O novo estribilho situacionista, o cântico dos mandadores falidos, é o de apelar à estabilidade aos quatro ventos e a plenos pulmões. Tudo ficaria bem se os mesmos de ontem, fazendo o mesmo de todos os dias, ficassem sentados nas cadeiras do poder. Não, que não, dizem eles, os portugueses têm de ficar sentadinhos à espera das grandiosas decisões e encomendas da gesta governamental. A começar pelo seu respeitadíssimo e legitimadíssimo “Maestro”. Porque sabe-se que os eleitores votaram em 2009, deram os votos aos nossos mandadores, e agora até à exaustão, façam eles o que quiserem ou não façam o que não fizerem, têm de ser levados em ombros até ao fim do seu tempo. É este o pequenino sentido dado à democracia. Isto é, uma vez depositados os votos vale tudo até ao fim. O bom e o mau, o branco e o preto, o dinheiro e a sua falta, as promessas e os desmentidos, os subsídios e a falta deles, o crescimento e o crescimento negativo (este último constitui a grande rota da nova matemática/aritmética governativa), a vontade de agradar e a retirada de tudo e mais alguma coisa. Tudo e o mais e menos e o seu contrário é feito em nome dos mesmos votos de ontem, e da salvação da boa populaça que votou que os mandadores dizem representar. Que são as crises externas, as circunstâncias, as indefinições europeias, aquela senhora lá da Alemanha, os abutres da dívida, todos esses grandes e malfadados malfeitores, que impedem que o Senhor Engenheiro faça aquilo que levou no seu Programa a votos. Por todos estes maléficos, o nosso “Maestro” é obrigado a refazer os seus compromissos, faz e desfaz, não cumpre, falseia, desvincula-se, tergiversa, encena contradições, contabiliza centésimas, mas fica alegre e dinâmico, corajoso, intrépido, voluntarioso, no seu posto residencial. Por isto tudo, por tanta ousadia, pela valentia dos afrontamentos duros, pelo escrupuloso respeito dos votos, a excelsa figura reclama estabilidade. E serenidade, acatamento, passividade, lassidão, modorra. Tudo em nome da santíssima estabilidade. E a legitimidade, a confiança, a credibilidade, a responsabilidade? A situação de tragédia, a encruzilhada das desventuras, das misérias, e dos desempregos, e da falta de esperança nos dias que virão, a quem incumbem? E a legitimidade é o quê? Que valem a palavra dada, a honradez, o carácter, os compromissos assumidos? Nada? Não, não, a estabilidade já não existe hoje depois de tanta falsidade. Nem a própria legitimidade, por falta continuada de cumprimento das obrigações e dos compromissos assumidos perante os Portugueses. O que agora existe, de facto e de direito, é a necessidade de nos livrarmos de tanta mentira, desfaçatez, e desonestidade política e intelectual. Mudança é agora a nova palavra de ordem dos dias que estão para vir!
José Pinto Correia, Economista
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