e tem tido uma prática intervencionista sem precedentes, assiste serena e impavidamente às autênticas batalhas campais em diferentes recintos de futebol. A continuar este desmando, com tantos protagonistas insensatos e impunes, o futebol conhecerá dias muito difíceis proximamente, com o cada vez maior abandono dos adeptos dos Estádios. A prazo de poucos anos mais nesta volúpia de violência e compadrio clientelar e de corrupção da verdade do desporto a que se tem assistido, a indústria do futebol de que muitos vivem poderá morrer. E a isso assistirão lamentavelmente os dirigentes da FPF, do Governo, da Liga e dos Clubes. Já não falta muito. A continuar tudo como está, com o mesmo clima e protagonistas irresponsáveis e desresponsabilizados, o fim do futebol como desporto e espectáculo desportivo está infelizmente muito próximo.
José Pinto Correia, Economista
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