quinta-feira, 17 de março de 2011

“Do Livro da Face”: “A Crónica dos Últimos Dias”!

I

Luís XIV: O "Rei-Sol". "O Estado sou eu". Murmúrios de outros sítios ou tristes realidades, trágicas encenações, manipulações obscenas, do nosso Portugal de hoje? E a democracia o que será feito dela? Se o País e a Nação se vergarem ao corrompido poder de um malfadado engenheiro...?

II

‎"Sob Luís XIV a França conheceu a maior centralização governamental que se pode conceber, visto que o mesmo homem estabelecia as leis gerais e tinha o poder de as interpretar, representava a França no exterior e agia em nome dela" (Alexis de Tocqueville, "A Democracia na América", Livro I, 1835).

III

Mário Soares veio hoje a terreiro. Disse verdades incómodas e exigíveis a um verdadeiro democrata e ex-Presidente. Colocou uma pedra enorme no sapato do pretenso iluminado. Que faz tudo como lhe dá nas ganas e no "diabo a cetra". A nossa liberdade vai ter de passar pelo interior do PS. Ou mexe, e muito, e abana/sacode o "Action Man", ou vamos ter de o derrotar eleitoralmente.

IV

Não, não podemos nem queremos suspender a democracia. As soluções não são únicas nem podem ser impostas sem diálogo. A democracia é diálogo. Não há monopólio da verdade. Sobretudo de quem nunca mostrou querer conviver saudavelmente com ela. Democracia tem regras, e parceiros e instituições. A ditadura de iluminados era antes de 1976. Respeito. Respeito democrático em 2011...!

V

‎"Oh! nom praza Barrabás!
Se Garcia Moniz diz
que os que morrem como eu fiz
são livres de Satanás... (Enforcado, Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente).

VI

Ah! Estado Social, Estado Social, Estado Social! "Glória Mundo". Eterno, inexpugnável, exemplaríssimo. Contra tudo e contra todos. Contra os que são contra ou não. Todos, todos. Uma bandeira do "Nome da Rosa"! Pinto de Sousa, melhor dito. Megafones em punho. Avante, avante. "Defender Portugal"!

VII

Grandezas do Principezinho: O Golfe de Estado! Um joguinho sereno, manso, rebuscado, limpinho, verdinho, abandeirado, “celestino”. O segredo para a nossa salvação. Uma ajudinha para os senhores do jogo. Do Estado Principesco. Engenharias. Económico-sociais. Bolinhas de Golfe (melhores do que as de Berlim?)...!

VIII

Teixeira, o "Ministro da Falta de Finanças", que já vendeu muitos dos anéis da "Cidadela" em 2009, berra agora contra os que o sustentaram no seu posto descomandado. Pois é, quando a face já não tem cura vai de tentar emporcalhar a dos outros. Cospe na mão que lhe foi estendida e que despedaçou. Tenha um pingo de educação Doutor Teixeira...!

IX

Teixeira dos Santos é o advogado do diabo. Corrompeu a sua alma e entregou-a há muito ao dito. Por isso, nestes dias da tempestade que sempre negara, o Doutor Teixeira lembra o Ministro da Propaganda de Sadam Hussein quando cantava vitória com os tanques americanos nas costas.

X

‎"Entra cá, governarás
atá as portas do Inferno." (Diabo, Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente).

XI

Entendamo-nos: "Quem não tem uma mentalidade democrática nem probidade epistémica, tenta manipular a discussão - ou impedir que esta chegue a ocorrer. Mas o que se deve fazer é acolher a discussão e aceitar tranquilamente a decisão da maioria" (Desidério Murcho, "Filosofia em Directo", Janeiro de 2011).

XII

Morramos, pois
hoje, amanhã, depois.
Viveremos mais, de novo,
Quando nos for dada outramente.
Mentalmente sãos, então,
seremos nós vivos, sempre...! (Deste que se assina).

XIII

Democracia. Democracia. Democracia. Regras. Regras. Regras. Instituições. Representantes. Representados. Vontade Popular. Legitimidade. Credibilidade. “Confiabilidade”. Verdade. Verdade. Verdade. Respeito. Respeito. Respeito.

XIV

E continua: "Se nós formos incapazes de compreender que a governação deles seria melhor, ou se por qualquer razão a rejeitamos, eles não poderão ter qualquer boa razão para violar a nossa decisão - mas têm uma boa razão para nos explicar pacientemente como governar melhor" (Desidério Murcho, idem).

XV

"Seria sem dúvida razoável da nossa parte aceitar a sua governação; mas daqui não se conclui que eles tenham o direito de no-la impor. Há uma grande diferença entre ajuda consentida - que nem sequer implica paternalismo - e a imposição da ajuda" (Desidério Murcho, ibidem).

XVI

Moral da História ou História Amoral: "O Principezinho da Mentirolândia"

Era uma vez um pequeno príncipe com orelhas de burro. O jovem tinha faltado muito às boas lições da vida e da sua Escola. E não tinha aprendido a ser verdadeiro, a contar as suas más acções, a fazer os trabalhos de casa e as contas de somar e multiplicar. Só aprendeu as de subtrair. Mas era muito truculento. Não parava de atirar as culpas para os outros meninos quando falhava.

E era muito valente. Sobretudo como os mais pequenos e fracos. Que fazia, que acontecia, que edificava, que mandava, que mandava e mandava sem fim. Ah! O valentão adorava a sua imagem, o espelho em que ela se passava continuamente na “Mentirolândia”. E dava-se em esbelta figura às lentes ampliadoras da sua excelência. Foi assim durante muito, muito tempo, anos imensos. Até que um dia a maré do Rio Grande da sua cidade começou a deitar por fora...

O Rio Grande tinha começado a sair do leito. E transbordou até aos arrais do Palácio do Principezinho. Que continuava sem ver a luz do dia que amanhecera diverso. "Não, não, que era aquilo. Era só o que faltava". O Rio tinha de ser remetido aos seus azimutes de mansidão. Podia lá ser. A torrente fora de si. Logo do Rio Grande de que ele tão desveladamente tratava há anos...

Espelho meu, espelho meu, existe alguém tão bondoso quanto eu? Vou ter de recomunicar a minha dialéctica principesca, pensou o excelso. Não é que nem o Rio se conformava, nem os barqueiros queriam embarcar na nau em que é mister Sua Senhoria. "Não, não poderá ser". "Hão-de escutar vozes do além-mar e terra". "Vou amplificá-las, pois são minhas intimidades portentosas e valiosíssimas".

Ei-las que se deram a ouvir. Radiosas, dessas “Europas”. Estão connosco, avalizam Sua Senhoria? É o que o Principezinho vai fazer constar. Que tem a salvação das almas que apascentou. Que é um defensor de mouros, de celtas, de iberos, de visigodos e até de judeus. Ave, Ave, jubila de novo o grande génio dos Montes Hermínios...

Ah! Traição ou malditos! Corifeus, infiéis, bárbaros! Não reclamam a vitória eminentíssima de Sua Alteza. Querem sangue? Volúpia de poder, querem-no? Nunca o terão, pois. Guerra é guerra. Às trincheiras cavaleiros da excelsa figura. Trompetas, megafones, ondas hertzianas, tudo vale de novo. Às vinte, ao norte e ao sul, ao leste e ao oeste!

Já se ouve a canção real. "Às vinte esperarei por si, você não faltará!"

José Pinto Correia, Economista

quarta-feira, 16 de março de 2011

MiseravelMente: A Crise da Mente Perversa!

A crise política está instalada. A mente perversa que se embebedou de poder armadilhou-se a si-mesma e a Portugal. Pensou, mal, muitíssimo mal, que era dona dos portugueses. Que não tinha de dar contas aos órgãos da democracia nacional. Fez tudo ao arrepio das regras da democracia política do regime. Deixou de ter consciência dos valores que matriciam a vida democrática e constitucional. Emborcou-se de ilusão, separou-se da realidade a que devia obedecer. Em inefável perversidade e contrariando o nome do regime e a soberania que reside sempre na Nação. A sofreguidão do poder cegou a “senhoria”. Tornou-se um novo “Rei Sol”, imaginou-se único detentor de todos e do mais que fosse. Quis manter-se a todo o custo. Não avaliou os “pormaiores” das suas decisões solitárias, apressadas, na volúpia insaciável de se afirmar como todo-poderoso. Instalou a crise política que a partir de hoje é indisfarçável e parte da agenda nacional. O homem passou todos os limites. Nem sequer deu conta do que tinha feito. Este modo de fazer as coisas é típico de uma personalidade democraticamente dúbia. Sem capacidade de tomar conta prévia das consequências destes actos completamente inaceitáveis e despropositados. Que não são de um verdadeiro democrata e de um socialista que preza a democracia como regime político a salvaguardar em todas as circunstâncias. Mas não nos enganemos, não embarquemos nos equívocos e nas truculências que aparentam ser completamente despropositadas. Não, não, tudo aponta para uma estratégia bem armadilhada e suicidária da Nação. A luta de vida ou morte na busca da minimamente provável sobrevivência do “Principezinho da Mentirolândia” fê-lo jogar tudo e todos. Acossado dentro e fora da fronteira o “Infalível” lançou-se uma desesperada luta contra o tempo e os tempos. E atirou a democracia para um buraco sem fundo nem retorno. Por tudo isto, que é tudo e o seu pior, o homem, o engenheiro intocável e independentíssimo de tudo e todos, tem de ir-se embora. Depois desta manobra colossal e imperdoável não pode haver quaisquer contemplações. Manter esta personagem no poder, qualquer que ele fosse, era desprestigiar definitivamente o regime democrático e menosprezar o significado inerente que nele têm as suas instituições fundamentais. Desde o Presidente da República, à Assembleia da República e aos partidos políticos que expressam, tanto quanto possível, a vontade dos eleitores. Declarada esta guerra à democracia e a Portugal pelo responsável principal desta fracassada governação que trouxe Portugal ao precipício económico, financeiro e social, a Nação vai ter proximamente de colocar um fim ao poder apodrecido do "Socratismo" e ao seu pequeno e irresponsabilíssimo fautor, por consequência! Miserável mente que tão longe foi no seu despropósito de exercer o poder que lhe fora confiado eleitoralmente por parte da Nação Portuguesa.

terça-feira, 15 de março de 2011

Partido Socialista: "Quo Vadis"?

O Partido Socialista foi fundado por homens e mulheres que acreditavam profundamente na democracia como regime e na liberdade como critério fundador do mesmo. E tinham ideias de solidariedade, coesão e justiça social, e também de equidade interclassista e geracional. Queriam mais equilíbrios sociais, melhores condições de vida e dignidade humanas. Mas respeitavam sempre os critérios básicos e as instituições da democracia. Nunca admitiram viver sem respeito pelas instituições basilares do regime democrático que tão custosamente ajudaram a pôr de pé em Portugal. Por tudo isto, que é matricial no espírito fundacional e nas práticas de muitos anos no PS, o que fez agora José Sócrates a Portugal é vergonhoso! E não só tem de ter como exige mesmo respostas políticas fortes no interior do PS, sobretudo de militantes históricos, que possam salvaguardar a legitimidade ideológica e democrática do Partido. Homens como Mário Soares, Ferro Rodrigues, Jorge Sampaio, Jaime Gama, Manuel Alegre ou João Cravinho. Ou mulheres como Maria de Belém, Ana Gomes, Maria Carrilho e outras. Todos estes militantes do PS têm para defender um património de ideais, de lutas, de actos e de valores democráticos que José Sócrates veio agora tristemente colocar em causa. Portugal vai precisar ao longo dos próximos anos, que serão social e economicamente duríssimos, de um Partido Socialista moralmente inatacável e cujo espírito democrático não possa ser questionável. O modo insólito e anti-democrático como José Sócrates se vem a comportar, apresentando factos consumados ao País e à Nação, negociados fora e com completo desprezo das nossas instituições democráticas, é inaceitável. “Isto” tem de ter a relevância e a indignação de todos aqueles que no PS se prezam de respeitar as regras da democracia política e se reclamam dos valores que inspiraram os seus fundadores. A democracia, o respeito pelo povo e a sua liberdade, e a dignidade das instituições do regime constitucional foram postas realmente em causa pelo comportamento inqualificável de José Sócrates. É chegado o tempo de um sobressalto militante no interior do PS que possa salvaguardar o espaço de afirmação do Partido nas soluções dificílimas que Portugal vai ter de encontrar nos anos que aí vêm. Se é que este PS ainda quer manter-se fiel à sua matriz fundadora, aos seus representados e ao seu ideário político. Ou seja: ao socialismo democrático e aos direitos democráticos dos portugueses!

José Pinto Correia, Economista

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Assistencialismo do Estado e a Liberdade Individual (Portugal exemplificado)

«O instrumento de colectivização preferido actualmente é o Estado Assistencial. Os colectivistas não abandonaram a sua meta final – subordinar o indivíduo ao Estado – mas a sua estratégia mudou. Aprenderam que o socialismo pode ser atingido através do Assistencialismo tão bem quanto através da Nacionalização. Compreendem que a propriedade privada pode ser confiscada tão eficazmente pela tributação quanto por expropriação. Compreendem que o indivíduo pode ser colocado à mercê do Estado não apenas tornando o Estado seu empregador – mas privando-o dos meios de prover as suas necessidades desde o berço até ao túmulo. Além disso, descobriram – e aqui está o ponto crítico – que o Assistencialismo é muito mais compatível com os processos políticos de uma sociedade democrática. A Nacionalização encontra oposição popular, mas os colectivistas sentem-se seguros de que o Estado Assistencial pode ser construído pelo simples expediente de comprar votos com promessas de hospitalização “gratuita”, proventos de aposentadoria “gratuitos” e por aí em diante. (…)

Não nos agrada essa mudança de estratégia. O Socialismo através do Assistencialismo cria um perigo muito maior para a liberdade do que o Socialismo através da Nacionalização, precisamente porque é mais difícil de combater. Os males da Nacionalização são evidentes por si próprios e imediatos. Os do Assistencialismo são velados e tendem a ser adiados. As pessoas são capazes de compreender as consequências da entrega da propriedade da indústria siderúrgica, digamos, ao Estado; e é possível contar que se oponham a tal proposta. Mas aumente o governo a contribuição para o programa de “Assistência Pública” e nós, no máximo, resmungaremos contra as despesas governamentais excessivas. O efeito do Assistencialismo sobre a liberdade será sentido mais tarde – após os seus beneficiários se terem tornado as suas vítimas, após a dependência em relação ao governo se ter tornado servidão e ser tarde de mais para abrir as portas da prisão. (…)

Consideremos as consequências para quem recebe assistencialismo. Em primeiro lugar, ele hipoteca-se ao governo (federal). Em troca dos benefícios – pelos quais, na maioria dos casos, ele paga – concede ao governo o máximo de poder político – o poder de conferir-lhe ou negar-lhe as coisas necessárias à vida, como o governo achar necessário. Ainda mais importante, porém, é o efeito sobre ele – a eliminação de todo o sentimento de responsabilidade pelo seu próprio bem-estar e pelo da sua família e dos seus vizinhos. É possível que um homem não compreenda imediatamente, ou nunca compreenda, o dano assim causado ao seu carácter. De facto, este é um dos grandes males do Assistencialismo – transformar o indivíduo de um ser espiritual digno, industrioso, auto-confiante, numa criatura animal dependente sem o saber.»

Barry Goldwater, “The Conscience of a Conservative”, 1963. Texto retirado e adaptado do BLOG Blasfémias.

Sete, Setenta e Cinco!

Olha o leilão. Quem quer, quem quer? Venham cá fregueses. Sete, vírgula, setenta e cinco! É para o menino, para o moço, para o mais janota dos janotas, e para o Algarve e para o Minho.

Vale muito, vale pouco? Serve para viver, para sobreviver, para empobrecer, para remanescer, para desaparecer?

Que importam lá essas pequeninas coisas: do viver com dignidade, da vontade de viver com sonhos, de querer outra realidade, outros futuros, novas conquistas e ambições.

O que tem de ser tem toda a força! Sobrevivência mesmo é a da engenharia que governa. Ou melhor: da que ainda insiste em dizer que governa.

Porque de facto essa mesma maquinação só já lá está sentada nas cadeiras, à espera que lhe saia uma sorte que não controla. Mas que deseja profundamente. A de que lhe saia o Euromilhões, o prémio grande, aquele que dá quase tudo para tudo e o mais que for.

Esse jogo grande dos meninos que mandam e têm como mandar joga-se lá para Berlim, e Frankfurt, e talvez até um pouco em Bruxelas e Paris.

Mas tem de se ter cuidado para não espantar a caça, a guarda do tesouro, a Dona da casa-forte.

O ouro é de lei e serve para manter aqui esta velha lei, aquela que vem de há anos. E que quer permanecer, ficar, manter-se, reproduzir-se, estatizar-se ainda mais, se tal ainda for possível.

Querem saber mais alguma coisa? O que vai ser “o dia depois”, o que se segue à roleta em que o “maestro-jogador” está a jogar?

Nem perguntem, não há nem pode haver boas e certas respostas. Para que serviriam essas indagações segundo os cânones regentes?

Desviariam a acção, a muita reactividade, a permanente agitação do condutor. Não é nada necessário saber aonde nos vai levar a “excelsa figura”. Vamos, vamos, corremos, voamos, imparáveis. O que não se pode é ficar paralisado, amedrontado, quieto. Agitemo-nos pois, vençamos as resistências, cerremos fileiras, defendamos Portugal. Joguemos tudo no ataque, na traquinice, marchemos, marchemos ao som da marcha de guerra.

Venceremos, venceremos, com o homem que nos tem na mão! Legítimo, magnífico, imbatível, combatente infrene, um Maioral. Sigamos o líder que nos foi dado e cantemos alto o nosso hino. Contra os canhões, contra os abutres, contra os predadores, contra os que estão contra também, e muito, frontalmente.

Nada nem ninguém pode ter dúvidas. Vamos para vitória e sem paredes de vidro. Com Rosas, centos e centos de Rosas.

Aleluia. Glória, glória, Aleluia! Bem-haja a nossa bem-aventurança! Ainda havemos de ser um grande Portugal.

Seremos ou não seremos, essa nem é a questão. Está tudo tão claro, tudo tão magnificamente tratado. Corações ao alto…!

Notinha de Rodapé: Tomará posse o Senhor Presidente. Que tem um discurso para nós. Qual seja? O discurso do Rei esteve em voga ultimamente. Talvez possamos ter um “Presidente-Rei”. Hoje e nos meses seguintes num Palácio perto de si. Veremos ou não…?!

José Pinto Correia, Economista

quarta-feira, 9 de março de 2011

“O Coro dos Aflitos”

Anda para aí uma certa melodia encantatória, cantada a várias vozes, reconhecida e interessada no quase que provável desvario da Pátria. São senhores, grandes senhores, sempre plenipotenciários do regime de que nasceram e que serviram. E se serviram. Não só eles mas muitos mais, próximos, filhos, amigos, afilhados e enteados mesmo. Ei-los que descobriram as horas difíceis da Nação. Do seu Povo, de que agora tão denodadamente dizem ser queridos. Vivem angustiados nestas horas. São eles o nosso “Coro dos Aflitos”. Dos que se mostram em extremosa aflição. Quando aterram em Portugal ficam atemorizados. Já não há vida para além do défice nestes dias de penumbra para estas “Santas Almas”. A economia cheira mal e é pequenita e pobre e afinal merece atenção. Pode perder-se por estes tempos o faustoso diálogo com a civilização europeia e com outras por este caminho. Perder-se-ia o “diálogo das civilizações”? Embaraçante esta miseranda situação da Pátria. E surgiu do nada. Era tudo tão bom aqui há uns anitos. Não era? Faziam-se discursos redondos, oratórias infindas, dizia-se tudo e o mais. Entendível? Que importava, era preciso falar, sempre, carradas de palavras. “Mas ai de nós que agora isto é uma aflição”. Credo, vá de retro, esconjure-se, excremente-se a conjura que nos aflige! Juntemo-nos todos, montes de salvadores, se possível os que se conhecem. São bons, são conhecidos, jogam dentro dos círculos dos poderes visados, dos cultos, e melhor ainda, dos ocultos. Ah! Que coragem não é necessária para entoar este hino à salvação da Pátria. São assim os nossos aristocratas regimentais. Quando menos se espera vêm aventar as boas e saudáveis soluções. Enchamos Suas Senhorias de Rosas, muitas e muitas Rosas. Porque pão os novos profetas, os cantantes da aflição, já têm de sobra. Ai não que não têm…, depois de tantos anos a servirem desveladamente!

José Pinto Correia, Economista

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Ministro da Economia (ausente em parte incerta)!

Portugal atravessa momentos dificílimos. Tem fracas perspectivas de escapar a uma intervenção externa de apoio ao seu financiamento externo, está num clima económico de recessão, tem um modelo económico frágil e sem potencial de crescimento económico visível a prazo.

Tinha por tudo isto, por estas enormes limitações estruturais, óbvia necessidade de ter uma perspectiva nova e de médio prazo sobre o que podem e devem ser as suas apostas económicas, como será possível crescer mais, aumentar a competitividade dos seus sectores económicos expostos à concorrência internacional, como melhorar apreciavelmente a sua produtividade sectorial, e, ainda mais, como escolher novos investimentos produtivos na indústria ou na agricultura capazes de gerarem mais riqueza, exportações competitivas e empregos.

Enfim, Portugal tem extrema necessidade urgência no modo de definir uma adequada estratégia de crescimento económico, baseada no conhecido diagnóstico das nossas inúmeras fragilidades e insuficiências estruturais. Mas para isso teria, desde logo e em primeira prioridade, de ter um Ministro da Economia que estivesse na linha da frente dessas perspectivas, impulsionasse as empresas competitivas, facilitasse as discussões da estratégia e da selecção de novos investimentos produtivos, enfim fosse um real catalisador dos empreendedores que tivessem ou pudessem vir a ter projectos de criação de mais riqueza para o País.

Mas infelizmente no nosso actual Governo o Ministro da Economia anda desaparecido em parte incerta. Não se ouve, nem se faz ouvir. Está quieto e mudo. O Ministério não tem actuação visível no encontrar de verdadeiros e imprescindíveis caminhos e soluções para uma nova agenda de crescimento económico de que Portugal carece como mais eficaz instrumento de superação estrutural da sua gravíssima crise financeira e económica.

Todos sabemos que a nossa economia é frágil e pequena, mas também podemos acrescentar que essa insuficiência obriga a uma muito maior colaboração de todos os seus actores nesta situação de extrema dificuldade em sair de um ciclo de crescimento ridiculamente baixo que atravessou toda a última década.

São, por isso mesmo, necessárias boas estratégias sectoriais, bons projectos de investimento com apreciáveis rentabilidades e qualidade de produtos e preços competitivos, a eficaz e dinâmica cooperação entre empresas existentes e outras que nasçam, o fortalecimento das capacidades das associações empresariais, e uma muito boa ligação dos empresários aos serviços do Estado que apoiam a internacionalização das empresas nacionais.

E esta “empreitada estratégica” implicaria que o Ministro da Economia e o seu Ministério tivessem uma actuação ambiciosa, sem desfalecimento, com iniciativas contínuas de favorecimento da aproximação entre as boas empresas e os mercados interno e externo.

O que se exige do Ministério da Economia é uma atitude proactiva e ambiciosa em favor da projecção das actividades económicas existentes e de outras novas que possam querer surgir. E também a capacidade de apresentar “linhas de orientação estratégica” para que a economia portuguesa possa ganhar mais competitividade internacional, criar mais riqueza e expandir continuadamente o seu potencial económico.

Por isso mesmo, não se pode aceitar nem compreender a completa ausência do actual Ministro da Economia daquilo que deve ser um combate intrépido e prolongado pelo crescimento económico do País, o qual é indispensável para que se possa antever um futuro mais promissor, quer em termos de emprego quer de qualidade de vida para os portugueses de todas as gerações.

Faz muitíssima falta a Portugal nos tempos de extrema dificuldade e exigência que são os de agora um Ministro da Economia que seja capaz de liderar uma agenda forte e profunda de crescimento económico, e que mobilize as empresas e os seus empresários e representantes associativos em redor de uma verdadeira estratégia de investimento produtivo que volte a apostar eficazmente nos sectores da indústria e da agricultura, considerando-os como os mais capacitados para promoverem quer as exportações de bens competitivos à escala internacional, quer mesmo a substituição de importações que actualmente constituem parcela relevante do nosso endividamento externo.

José Pinto Correia, Economista

terça-feira, 1 de março de 2011

Estabilidade ou Legitimidade?

O novo estribilho situacionista, o cântico dos mandadores falidos, é o de apelar à estabilidade aos quatro ventos e a plenos pulmões. Tudo ficaria bem se os mesmos de ontem, fazendo o mesmo de todos os dias, ficassem sentados nas cadeiras do poder. Não, que não, dizem eles, os portugueses têm de ficar sentadinhos à espera das grandiosas decisões e encomendas da gesta governamental. A começar pelo seu respeitadíssimo e legitimadíssimo “Maestro”. Porque sabe-se que os eleitores votaram em 2009, deram os votos aos nossos mandadores, e agora até à exaustão, façam eles o que quiserem ou não façam o que não fizerem, têm de ser levados em ombros até ao fim do seu tempo. É este o pequenino sentido dado à democracia. Isto é, uma vez depositados os votos vale tudo até ao fim. O bom e o mau, o branco e o preto, o dinheiro e a sua falta, as promessas e os desmentidos, os subsídios e a falta deles, o crescimento e o crescimento negativo (este último constitui a grande rota da nova matemática/aritmética governativa), a vontade de agradar e a retirada de tudo e mais alguma coisa. Tudo e o mais e menos e o seu contrário é feito em nome dos mesmos votos de ontem, e da salvação da boa populaça que votou que os mandadores dizem representar. Que são as crises externas, as circunstâncias, as indefinições europeias, aquela senhora lá da Alemanha, os abutres da dívida, todos esses grandes e malfadados malfeitores, que impedem que o Senhor Engenheiro faça aquilo que levou no seu Programa a votos. Por todos estes maléficos, o nosso “Maestro” é obrigado a refazer os seus compromissos, faz e desfaz, não cumpre, falseia, desvincula-se, tergiversa, encena contradições, contabiliza centésimas, mas fica alegre e dinâmico, corajoso, intrépido, voluntarioso, no seu posto residencial. Por isto tudo, por tanta ousadia, pela valentia dos afrontamentos duros, pelo escrupuloso respeito dos votos, a excelsa figura reclama estabilidade. E serenidade, acatamento, passividade, lassidão, modorra. Tudo em nome da santíssima estabilidade. E a legitimidade, a confiança, a credibilidade, a responsabilidade? A situação de tragédia, a encruzilhada das desventuras, das misérias, e dos desempregos, e da falta de esperança nos dias que virão, a quem incumbem? E a legitimidade é o quê? Que valem a palavra dada, a honradez, o carácter, os compromissos assumidos? Nada? Não, não, a estabilidade já não existe hoje depois de tanta falsidade. Nem a própria legitimidade, por falta continuada de cumprimento das obrigações e dos compromissos assumidos perante os Portugueses. O que agora existe, de facto e de direito, é a necessidade de nos livrarmos de tanta mentira, desfaçatez, e desonestidade política e intelectual. Mudança é agora a nova palavra de ordem dos dias que estão para vir!

José Pinto Correia, Economista