quinta-feira, 14 de abril de 2011

“O Circo da Agonia”

I


Pessoa dizia do Senhor de Santa Comba que nos tinha caído em sorte, ou em cima, que era o Sal e o Azar. Hoje caiu-nos o pior que seria de imaginar. Não temos apenas o Sal e o Azar, temos o Mal e o São. O Malsão. Doentiamente obcecado, perverso, perigoso, tabelião da desgraça. Criminosamente colado à cadeira, nem dela cai como o outro. Desgraçadamente. Desgraçada mente. Mente, mente...


II


"Por conseguinte, um senhor prudente não pode, nem deve, honrar a palavra dada se isso se voltar contra ele e se os motivos que o levaram a fazer promessas deixaram de existir" (Maquiavel, "O Príncipe"). Sócrates, Pinto de Sousa, está a cumprir neste preciso momento em Matosinhos esta receita maquiavélica. Honra, prudência, palavra? Como?



III


"Este Governo, no fim da legislatura, deixar-nos-á um Portugal mais empobrecido, mais desigual, menos apto para enfrentar os problemas que permanecem, desmobilizado e descrente, saqueado e farto deste concreto sistema político-partidário que até aqui nos conduziu" (Medina Carreira, "Portugal que Futuro?", página 146, 2009).



IV


Medina Carreira dizia no fim da legislatura em 2009. Já passaram mais quase dois anos. E temos o resgate à porta. E o mesmo chefe em palco sem assumir nada disto. E o PS a aplaudi-lo. Em que é que se transformou o Partido? Nem consigo nomear!


Tenho estado a ouvir as palavras ditas lá para Matosinhos. O PS vai ganhar os votos da nossa gente, dizem. O Dr. Vitorino, iminência fabulosa, diz para o Zé: “Vamos a eles! Temos o direito eterno da coisa". Essa “coisa nossa” que é Portugal, digo eu. Magnificamente Vitorino! Salazar não foi melhor! E deixou o ouro nas caves do Banco...



V


Manuel Alegre: "o capitalismo de casino foi a nossa perdição". Grande frase do homem da caça e da pesca. Que vem de volta à tona. Quero ver a excelsa figura a falar quando o homem do seu magistério, o enorme Pinto de Sousa, tiver de andar a privatizar as pérolas do regime e a cortar a sério nos donos da bola. Aí vai ser o quê? Socialismo de casino?



VI


Nos dois meses que aí vêm vamos exigir ao grande engenheiro que defina o tal "Socialismo de Casino". Com a contraparte do FEEF/FMI? Vai ser uma empreitada em peras. Privatizações para socializar os prejuízos? Reformas do mercado de trabalho para garantir direitos constitucionais? Reconfiguração do SNS, com pagamentos diferenciados, para salvar a gratuitidade do serviço? Escola pública universal e com quê mais?



VII


Portugal está como a bela Torre de Pisa. Alguém tem de segurar para que tudo não vá abaixo. Neste caso, com o resgate, terão de ser as próximas gerações a tratar da doença grave que foi criada. Alguém que pegue na bicicleta e que pedale esta empreitada. Só assim será possível, só assim terá razão!



VIII


David. De Miguel Ângelo. Depois de vencer a sua besta, o Golias, o personagem exprime uma serenidade superlativa. Que lhe vem da inteligência, da prudência e da verdade da sua luta. Uma metáfora de Portugal em 2011? Sim. E que o David desta imagem sejamos nós. Os portugueses da Nação e da Pátria de Camões, de Pessoa e de Vieira. Capazes de dar sentido às lutas de Afonso Henriques, do Santo Condestável e dos nossos egrégios avós. Levantai hoje de novo!



IX


59.695.200.000 Euros! Cinquenta e nove mil e seiscentos e noventa e cinco milhões de euros. O custo estimado das PPP. Que foram assinadas pelos homens da Rosa. Com parceiros. Muitos. Quem pagará? Os portugueses que, segundo a narrativa criminosa, tinham direito a tudo o que tinha faltado na ditadura anterior a 1974. Agora fica a ditadura da dívida colossal. Ditadores!!!


Ditadura imposta até 2050! A anterior estimativa apontava para 50 mil milhões. Aumentou em dez mil milhões, portanto, para a de agora. Mais uns pontos percentuais de PIB. Para quem e quê? Negócios de casino. Socialismo de casino! O que o poeta Alegre deveria estar hoje a condenar. Mas que lhe passou ao lado, pois estava a olhar para os pombos bravos, como sempre!



X


Nem o Banco de Portugal quer fazer as contas destes anos de "Socialismo de Casino". Ninguém quer revelar o tamanho da tragédia. Que se vai perpetuar pelas próximas décadas. Ditadura já temos garantida. E de esquerda. Que é a da bancarrota. Nem o ouro se pode vender agora!



XI


Ainda me lembro, com angústia pelas tristes realidades de agora, que nos criaram os homens da Rosa, da expressão da Dra. Ferreira Leite, em 2009, de que talvez fosse necessário suspender episodicamente a democracia. Quantos lhe caíram em cima e a trucidaram então? Os mesmos que nos deram esta ditadura imensa de muitos anos. Grandes amigos do povo estes homens do "Socialismo de Casino"!





XII


Há ainda hoje um antigo Pelourinho no centro da aldeia onde viveu e vive parte da minha família. Onde vivem ainda hoje os meus progenitores. Que trabalharam duramente toda a sua vida lá e em Lisboa. Muitos dos actuais políticos que torraram a nossa democracia podiam ir destinados ao dito "Pelouro". Ali estiveram em séculos pretéritos os que fizeram desmandos bem menores. A aldeia do Coito, Couto no tempo do Senhor de Santa Comba, tem a dignidade intacta para receber esses figurões. Justamente!



XIII


Há algumas semanas tomou posse o Presidente da República, eleito por sufrágio universal e directo. Falou grave, muito assertivamente, e disse que ia prosseguir uma magistratura activa. Agora perante a pior situação de que temos memória recua para longe do palco. Foge de quê? De Portugal! Estive certo, não lhe dei o meu voto...


Cavaco foge da cena. Mas diz de fora que a nossa melhor notícia para os mercados é a de que o nosso próximo governo deve ter maioria no parlamento. Grande avanço. E o programa de resgate? Nada a dizer e a fazer por parte de "Sua Alteza Presidencial"? Melhor faz a Rainha de Inglaterra? Talvez...



XIV


Este País não é para cidadãos. É apenas para estas iminências majestáticas. Há dias veio o Silva Pereira à antena. “Silva Pereirou” como sempre. Quer dialogar como sempre fez. O PS ficou sozinho na luta pela estabilidade política. E nós como é que ficámos? Com eles às costas no meio de um violentíssimo incêndio. Mas são indispensáveis, disse Alegre. Boa, boa...!



XV


O PS já tem mão de ferro. Ferro voltou. Vai para a cabeça da capital. Vamos ainda construir o "socialismo novo". E um Estado também. Muito social e tudo. Com o FMI. Vai ser um tango radical. E a metáfora do Dr. Vitorino: a da cadeirada na touca! Eu já estou ensanguentado e com ela a dar voltas. Mas o Zé vai em frente, diz o Costa. São os maiores e os melhores!



XVI


"Todo o Estado é, como sabemos, uma sociedade, tendo como seu princípio a esperança dum bem, como sucede com qualquer associação, pois que todas as acções dos homens têm por finalidade o que eles consideram um bem" (Aristóteles, "Tratado da Política", primeiro parágrafo).



XVII


Mentira: acto de mentir, afirmação contrária à verdade, com a intenção de enganar; engano propositado; falsidade, peta; ilusão; embuste; erro; vaidade. Mentireiro: mentiroso; pessoa que diz mentiras sem importância. Mentiroso: que ou aquele que diz mentiras; impostor; falso; aparente.


XVIII


Mentor da Mentira: o Senhor de Matosinhos! Mentor Melquetrefe da Tragédia: o engenheiro! O das sete vidas que nos matou as nossas esperanças e ainda não caiu da cadeira.


Mendicância: acto de mendigar; condição de quem vive de esmolas; mendicidade. Ordem dos mendicantes: "As Rosas de Matosinhos". Refúgio dos artistas: A Casa da Tragicomédia de Matosinhos. Pão e água para os cidadãos da Roma incendiada. Cena capital: o negócio do engenheiro com os donos da massa. Segue dentro de momentos. Com os incendiários no palco. Zé e Santinhos! Chapitô para que te quero?



XIX


Memória: função geral de conservação de experiência anterior, que se manifesta por hábitos ou por lembranças; tomada de consciência do passado como tal; lembrança; recordação; exposição sumária. Exemplos históricos: memória do nazismo, memória da ditadura salazarista, memória do Verão quente, memória da grande guerra, memorial do convento, memória da mentirocracia. Esta é a memória recente, que condicionou o nosso futuro nacional, a de agora, a da chegada do FEEF/FMI, numa historiografia que foi sendo sucessivamente cantada como o "Advento da Salvação" pelo seu mentor durante todos estes anos. Maioral da Tragicomédia de 2011: Pinto de Sousa! Vítimas desta guerra: os portugueses. Vitorioso: “o engenheiro Nero/Caracala”. Culpados: os cristãos...!



XX


O leninismo tem novas fronteiras. A coreografia dos regimes ditatoriais, em que os discursos estavam todos previamente definidos e orientados, onde o espaço cénico era objecto de delimitação centralista, e de onde emergia no final uma onda gigantesca de entronização do líder supremo, tudo isto está agora aqui fora do PCP. Chavez fez escola. Vem aí agora "O Grande Salto". E a revolução cultural!



XXI


A Revolução Cultural começa a ser negociada já nos próximos dias. "O Grande Líder" já anunciou que vai ser o condutor. Vai ser uma orgia de negociação. De um lado, a sabedoria incomensurável e, do outro, os donos do cofre-forte. Vamos construir o socialismo real. O palco já está montado e as figuras são insignes. Vermelhinhos e cinzentos: a grande coligação! Funda, funda, fundamental!!!



XXII


O Zé e o FMI. Que grande casamento. Com direito a pacto pré-nupcial. Tratam os senhores das Finanças e do Banco de Portugal. Com os nubentes à espera. Lá em São Bento deve ser uma azáfama. Preparativos: copos, toalhas, talheres, pratos e terrinas, bandejas. Canapés, lagostas, caviar. Flores, muitas flores. E os papelinhos a serem todos reescritos. E um novo teleponto, obviamente!




XXIII


Fui recomeçar a ler 1984 de Orwell. No regime do "Grande Irmão" tudo começa em Abril. Tal como aqui agora. Mas há um Ministério enormíssimo: o "Ministério da Verdade ou Minivero". Da tal verdade da "Novilíngua", uma reescrita da linguagem autorizada e da ordem, que incluía uma Polícia do Pensamento. Na Novilíngua o pensar era crime e dizia-se "pensarcrime". E dava prisão...


No Ministério da Verdade, um edifício de trezentos metros de altura, estavam gravados os três slogans do "Partido do Grande Irmão". Eram: Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força. Em 1984. Na grande pátria do socialismo. E em 2011 como seria? Que grande Nó!!!



XXIV


Os homens do fraque já cá estão. Vão matar muitos dos nossos tabus de décadas. A agenda vai ser dura e não deixará lugar para os velhos remédios, ou para as habituais mezinhas caseiras. Liberalismo vem aí à séria. Para colocar o Estado no seu lugar e dimensão e para dar espaço maior para a economia privada. Para haver crescimento no futuro e empregos novos. E os salários?


Quanto aos salários, nos próximos anos vão ser geridos ao milímetro. O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, que conhece muito bem Portugal, já há dois anos dizia que tínhamos de reconquistar competitividade salarial. E era pela redução real, para refazer o que tínhamos perdido por anos sucessivos de aumentos incomportáveis face à nossa fraca produtividade. A economia teve uma pane...


A economia durante uma década morreu. E agora não podemos ir pelo consumo. Por isso, têm de existir estímulos à poupança, redução de importações, investimentos muito selectivos e produtivos de bens exportáveis, simulação da desvalorização monetária (já foi dito como). E redução da despesa pública a sério para poder haver redução dos défices e das necessidades de nova dívida. E as PPP?


As PPP têm de ser todas renegociadas, no prazo máximo de um ano. Onde estão garantidas taxas de rentabilidade para os privados de 12 e mais por cento têm de pasar a estar taxas próximas dos custos do capital com uma pequena margem adicional de 1 a 2 por cento. Poupam-se centenas e centenas de milhões de impostos ao longo de mais de trinta anos. E de endividamento do Estado também.


Mas há uma exigência inultrapassável: uma auditoria total às dívidas públicas. Tem de voltar a fazer-se com o FMI, tal como em 1983, a consolidação de todo o perímetro do Estado. Têm de estar lá os hospitais, as PPP, as empresas públicas, as autarquias, os institutos e fundos autónomos. Tudo. Os portugueses têm o direito e o dever de conhecerem o nível de insanidade a que foram conduzidos...



XXV


Teixeira dos Santos confirmou hoje o que o PS de Sócrates tem escondido dos portugueses. O País já não tem capacidade para pagar 4.9 mil milhões de euros que se vencem em Junho. E precisa desesperadamente que os homens do FMI concluam o programa e as negociações ainda em Maio, sob pena de entrarmos em "falência" (vulgarmente denominado "default"). Esconderam até hoje!


XXVI


Vamos Defender Portugal do Engenheiro!


Como é que o engenheiro tem a indecorosa lata de ir ao Congresso do PS com o lema "Defender Portugal". Defender só se for dele mesmo. Que nos levou para dentro do Fundo. Sem dinheiro em Junho, como hoje já com os homens do fraque no Ministério nos veio dizer o desavergonhado Ministro Teixeira dos Santos. O que andaram no PS a encenar é criminoso, tendo conhecimento do que realmente se estava a passar com a falta de financiamento para Junho. Acusaram a oposição, quando conduziram o País para a proximidade da ruptura de pagamentos internacionais. Esta encenação é doentia e até quase macabra, e o seu protagonista, que se deixou aclamar há dois dias como um ditador de uma qualquer "República de Bananas", devia ser acusado por interposição de queixa de cidadania! E os portugueses, tão ignominiosamente enganados e conduzidos a uma situação de obscena irresponsabilidade política, deveriam ter a possibilidade de levar a julgamento esta "engenharia insana".



José Pinto Correia, Economista

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